Amor próprio: porque é tão importante?

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O amor próprio diz respeito ao amor que temos por nós mesmos, ao sentimento de estima relativamente ao próprio. É um sentimento extremamente importante que serve de base ao nosso bem-estar e felicidade, bem como à nossa capacidade de estabelecermos relações saudáveis e funcionais com os outros. De facto, desenvolvermos o amor próprio é o desafio mais importante da nossa vida.

Neste artigo pretendemos explorar o que é o amor próprio, porque é um sentimento tão complexo e como podemos desenvolver o nosso amor próprio.

O que é o amor próprio?

Amor próprio é aparentemente um conceito básico e simples: amar o próprio. No entanto, por detrás deste conceito existe toda uma complexidade, além de ser um conceito muitas vezes incompreendido. Muitas vezes é visto como ideologia ou filosofia, quando no fundo é um sentimento, algo interno e inerente a qualquer ser-humano. O amor próprio é a base essencial para a sua autoestima, para ser um ser-humano mais equilibrado e integrado.

Muitas vezes confundimos amor próprio ou autoestima com presunção, mas nada mais longe da verdade! O amor próprio é equilibrado e ameno, e dependente dos nossos comportamentos e ações. Pense por exemplo em alguém que ama: ama essa pessoa independentemente dos seus defeitos ou falhas, no entanto se ela tiver constantemente comportamentos errados consigo, se lhe falhar, se o/a magoar, esse amor vai esmorecer, certo?

O mesmo se passa com o amor próprio, este não depende apenas de emoções e pensamentos, passa também por ações e comportamentos. Aquilo que fazemos e o quanto os nossos comportamentos estão de acordo com os nossos princípios e objetivos, é fundamental para o nosso amor próprio.

O amor próprio é também uma base fundamental para amarmos alguém, para as nossas relações afetivas com os outros. Não podemos amar alguém sem conseguirmos primeiro experimentar amor por nós próprios. Quando o amor próprio falha, é muito mais provável que nos deixemos envolver em relações disfuncionais ou até abusivas.

Assim, ter amor próprio não tem nada que ver com narcisismo ou presunção, nem com arrogância. Trata-se de liberdade: liberdade de se conhecer a si mesmo/a e ser capaz de amar quem é. A capacidade de exercitarmos o amor próprio torna a nossa vida mais equilibrada, uma vez que acreditamos nas nossas capacidades e no nosso potencial.

A presença do amor próprio permite uma maior estabilidade, uma vez que perseguimos objetivos que são relevantes para nós e não dependemos tanto de forças externas e da validação exterior para nos validarmos a nós mesmos. Tornamo-nos menos instáveis e menos voláteis, bem como mais autónomos.

Amor próprio e autocuidado

Como vimos, o amor próprio não é um sentimento inato que sentimos independentemente do que aconteça ou das nossas ações. Assim, ele depende em larga medida dos nossos comportamentos, hábitos e ações.

Deste modo, o amor próprio está intrinsecamente ligado ao autocuidado. Quando amamos alguém, cuidamos dessa pessoa, certo? Da mesma forma, para nos amarmos a nós próprios temos de cuidar de nós.

O autocuidado diz respeito às ações e comportamentos que temos que nos permitem cuidar do nosso bem-estar de forma íntegra. Deste modo, existem diferentes formas de autocuidado:

