Ejaculação precoce: o que é, graus, causas e tratamento

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A ejaculação precoce é uma das disfunções sexuais mais comuns nos homens. Devido ao estigma e preconceito que por vezes ainda existe, muitas vezes os homens que apresentam este problema do foro sexual adiam a procura de ajuda, por sentimentos de vergonha ou mitos e preconceitos associados à ejaculação precoce.

Tal como qualquer outra disfunção sexual, a ejaculação precoce pode ser tratada e o tratamento será tanto mais eficaz quanto mais atempado for. Neste artigo pretendemos explicar o que é a ejaculação precoce e qual o tratamento.

O que é a ejaculação precoce?

A ejaculação precoce ocorre quando há ejaculação com uma estimulação sexual mínima, que pode ser antes, no momento ou logo após a penetração ou antes do esperado e desejado pelo indivíduo. É um transtorno frequente, sendo que 36 a 38% dos homens na população geral podem apresentar ejaculação precoce. Cerca de 20 a 30% dos homens com idades compreendidas entre os 18 e os 70 anos apresentam preocupações relativas à rapidez da ejaculação.

Assim, a ejaculação precoce ou ejaculação prematura caracteriza-se por um padrão recorrente ou persistente de ejaculação que acontece durante a atividade sexual com a/o parceira/o dentro de aproximadamente um minuto após a penetração e antes do momento desejado pelo indivíduo. Para que seja feito um diagnóstico de ejaculação precoce, os sintomas devem estar presentes pelo menos há seis meses e devem ocorrer em todas ou quase todas as situações de atividade sexual (entre 75 a 100% das situações).

A ejaculação precoce pode ocorrer ao longo da vida, se esteve presente desde que o homem se tornou sexualmente ativo ou, por outro lado, pode iniciar-se após um período em que a função sexual esteve relativamente normal, tratando-se assim de uma ejaculação precoce adquirida. Podemos distinguir ainda entre ejaculação precoce generalizada, que não se limita a determinados tipos de estimulação, parceiros ou situações, e ejaculação precoce situacional, que ocorre apenas em determinados tipos de situação.

Relativamente à gravidade, a ejaculação precoce pode ser:

GrauCondição
LeveCaso ocorra dentro de aproximadamente 30 segundos a 1 minuto após penetração.
ModeradaSe ocorrer dentro de aproximadamente 15 a 30 segundos após penetração.
GraveCaso aconteça antes da atividade sexual, no início da atividade sexual ou dentro de 15 segundos após a penetração

Muitos dos homens com ejaculação precoce indicam uma sensação de falta de controlo sobre a ejaculação, demonstrando apreensão relativamente à incapacidade prevista para atrasar a ejaculação em futuras atividades sexuais.

Assim, a característica essencial da ejaculação precoce parece ser a ausência de controlo voluntário sobre o reflexo de ejaculação. A razão pela qual há dificuldade no controlo ejaculatório pode estar associada à falta de feedback sensorial necessário ao controlo de qualquer função reflexa. Aprender a ter controlo ejaculatório é semelhante à aprendizagem do controlo de outras funções biológicas que envolvem descarga reflexa, como por exemplo o controlo da bexiga.

O homem com ejaculação precoce pode não compreender claramente as sensações premonitórias do orgasmo, isto é, não ter o controlo regulador das influências dos nervos superiores.

Como surge e se desenvolve a ejaculação precoce?

Não existindo causas únicas, alguns fatores de risco podem estar associados à ejaculação precoce. Devemos ter em conta que a ejaculação precoce é um transtorno psicossomático, pelo que na sua origem estão quer fatores biológicos, quer fatores psicológicos.

A nível genético e fisiológico, parece existir uma contribuição genética moderada para esta disfunção sexual ao longo da vida. A ejaculação precoce pode estar associada a polimorfismos do gene do transportador de dopamina e do gene do transportador de serotonina. Condições de saúde como doença da tiroide, abstinência de drogas ou prostatite podem estar também associadas à ejaculação precoce adquirida.

