Empatia: significado, componentes e desenvolvimento

empatia

A empatia é uma das competências sociais ou interpessoais mais importantes para que possamos ter relacionamentos saudáveis e interações eficazes com os outros. Sermos empáticos é sermos capazes de nos colocarmos no lugar do outro e compreender a sua perspetiva. Lacunas ou dificuldades ao nível da empatia podem estar na origem de diversos problemas emocionais, sociais e comportamentais.

Ao mesmo tempo, problemas ou perturbações emocionais ou mentais também podem justificar as lacunas ao nível da empatia. Nas crianças, é particularmente importante promover o desenvolvimento desta capacidade.

Neste artigo explicaremos o que é a empatia, como se desenvolve, quais as dificuldades que podem estar associadas e como promover esta capacidade.

O que é a empatia?

A empatia é um conceito que designa um dos recursos que temos enquanto seres-humanos e que nos permite ter uma vida social complexa e mais gratificante. Quanto maior a nossa capacidade de empatia, mais visíveis serão qualidades como sensibilidade e facilidade de estabelecer relações positivas com os outros.

Mais do que uma habilidade, podemos considerar a empatia como englobando um conjunto de habilidades que se caracterizam pela expressão afetiva de afeto e compreensão e partilha com a experiência positiva ou negativa da outra pessoa, ou seja, colocando o foco nas necessidades do outro. Desde modo, as habilidades empáticas dirigem o seu foco para as necessidades, direitos e sentimentos da outra. Assim, a empatia é fundamental para um maior equilíbrio nas relações interpessoais.

A empatia pode incluir duas componentes distintas:

  • Consciência sobre os estados internos, como a perceção, os pensamentos, sentimentos ou intenções;
  • Resposta afetiva vicária dos sentimentos percebidos na outra pessoa.

A empatia é uma competência social tão importante que, quando ela está ausente, verificam-se muitas vezes comportamentos antissociais. Isto porque, se a empatia é a capacidade para nos colocarmos no lugar do outro, vendo a sua perspetiva e entendendo as suas emoções, não ter empatia significaria ser imune à dor e sofrimento dos demais. Por isso, sem empatia não conseguiríamos sentir qualquer desconforto se provocássemos sofrimento no outro, nem arrependimento.

Quais as componentes da empatia?

A empatia tem três componentes ou dimensões: afetiva, cognitiva e comportamental. Nestas dimensões, algumas capacidades específicas e particulares são importantes para o exercício da empatia:

  • Ser capaz de observar, prestar atenção e ouvir o outro;
  • Demonstrar interesse e preocupação pela pessoa;
  • Reconhecer ou inferir os sentimentos e emoções da outra pessoa;
  • Compreender a situação, assumindo a perspetiva do outro;
  • Demonstrar respeito pelas diferenças;
  • Expressão compreensão pelo sentimento ou experiência da pessoa;
  • Oferecer ajuda se necessário.

Os três componentes, cognitivo, afetivo e comportamental, atuam de uma forma integrada, regidos pela preocupação em oferecer apoio, conforto e consolo à pessoa que está a viver uma determinada experiência emocional. A empatia tem o efeito de validar os sentimentos da outra pessoa, sejam eles positivos ou negativos, o que por sua vez pode ter um impacto positivo na autoestima, facilitando a comunicação e ampliando as trocas e fortalecendo os vínculos.

Como é que a empatia se desenvolve?

A empatia é desenvolvida desde o início da vida, por processos sequenciais quando um bebé nasce. Os processos cruciais iniciais que permitem o desenvolvimento da empatia ocorrem entre as primeiras semanas de vida e estendem-se até por volta dos quatro aos seis anos. Quanto maior a diversidade destes processos na experiência da criança e quanto mais cedo ocorreram, melhor o desenvolvimento da empatia.

Esses processos são os seguintes:

  • Choro reativo do recém-nascido: é a tendência inata dos bebés de chorarem quando ouvem o choro de outro bebé, que é uma espécie de reação precursora da empatia;
  • Condicionamento clássico vicariante: é quando a criança, em sofrimento ou desconforto, observa outra numa situação semelhante e associa esses sinais externos ao próprio sofrimento, levando-a, em situações posteriores, a reagir a sinais semelhantes de outra pessoa como se ela própria estivesse a vivenciar esse sofrimento;
  • Evocação: é quando a criança, ao observar alguém em sofrimento, relembra as suas próprias experiências de dor e sofrimento e apresenta uma reação empática;
  • Mímica motora: acontece quando a criança, ao observar os sinais faciais de desconforto em alguém, apresenta as mesmas expressões;
  • Associação simbólica: acontece quando a criança é exposta a símbolos de emoção (por exemplo dizer o nome da emoção – “triste” ou descrever uma situação em que se sentiu tristeza) que adquiriram sentido por associações ocorridas na sua própria experiência;
  • Tomada de perspetiva: requer uma maior maturação cognitiva, uma vez que consiste em a criança imaginar-se no lugar da outra pessoa e conseguir experimentar os mesmos sentimentos.

Para desenvolver a empatia a criança precisa de, primeiro, saber discriminar o estado emocional da outra pessoa. Depois, precisa de ser capaz de compreender a experiência da pessoa a partir do ponto de vista dela e, por fim, necessita de ser capaz de reagir adequadamente à experiência do outro.