  • Autocuidado físico: diz respeito ao cuidado que temos com o nosso corpo, que é o nosso templo, a nossa casa. Desta forma, cuidar do nosso corpo é cuidarmos de nós e mostrarmos apreço pelo corpo em que habitamos. Algumas formas de autocuidado físico são praticar exercício físico, descansar, ter bons hábitos de sono, ter uma alimentação equilibrada e respeitar os seus sinais de fome e saciedade…
  • Autocuidado emocional: corresponde ao cuidado que temos com as nossas emoções e com o nosso estado emocional interno. Muitas vezes ignoramos ou desvalorizamos aquilo que estamos a sentir, culpamo-nos por nos sentirmos de determinada forma ou reprimimos as nossas emoções. Tudo isto podem ser formas de maltrato para connosco mesmos. O contrário será, então, o autocuidado emocional: ser atento às suas emoções, procurar identificá-las e compreendê-las, bem como aprender a geri-las de uma forma saudável e equilibrada;
  • Autocuidado social: o ser-humano é um ser social e, como tal, precisa de outras pessoas, precisa de viver em sociedade. Assim, os laços que estabelecemos com outras pessoas são fundamentais para o nosso bem-estar. No entanto, devemos cuidar das nossas relações e também sermos, de certa forma, seletivos com as mesmas. Isto significa que o autocuidado social diz respeito a identificarmos as relações que nos fazem mal e afastarmo-nos delas, bem como identificarmos as que nos fazem bem e cultivarmo-las;
  • Autocuidado intelectual: a nossa mente, tal como o nosso corpo, precisa de estímulo. Assim, o autocuidado intelectual ou mental diz respeito ao cuidado com a nossa mente, a proporcionarmos a nós mesmos experiências e desafios que nos permitam desenvolver o nosso raciocínio, os nossos conhecimentos, a nossa capacidade de descoberta.

Porque parece ser difícil desenvolver o amor próprio?

De certeza que já teve momentos em que se recriminou, em que se culpou, em que disse coisas desagradáveis a si mesmo/a. Estes momentos fazem-nos pensar sobre porque será tão difícil desenvolvermos o amor próprio e mantermos um sentimento relativamente constante de apreço por nós próprios.

Esta dificuldade pode ter origem em razões muito variáveis e depende bastante de pessoa para pessoa. No entanto, algumas razões gerais podem ser identificadas:

  • Experiências adversas ou traumáticas no passado fazem-nos formar crenças e pressupostos negativos acerca de nós mesmos – “não sou capaz”, “não sou merecedor de amor” …;
  • A nossa sociedade cultiva uma necessidade constante para ser feliz, como se fosse mau estar triste ou sentir emoções menos agradáveis. Esta busca desenfreada por uma felicidade constante faz-nos muitas vezes sentir frustrados por não a conseguir;
  • A perceção que muitas vezes temos de que a felicidade é alcançada através de bens externos – comprar um carro, uma casa, etc – também prejudica o nosso amor próprio e gera sentimentos de frustração e fracasso;
  • Padrões de pensamento pessimista, que muitas vezes cultivamos desde cedo na vida, são também inimigos do amor próprio;
  • O facto de vivermos numa sociedade marcada pelas redes sociais, onde parecem existir “padrões” ideais de tudo (corpo perfeito, vida perfeita, modo de estar perfeito, sentimentos perfeitos…) faz com que exista uma pressão exagerada para sermos de determinada maneira e, quando não conseguimos, vem a frustração e a culpa, que atacam o amor próprio;
  • As mensagens que recebemos desde cedo de que devemos atingir determinadas coisas, devemos alcançar determinadas metas, mesmo que muitas vezes não sejam relevantes para nós, também nos atiram para uma corrida sem sentido por algo que não nos vai satisfazer, o que prejudica o nosso amor próprio;
  • Acharmos que o amor próprio é algo inato e natural, que temos de sentir, e que não temos de fazer nada para o desenvolver e preservar, é um inimigo para o conseguirmos fazer efetivamente;
  • O facto de nos boicotarmos a nós próprios, por exemplo evitando enfrentar desafios por receio de falhar, nem sequer tentando. Outra forma de boicote é a dependência emocional, quando dependemos demasiado do outro e o colocamos acima de nós mesmos;
  • Estarmos frequentemente em modo de autocrítica, de queixume e de reclamação. O modo como falamos connosco é fundamental e determinante para o nosso amor próprio (ou falta dele).

Porque é que o amor próprio é tão importante?