A nível psicológico, a ejaculação precoce parece ser mais comum em homens que apresentam transtornos de ansiedade, sobretudo ansiedade ou fobia social. Também a depressão é um fator de risco para a ejaculação precoce. Outras causas psicológicas incluem perda da autoestima, insegurança face ao desempenho sexual, falta de conhecimentos básicos e corretos sobre a sexualidade, entre outros.

Outros fatores de risco que podem estar associados à ejaculação precoce são o alcoolismo (a desidratação causada pelo consumo de álcool prejudica a circulação na zona íntima e aumenta os níveis da hormona angiotensina) e o uso de determinados medicamentos.

Não podemos ainda esquecer que os fatores sociais e fatores associados ao relacionamento com o/a parceiro/a podem interferir e estar na origem do surgimento ou agravamento da ejaculação precoce. A falta de desejo e atração sexual ou dificuldades no estabelecimento da intimidade, bem como ansiedade de não satisfazer o outro ou de ter um desempenho sexual fraco podem contribuir para a ejaculação precoce.

Geralmente, a ejaculação precoce inicia-se durante as primeiras experiências sexuais e tende a persistir, em algum grau, ao longo da vida. Alguns homens apresentam ejaculação precoce durante os encontros sexuais iniciais, mas ao longo do tempo conseguem adquirir o controlo ejaculatório. É algo comum que possa ocorrer ejaculação precoce nas primeiras atividades sexuais e sobretudo quando o homem está ansioso com o seu desempenho.

Por isso, o homem pode ter episódios de ejaculação precoce sem que exista verdadeiramente uma disfunção sexual, se ele depois consegue controlar ao longo do tempo a ejaculação. Por isso é que os problemas devem persistir por pelo menos seis meses para ser estabelecido o diagnóstico.

Existem casos em que o homem apresenta ejaculação precoce depois de já ter tido, durante um período de tempo, uma latência ejaculatória normal, o que se designa de ejaculação precoce adquirida. A ejaculação precoce adquirida geralmente ocorre um pouco mais tarde, geralmente durante a quarta década de vida ou depois.

Por vezes, o tratamento e reversão de certas condições médicas, como por exemplo a prostite ou o hipertireoidismo pode restaurar as latências ejaculatórias para um nível normal.

Em cerca de 20% dos homens que apresentam esta disfunção, a latência ejaculatória tende a diminuir com a idade, ou seja, o problema tende a agravar-se.

Avaliação e diagnóstico da ejaculação precoce

Quando existem sinais que podem ser indicativos de ejaculação precoce, o indivíduo deve procurar ajuda de um profissional na área da saúde, especificamente na área da sexologia. o diagnóstico precoce permite uma intervenção atempada e adequada, essencial para a eficácia do tratamento.

O diagnóstico e avaliação do transtorno têm em conta diferentes informações e aspetos:

  • História médica e clínica, sendo importante a realização de exames complementares para detetar e despistar eventuais causas orgânicas;
  • Avaliação da medicação atual;
  • Presença de perturbações psiquiátricas, com especial destaque para as perturbações de humor, de ansiedade, perturbações psicóticas e perturbações de abuso de substâncias;
  • Contexto familiar e desenvolvimento infantil, considerando que a família e o ambiente onde a pessoa se desenvolve tem um impacto importante nas crenças e atitudes face à sexualidade. Devem ser focados especialmente os seguintes aspetos: relação entre os pais e relação da criança com cada um dos progenitores, atitude da família em relação à sexualidade e ao sexo;
  • Desenvolvimento sexual, experiências sexuais prévias, explorando-se aspetos como a idade de início da puberdade, a existência de experiências sexuais traumáticas ou não desejadas, as relações de namoro e as primeiras experiências sexuais;
  • Educação sexual, procurando perceber que informação a pessoa adquiriu relativamente à sexualidade e de que forma essa informação foi adquirida;
  • Fatores relacionados com a/o parceira/o (problemas sexuais, estado de saúde, etc);
  • Fatores associados ao relacionamento, nomeadamente: discrepâncias ao nível do desejo sexual, satisfação global com o relacionamento, padrões de comunicação, estilo de resolução de conflitos, grau de afeto, história de relacionamentos extraconjugais, ressentimentos não resolvidos, grau de atração física, concordância ou discordância em termos dos interesses sexuais, entre outros;
  • Fatores associados a vulnerabilidade individual (por exemplo problemas com a imagem corporal, história de abuso emocional ou sexual);
  • Presença de comorbidade psiquiátrica (por exemplo perturbações de humor como depressão ou perturbações de ansiedade);
  • Stressores e situações adversas de vida, como desemprego, luto, entre outras;
  • Fatores culturais ou religiosos (inibições relacionadas com proibições de atividade sexual ou prazer, atitudes em relação à sexualidade).