O ambiente no qual a criança cresce é extremamente importante para o desenvolvimento da empatia. A interação inicial com os pais será fundamental para o desenvolvimento desta capacidade na criança, já que ela irá observar as reações e comportamentos dos pais.

A empatia e as reações empáticas tornam-se cada vez mais elaboradas quando existem condições no ambiente da criança que facilitam o desempenho desses comportamentos. Ou seja, se a criança tiver mais oportunidades de contactar com situações em que as emoções são expressas, se os adultos conversarem com ela sobre sentimentos e procurarem alargar o seu vocabulário emocional, as suas capacidades empáticas serão mais desenvolvidas.

Assim, o contexto onde a criança vive não deve restringir nem punir as suas reações emocionais. As práticas educativas dos pais são especialmente relevantes. Por exemplo, os pais devem valorizar as respostas emocionais da criança, levando-a a prestar atenção aos seus sentimentos e aos de outras pessoas. Fatores adversos como abuso ou maus-tratos podem reprimir e constranger o desenvolvimento da empatia na criança.

Incentivar a criança a experimentar diferentes tipos e intensidades variadas de emoções também pode favorecer o desenvolvimento da empatia. Para isso podem ser usados recursos como filmes, situações reais, histórias, atividades lúdicas, cuidado de animais e plantas, etc.

Estratégias para desenvolver a empatia das crianças

Como vimos, a criança tornar-se-á um adulto tanto mais empático quanto mais as suas capacidades empáticas foram exploradas e estimuladas. Para estimular e desenvolver a empatia nas crianças, podem ser realizadas diferentes atividades.

Apresentamos de seguida alguns exemplos:

  • Utilizar histórias ou filmes – questionando o que a criança acha que as personagens sentiram, porque se sentiram assim, o que faria se estivesse no lugar das personagens…
  • Pais e professores mediarem conflitos com os pares e outras crianças, ajudando a criança a refletir sobre: o que o outro sentiu, porque será que a outra criança agiu dessa forma, como é que o outro se terá sentido com o comportamento da criança…
  • Quando a criança tem algum comportamento menos adequado, questioná-la por exemplo “como achas que a mãe se sentiu quando viu que tinhas feito isso?”
  • Utilizar material didático para alargar o vocabulário emocional, por exemplo, cartões com emoções, emojis, etc, para a criança identificar o nome da emoção, desenhá-la, fazer mímica para tentar que os outros adivinhem qual a emoção…
  • Utilizar dinâmicas de grupo e atividades grupais na escola para promover a empatia entre as crianças;
  • Incentivar a criança a ajudar nas tarefas de casa;
  • Incentivar a criança a contactar com diferentes realidades e com pessoas diferentes;
  • Incutir responsabilidade na criança nas suas ações para com outros seres-vivos, por exemplo através do cuidado de um animal de estimação ou de uma planta.

Como ser mais empático?

Todos podemos desenvolver a nossa empatia e tornarmo-nos pessoas mais empáticas. Como qualquer outra competência ou habilidade, também a empatia pode ser desenvolvida e estimulada, não sendo algo estático, mas sim dinâmico. Apresentamos de seguida algumas estratégias importantes para desenvolver a sua empatia:

  • Invista no seu autoconhecimento: cada pessoa é diferente e única e, para entendermos os outros, precisamos primeiro de nos entendermos melhor a nós próprios. Isto porque, se não conhecermos as nossas reações emocionais, os nossos pontos fortes e limitações, os nossos gatilhos, não estaremos cientes da forma como isso pode impactar nas nossas reações com os outros e na nossa capacidade de os compreendermos. Por exemplo, imagine que teve situações adversas e negativas com situações no trânsito. Esse seu gatilho pode fazer com que, numa situação no trânsito, tenha dificuldade em ser empático com o que está a acontecer com a outra pessoa e com as suas necessidades;
  • Contacte com pessoas e realidades diferentes: quanto mais contactarmos com a diversidade, mais vamos compreender que cada pessoa tem um ponto de vista distinto e uma forma única de vivenciar a realidade e as diferentes situações. Contactar com pessoas e realidades diferentes vai ajudá-lo a ser mais sensível a diferentes emoções, perspetivas e necessidades;
  • Pratique a escuta ativa: quando estiver a conversar com alguém, procure estar realmente focado na pessoa, naquilo que ela lhe está a transmitir, procurando compreender a sua mensagem. Ao ouvir, não interrompa a outra pessoa, não se distraia durante a conversa, adote uma postura de interesse, faça perguntas pertinentes e demonstre interesse genuíno;
  • Evite dizer “frases cliché”. Antes de dizer alguma coisa ou oferecer algum conselho, questione-se: como eu me sentiria se me dissessem isto a mim?
  • Evitar fazer julgamentos: ao julgar, não está a procurar conectar-se com a realidade do outro. Assim, evite avaliar ou julgar com base nas suas opiniões ou perspetivas pessoais;
  • Quando alguém lhe estiver a falar sobre algum problema ou situação que está a acontecer, procure imaginar como se sentiria se fosse consigo;
  • Esteja atento à linguagem corporal da outra pessoa, pois esta ajuda a compreender o modo como a pessoa se está a sentir;
  • Pratique a empatia também com aquelas pessoas com quem não se identifica tanto. Este será um desafio importante, pois irá fazer com que tenha de fazer um maior esforço para gerir as suas emoções face à pessoa para conseguir ter uma postura isenta ao ouvi-la e colocar-se no lugar dela.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.