O amor próprio é extremamente importante porque ele permite-nos assumir um maior e mais consciente controlo da nossa vida. Sem amor próprio, será difícil sermos capazes de assumir os nossos erros, responsabilidades e, consequentemente, de termos motivação para a mudança. Por conseguinte, o amor próprio é fundamental para a nossa felicidade e equilíbrio.

É o amor próprio que nos permite ter a perceção do que nos faz bem e do que nos faz mal e investirmos no nosso autocuidado e no nosso desenvolvimento pessoal.

Sem amor próprio, não conseguimos estabelecer hábitos de vida saudáveis nem ter e manter relações positivas e satisfatórias com os outros. A falta de amor próprio é o que nos faz muitas vezes mendigar amor ou afeto, ou investi-lo no lugar errado. O amor próprio afasta-nos da carência excessiva e aproxima-nos da liberdade e equilíbrio afetivo.

Além disso, o amor próprio é base para o autoconhecimento, para nos querermos conhecer melhor a nós próprios, às nossas emoções, comportamentos, objetivos…

Quando temos amor próprio, somos mais capazes de lidar com as dificuldades que nos surgem na vida e, portanto, somos mais resilientes.

Como desenvolver o amor próprio?

1. Fazer as pazes com o passado

É do nosso passado que vêm muitos dos traumas, experiências e situações que criaram pensamentos e crenças negativos e disfuncionais. Assim, muitas vezes as raízes das nossas dificuldades no que diz respeito ao amor próprio estão no passado.

Deste modo, é importante visualizarmos a nossa história como uma narrativa, que se baseia em acontecimentos, e não fazermos juízos de valor daquilo que nos aconteceu. É importante olharmos para conflitos não resolvidos, fazermos o luto de relações perdidas, de frustrações, lidando com mágoas ou ressentimentos, deixando ir e abrindo mão do que já não nos acrescenta. Aceite o que aconteceu, sem fazer julgamentos, perdoe quem tiver de perdoar e foque-se nos objetivos para o presente e para o futuro. Pode aprender com o passado, mas procure não ficar demasiado focado nele.

2. Cuidar das relações sociais

Não somos seres autossuficientes, precisamos de outras pessoas e vivemos em sociedade. As relações que temos com os outros são um fator extremamente importante na forma como nos sentimos também em relação a nós próprios.

Isto significa que é importante sermos cuidadosos com as nossas relações, afastando-nos daquelas que nos fazem mal ou que nos puxam para baixo, e investindo naquelas que nos acrescentam e fazem bem.

3. Cuidar do diálogo interior

Um diálogo interior negativo, constantemente marcado por pensamentos destrutivos, não ajuda no nosso amor próprio. Por isso, é importante pensarmos na mente como um jardim. Não permitira que alguém pisasse e estragasse o seu jardim, pois não? Faça o mesmo com a sua mente: cuide dos seus pensamentos, regue os padrões cognitivos realistas e procure gerir, questionar e reestruturar o seu modo de pensar.

Para cuidarmos dos nossos pensamentos é importante que estejamos atentos a eles e capazes de os questionar. Vai ter uma reunião importante e está a pensar que de certeza vai correr mal? Questione-se: tenho a certeza disso? Consigo adivinhar o futuro e saber como vai correr a reunião? Eu preparei-me para a reunião? Qual é o pior que pode acontecer? Como posso lidar com isso?

4. Definir objetivos

Definir objetivos é muito importante para o nosso amor próprio. São os nossos comportamentos e ações que nos vão fazer sentir melhor em relação a nós mesmos. Por isso, se tiver objetivos definidos, que sejam realistas, específicos e mensuráveis, vai ser mais fácil ser ativo na concretização dos mesmos, e, por sua vez, incrementar o seu sentido de competência e bem-estar. É importante que tenha sempre objetivos, nem que sejam pequenos objetivos como “beber pelo menos 1,5l de água diariamente” ou “aperfeiçoar o meu nível de inglês”.

