Uma dor aguda, por vezes incapacitante, que impede a mulher de se levantar da cama e encarar as tarefas do dia a dia. Quem já sentiu estes sintomas, sabe certamente do que estamos a falar.
As cólicas menstruais acontecem durante o período menstrual e afetam entre 50% a 90% das mulheres em idade fértil. A dor, localizada na região inferior do abdómen, cuja intensidade pode variar de leve a intensa – neste último caso, impacta diretamente na qualidade de vida e, também, na produtividade das mulheres (que por vezes precisam de lidar com a incompreensão de terceiros – como chefes e parceiros – quando estes sinais se manifestam).
Se se identificou com os sintomas e quer saber mais sobre as cólicas menstruais, o que são, porque acontecem e como as evitar, então não deixe de ler este artigo onde esclarecemos as principais dúvidas acerca deste assunto tão importante, mas que infelizmente, nem sempre é tratado com a seriedade que merece.
O que são as cólicas menstruais e porque surgem?
Embora seja objeto de estudo de inúmeras pesquisas em redor do globo, as cólicas menstruais ainda não foram totalmente explicadas pela ciência, visto que nem todas as causas e mecanismos são conhecidos. O que se sabe é que, possivelmente, são provocadas pelo excesso de contrações uterinas, que podem acontecer desde horas antes da menstruação até os dois primeiros dias do ciclo.
Ademais, é sabido que o aumento das prostaglandinas – substâncias químicas que se assemelham a hormonas e estão envolvidas no tratamento de lesões e doenças – intensifica um processo inflamatório e a intensidade das contrações uterinas, sobretudo nas mulheres que relatam queixas mais importantes. Estas, via de regra, sofrem com sangramentos intensos ou de longa duração.
Outros fatores que têm sido associados a menstruações dolorosas incluem o tabagismo, o baixo peso corporal, idade inferior a 30 anos e infeção pélvica.
Dito isto, é importante referir que as cólicas menstruais podem ser primárias ou secundárias. A dismenorreia primária, isto é, a menstruação dolorosa, é a dor causada pela própria menstruação. Quanto à dismenorreia secundária, esta é provocada por condições subjacentes, tais como a endometriose ou adenomiose.
Apesar da gravidade, muitas vezes essas dores são negligenciadas ou tratadas deficientemente, visto que muitas mulheres não falam sobre isso com o médico. Todavia, é preciso mudar este comportamento e relatar os níveis de dor a um profissional de saúde, a fim de que este possa solicitar exames para identificar possíveis doenças por trás das cólicas menstruais.
Como aliviar as cólicas menstruais?
Caso as suas menstruações sejam intensas, irregulares e extremamente dolorosas, é fundamental que consulte um médico, nomeadamente, um ginecologista, para que investigue as possíveis causas que desencadeiam as cólicas menstruais.
Ademais, incluir alguns hábitos na sua rotina e mudar antigos comportamentos nocivos podem trazer mais qualidade de vida e minimizar os impactos provocados pela dismenorreia. Conheça agora uma lista de cuidados que poderá ter, em casa, para aliviar o mal estar:
1. Calor local
Bolsas de borracha ou em gel, água quente do chuveiro ou até mesmo um pano quente sobre o abdómen ou na região lombar ajudam a aliviar a dor causada pelas cólicas menstruais. O calor promove a vasodilatação, o que ativa o fluxo sanguíneo, inibe os efeitos das prostaglandinas e ativa endorfinas capazes de amenizar o desconforto.
Outra opção é fazer um “banho de assento” quente com chá de aroeira, cavalinha e salsa por dez minutos, medida que aquecerá o local e permitirá que o fluxo aconteça sem interrupções (o arrefecimento pode gerar coágulos, o que dificulta a saída e gera contrações dolorosas).
2. Aposte nos chás
Gosta de chás? Se sim, saiba que são excelentes alternativas para atenuar as dores causadas pelas cólicas menstruais. Entre as opções que apresentam efeitos antiespasmódico, analgésico, relaxante, calmante e anti-inflamatório estão o:
- Chá de camomila;
- Chá de erva-doce (ou funcho);
- Chá de hortelã;
- Chá de lavanda;
- Chá de agoniada;
- Chá de alecrim;
- Chá de algodoeiro;
- Chá de hortelã.
Prepare a infusão e, de preferência (e se possível) repouse, pois o seu corpo precisa de descansar para ativar os efeitos benéficos da bebida.
3. Mergulhe os pés numa bacia com água quente
Esta é uma técnica que as nossas avós já faziam e que pode ser bastante eficiente no tratamento das cólicas menstruais. O método segue a mesma ideia do calor no ventre, ou seja, ativar as endorfinas que minimizam as dores.