Podem ainda ser utilizados, para além da entrevista clínica, questionários e instrumentos de avaliação psicológica, para avaliar e identificar um conjunto de variáveis que podem estar relacionadas com as dificuldades apresentadas.

Tratamento para a ejaculação precoce

Considerando que a ejaculação precoce, assim como outras disfunções sexuais, combina geralmente fatores orgânicos e psicológicos, o tratamento deve ser multidisciplinar, combinando por exemplo a terapia sexual com tratamento farmacológico.

O tratamento geralmente inclui aconselhamento e informação sobre a resposta sexual, psicoterapia, terapia sexual individual ou de casal, e farmacoterapia, se necessário. Uma das abordagens mais utilizadas e com eficácia comprovada é a terapia cognitiva-comportamental, que se foca nos pensamentos e crenças disfuncionais do indivíduo ou do casal, bem como impacto destes nas emoções e nos comportamentos.

Os objetivos da terapia cognitivo-comportamental aplicada à ejaculação precoce são diversos e focam a mudança cognitiva, isto é, de pensamentos e crenças, e a mudança comportamental, ou seja, de comportamentos e hábitos. Alguns dos objetivos são:

  • Promover o conforto face à sexualidade;
  • Promover a perceção clara das sensações premonitórias do orgasmo;
  • Desconstruir mitos associados à sexualidade que interferem na autonomia e autodeterminação sexual;
  • Promover o conhecimento da fisiologia e anatomia da sexualidade;
  • Aprender mais sobre o próprio corpo e sentir-se mais confortável nele;
  • Sentir tranquilidade e validação nas sensações prazerosas associadas à sexualidade;
  • Alargamento do reportório sexual;
  • Superar determinados bloqueios emocionais presentes, como autodesvalorização, culpa, vergonha ou ansiedade;
  • Melhorar a assertividade e a capacidade de comunicar desejos e preferências, bem como anseios e receios.

Alguns pontos importantes no processo de tratamento e técnicas utilizadas são:

  • Identificar, explorar e desconstruir pensamentos e crenças disfuncionais associados à atividade sexual e à ejaculação ou orgasmo;
  • Incentivo à comunicação do casal;
  • Adoção de técnicas de estimulação sensorial não genital e de práticas sexuais que não envolvam necessariamente o coito;
  • Adoção de hábitos de vida saudáveis;
  • Tratamento de patologias orgânicas ou psiquiátricas coexistentes;
  • Investimento em atividades conjuntas em casal que não se relacionem apenas com relações sexuais propriamente ditas;
  • Técnicas de relaxamento;
  • Técnicas de dessensibilização sistemática e de role-play;
  • Controlo de estímulos – pedir por exemplo ao casal para realizar uma lista de condições e estímulos que promovem ou interferem no desejo e na excitação sexual;
  • Técnica “stop-start” que consiste em habituar o homem a ganhar tempo até ejacular, através da utilização de passos graduais. O homem masturba-se até estar perto do momento da ejaculação, nessa altura interrompe o ato e relaxa por alguns instantes, retomando de seguida. Após usar a técnica na masturbação, pode usá-la na relação sexual com parceiro/a. Quando usada com parceiro/a, o paciente dá indicação ao/à  parceiro/a de quando deve parar, suspendem durante uns segundos e depois continuam. Na terapia pode ser prescrita a frequência e a forma como o exercício é feito, por exemplo fazer a paragem 4 vezes e poder ejacular na 4ª vez;
  • Técnica de compressão, que consiste em reconhecer as sensações que aparecem antes da ejaculação e controlá-las. Consiste na compressão do pénis quando se aproxima o momento da ejaculação, durante alguns segundos;
  • Técnica do aperto, que consiste em apertar a base do pénis quando estiver perto de ejacular, com firmeza, mas sem fazer muita força, por cerca de 3 ou 4 segundos;
  • Masturbação antes do coito;
  • Mais tempo em preliminares e diversidade de atos sexuais e práticas;
  • Uso de preservativos ou determinados géis e analgésicos para diminuir a sensibilidade do pénis;
  • Prática de exercícios mentais para desviar a atenção no momento do ato sexual e perto da ejaculação;
  • Estimulação repetida e prolongada do pénis por parte da/o parceira/o, que interrompe a estimulação assim que lhe é dada essa indicação pelo parceiro;
  • Tarefas de casa, a ser implementadas pelo indivíduo ou pelo casal.