5. Identificar e desenvolver os pontos fortes

Muitas vezes estamos tão focados nas coisas negativas que não nos damos conta das boas, dos nossos pontos fortes. Assim, é importante, para desenvolver o seu amor próprio, que consiga identificar os seus pontos fortes: o que faço bem? o que tenho jeito para fazer? que características são positivas em mim? o que me diferencia dos outros pela positiva?

Invista a sua energia nas coisas que domina ou que tem de positivo e desenvolva-as, procurando sempre alcançar o seu potencial. Não despenda energia naquilo que não lhe dá prazer e que não “é para si”, mas sim naquilo que sabe que pode concretizar e onde pode melhorar e aprimorar-se.

6. Praticar a gratidão

A gratidão é uma prática excelente para o nosso amor próprio, pois faz-nos estar mais atentos e cientes dos aspetos positivos da nossa vida. Por isso, procure refletir todos os dias, ao acordar ou ao deitar, das coisas pelas quais está grato na sua vida. O que correu bem no meu dia? O que me fez sentir feliz hoje? O que tenho a agradecer? Que coisas consigo fazer e sentir?

7. Cultivar hábitos saudáveis

Já vimos anteriormente que o autocuidado é imprescindível para o amor próprio. Por isso, é importante que adote hábitos saudáveis e que abandone hábitos que não lhe fazem bem. Invista em si e no seu autocuidado nos diversos níveis: pratique exercício físico, tenha uma alimentação equilibrada, honre o seu corpo e aquilo que ele precisa, cuide das suas relações, defina objetivos diários ou semanais, priorize o seu tempo livre e os hobbies dos quais retira prazer, estimule a sua mente, aceite desafios…

8. Aprender a dizer “não”

Muitas vezes temos dificuldade em dizer “não”, acabando por submetermo-nos às vontades dos outros, não respeitando as nossas próprias vontades. Muitas vezes dizemos que “sim” apenas por medo de desagradar a outra pessoa ou de sermos rejeitados. Pelo bem do seu amor próprio, é importante quebrar este padrão. Supere o desconforto de dizer “não”, e aprenda que muitas vezes dizer “não” ao outro é dizer “sim” a si próprio.

9. Priorizar necessidades em vez de desejos

Amor próprio não é sinónimo de satisfazermos todos os desejos que tenhamos, até porque muitos deles são temporários, impulsivos ou irrealistas. Amor próprio significa respeitar-se e conhecer-se o suficiente para saber o que é melhor para si. Controle a sua impulsividade e procure guiar as suas ações e decisões pelos seus objetivos e necessidades: o que quero? o que é importante para mim? esta decisão está de acordo com os meus valores e princípios?

10. Parar com as comparações

A tendência para nos compararmos com os outros ou com um determinado padrão é o que aniquila muitas vezes o nosso amor próprio. Assim, se queremos desenvolver o nosso amor próprio, é fundamental pararmos com este hábito, compreendendo que todos somos diferentes, que a vida das outras pessoas não é a sua, o corpo dos outros não é o seu, os objetivos dela não são os seus. E está tudo bem com isso. Priorize o que é importante para si e reconheça as suas potencialidades e os seus limites. Compare-se apenas consigo mesmo e com aquilo que já atingiu e que ainda quer atingir.

11. Não esperar que toda a gente goste de si

Este é um dos maiores problemas na autoestima e no amor próprio – a sede por validação externa, a vontade de agradar as outras pessoas acima de todas as coisas. É uma aprendizagem difícil, mas pelo bem do seu amor próprio, precisa de aceitar que vai haver pessoas que vão gostar de si, e outras não. É esta a realidade. Assim como algumas pessoas gostam de queijo, e outras não, também algumas pessoas gostarão mais ou menos de si. É o fator natural de sermos todos diferentes e livres, e ainda bem. Não espere que os outros gostem de si para gostar de si mesmo!

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.