Num recipiente, coloque, até à altura dos tornozelos, água morna/quente, tomando o cuidado de manter a temperatura por volta dos 37° (o que evitará lesões na pele), e adicione algum chá, óleo essencial ou erva aromática da sua preferência, a fim de potenciar o relaxamento.
Caso queira estimular pontos que se localizam nas plantas dos pés, adicione bolas de berlinde ou pedrinhas arredondadas para massagear.
4. Tenha cuidado com a alimentação
Alguns especialistas referem que uma dieta com pouca gordura, pobre em sódio e em consumo de leite pode ajudar a diminuir as cólicas menstruais. A ausência do cálcio (encontrado no leite) nas células musculares podem causar excitação das fibras musculares, ativando a dor. Desta forma, investir numa dieta rica em cálcio pode amenizar os incómodos durante o período menstrual.
Além disso, inclua alimentos quentes na sua alimentação, como chás e sopas, e evite saladas em excesso e alimentos gelados, como gelados. A orientação vem da medicina tradicional chinesa, que acredita que os alimentos crus ou frios podem manter a energia dos canais da região do abdómen estagnadas, o que pode agravar as dores.
Ademais, existem outras orientações acerca da alimentação que podem diminuir as dores causadas pelas cólicas menstruais. Confira mais dicas:
- Aumente a ingestão de água;
- Evite chocolate, café, açúcar, sal e álcool;
- Dê preferência aos vegetais verdes escuros, carnes e cereais integrais, fontes de vitamina do complexo B, que reduzem o inchaço e a vontade de comer doces;
- Consuma alimentos fontes de ómega 3, como o salmão, o atum e a linhaça, que ajudam no humor e evitam a acne e a celulite;
- Inclua oleaginosas na alimentação, como castanhas e nozes;
- Aumente a ingestão de fibras, a fim de ativar o intestino e melhorar a saciedade;
- Invista em alimentos com propriedades energéticas, antioxidantes e anti-inflamatórias, como a(o):
5. Elimine o tabaco da sua vida
Já foi cientificamente comprovado que as mulheres que fumam sofrem mais de cólicas menstruais, tanto em quantidade quanto em intensidade. Isso ocorre porque o tabaco aumenta o nível de substâncias inflamatórias circulantes no organismo, piorando as cólicas. Diante disso, evite fumar, pois este hábito pode potenciar as dores.
6. Pratique exercício físico
Praticar atividades físicas no período menstrual pode melhorar bastante a sensação das cólicas, sobretudo por causa da elevação da temperatura do corpo. Foi o que demonstrou um estudo conduzido por investigadores da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Nápoles, em Itália, em adolescentes.
Na fase menstrual, os exercícios físicos mais indicados são aqueles que trabalham a respiração e o relaxamento, como a caminhada, o yoga, o pilates e os alongamentos.
Contudo, como em tudo, evite abusar; respeite o seu corpo e os seus limites, e escolha a atividade ideal para cada etapa da menstruação. Confira algumas dicas:
- Fase pré-menstrual (fase da TPM): prefira treinos aeróbicos, que causam liberação de endorfinas e melhoram o humor. Exemplos: corrida, caminhada, natação, ciclismo;
- Fase da menstruação: prefira caminhadas, yoga, pilates e alongamento e evite treinos aeróbicos extenuantes;
- Fase pós-menstrual: durante esta etapa, aproveite para realizar treinos mais intensos e de cargas altas.
7. Descanse
A mulher moderna sofre com uma rotina stressante, longe de hábitos saudáveis e do contato com a natureza, privações que diminuem a qualidade de vida e contribuem para o aumento das contrações dolorosas durante o período menstrual.
Por isso, é fundamental descansar, visto que o repouso do corpo (principalmente quando a mulher dorme) reestabelece o equilíbrio orgânico, permitindo que o organismo reponha as reservas de proteínas e enzimas gastos durante o dia.
Assim, descansar, evitar situações de stress e dar prioridade a um estilo de vida saudável são comportamentos que reduzem a intensidade das cólicas menstruais.
Autocuidado e cólicas menstruais
Conversar sobre as suas cólicas menstruais com o seu médico ginecologista é essencial, principalmente quando estas forem tão dolorosas que não são amenizadas pelas técnicas sugeridas neste artigo ou por outra via.
Não permita que as dores afetem a sua produtividade no trabalho, nos estudos e demais atividades do quotidiano. Saber-se posicionar sobre a própria dor perante os médicos ajudará a sentir validação e a receber o tratamento que precisa. Não descuide a sua saúde, priorize o seu bem-estar sempre!