Quando o indivíduo está num relacionamento amoroso, a participação e colaboração do/a parceiro/a no processo terapêutico é fundamental e terá um impacto significativo no sucesso do tratamento. Deve ser promovida a informação sobre o funcionamento sexual, a melhoria das competências de comunicação do casal, o desejo e a confiança sexual do casal… Quando existe um relacionamento amoroso é difícil senão impossível tratar o transtorno sem abordar e trabalhar fatores relativos ao relacionamento, pelo que a terapia de casal pode ser fundamental e imprescindível.

O tratamento da ejaculação precoce é muito importante pois irá permitir ao paciente ter uma melhor qualidade de vida, uma melhoria da sua autoestima e autoconfiança e melhoria da sua satisfação pessoal e conjugal.

Exercícios para a ejaculação precoce

Sugerem-se de seguida alguns exercícios que podem auxiliar no controlo e diminuição da ejaculação precoce. Ressalvamos que nenhum destes exercícios substitui um processo terapêutico adequado, e que se existe de facto uma disfunção sexual, ela terá de ser tratada de uma forma adequada.

1. Exercícios de respiração

Muitas vezes a ejaculação precoce surge associada à ansiedade, pelo que o relaxamento respiratório ajuda a diminuir a ansiedade associada. Para controlar a respiração, procure um lugar tranquilo e arejado e sente-se com as costas direitas numa posição confortável. Expire pelo nariz contando até 4 e expire contando até 6, repetindo este ciclo de inspiração-expiração cerca de 10 vezes. Procure trazer o ar do diafragma, de forma a que quando inspira a barriga expande ou “aumenta”, e quando expira a barriga esvazia.

2. Exercício de masturbação

Para ser possível controlar a ejaculação durante o ato sexual com parceiro/a, pode ser necessário primeiro treinar isto sozinho. Na masturbação, quando se sentir próximo da ejaculação, aperte firmemente, mas sem fazer muita força o pénis, segurando na glande e tapando, fechando o canal, e apertando ligeiramente a parte de cima do pénis, para evitar a ejaculação. Aguarde uns segundos e quando a vontade de ejacular passar, volte à masturbação, repita o procedimento cerca de 2 a 3 vezes.

Isso irá permitir que aprenda a identificar as sensações premonitórias do orgasmo e a controlar a ejaculação. Com o tempo, conseguirá controlar a ejaculação sem precisar de apertar, apenas coordenando a musculatura.

3. Exercício de contração do períneo

O períneo é o espaço entre o ânus e os testículos, onde estão presentes vários nervos e músculos. O objetivo deste exercício é contrair este músculo, apertando o ânus. É mais fácil fazer o exercício em pé, apertando e soltando o músculo várias vezes. Procure fazer este exercício todos os dias de manhã, após o exercício de respiração.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.