A endometriose é uma doença muito comum entre as mulheres. Caracteriza-se pela presença do tecido que reveste o interior do útero, nomeadamente, o endométrio, fora da cavidade uterina, isto é, em outros órgãos localizados na pelve, como ovários, trompas, intestinos e bexiga.
Trata-se de uma afeção inflamatória (modificação no funcionamento normal do organismo) provocada por células do endométrio que, em vez de serem expelidas, “caminham” em direção ao sentido oposto, caindo nos ovários ou na cavidade abdominal.
De acordo com dados da organização Endometriosis, existem aproximadamente 176 milhões de doentes no mundo, um número elevado. Em Portugal, estima-se que cerca de 700.000 mulheres sofrem com a endometriose, sendo esta uma das principais causas da infertilidade. Esta doença pode-se manifestar a partir da primeira menstruação e estender-se até à última. O seu diagnóstico costuma acontecer quando a paciente tem em torno dos 30 anos de idade.
A alta incidência da endometriose mostra-nos que é preciso falar sobre o assunto e promover a informação acerca da doença, pois só assim será possível que se identifique os sintomas, causas e fatores de risco da endometriose. É importante referir que é possível adotar algumas medidas profiláticas contra esta enfermidade, bem como tratá-la a fim de que não evolua para condições mais graves, como o cancro.
Como é que a endometriose acontece?
O endométrio, como já referido, é o tecido que reveste o interior do útero. Todos os meses fica mais espesso, e isto acontece para que um óvulo fecundado se possa fixar nele. Todavia, se não houver a fecundação, isto é, se a gravidez não acontecer, no fim do ciclo o endométrio sofre uma descamação e é expelido durante a menstruação.
Não obstante, as coisas não se sucedem de maneira tão natural para as mulheres que têm endometriose: no caso destas, o sangue que deveria ser eliminado no ciclo menstrual migra no sentido oposto, atingindo os ovários ou a cavidade abdominal, causando a lesão endometriótica. Infelizmente, ainda não se sabe as causas deste comportamento, porém, pode-se afirmar que fatores genéticos, como a hereditariedade, contribuem para o surgimento desta doença.
Quais os sintomas da endometriose?
O principal sintoma da endometriose é a cólica menstrual (dismenorreia), que causa desconforto e incapacitação em boa parte das mulheres. A dor é tão intensa que impede que realizem as suas tarefas do dia a dia, figurando entre uma das principais causas de absenteísmo no trabalho. Outros sintomas são:
- Dor durante as relações sexuais (dispareunia);
- Dificuldade para engravidar após um ano de tentativas;
- Infertilidade feminina;
- Alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação;
- Dor pré-menstrual;
- Dor difusa ou crónica na região pélvica;
- Fadiga crónica e exaustão;
- Sangramento menstrual irregular ou intenso.
São fatores de risco para endometriose:
- História familiar materna (aumento em 7% do risco)
- Malformações uterinas;
- Menarca precoce;
- Ciclos menstruais curtos;
- Duração do fluxo menstrual aumentada;
- Fluxo menstrual aumentado;
- Estenoses cervicais (estreitamento do canal da medula na região das vértebras cervicais, que ficam na altura do pescoço e início das costas);
- Índice de Massa Corpórea (IMC) baixo, isto é, estar abaixo do peso ideal;
- Gestação tardia;
- Nuliparidade (mulheres que nunca tiveram filhos).
Como é realizado o diagnóstico da endometriose?
Caso suspeite que possa estar a sofrer com a doença, procure um médico ginecologista o quanto antes. A endometriose provoca sérios impactos na qualidade de vida das pacientes, por isso deve ser prontamente tratada a fim de impedir que se agrave.
O seu diagnóstico é feito por meio de exame físico, ultrassonografia endovaginal especializado, exame ginecológico, dosagem de marcadores e outros exames de análises clínicas. Em caso de endometriose profunda, uma forma mais severa da doença que pode estar relacionada com deficiências do sistema imunológico, é fundamental o exame de toque, bem como exames complementares como ressonância nuclear magnética e a ecocolonoscopia.
Identificada a alteração, o médico poderá realizar uma biópsia da lesão encontrada para que o diagnóstico seja confirmado. A laparoscopia e laparopotomia são os exames que possibilitam essa avaliação minuciosa.
Tratamentos e cuidados para a endometriose
A endometriose é uma doença crónica, por isso, é indispensável o acompanhamento médico contínuo. A depender da gravidade, o tratamento será realizado por meio de medicamentos ou cirurgia, avaliação que é de responsabilidade do ginecologista. Em algumas situações, ambos os procedimentos são realizados de maneira integrada.
Tratamento com medicamentos:
Analgésicos, anti-inflamatórios, danazol, dienogeste e análogos de GNRh (medicamento com estrutura semelhante à hormona natural que se liga aos recetores impedindo a sua ação, consequentemente reduzindo os níveis de gonadotrofinas, e também de estrogénio e progesterona) são os medicamentos disponíveis no mercado para o tratamento da endometriose. Nunca se automedique!
Tratamento cirúrgico:
Na cirurgia, a endometriose é removida por meio de uma laparoscopia. Em determinados casos, elimina-se apenas os focos da doença, bem como as complicações provocadas por esta, como cistos, por exemplo. Todavia, quando a endometriose é profunda, o procedimento poderá remover órgãos pélvicos afetados pela doença, como os ovários e o útero.
Conviver com a endometriose
Como não existe cura permanente para a endometriose, é fundamental que o tratamento seja realizado apropriadamente, pois só assim será possível amenizar dores e outros sintomas, bem como facilitar a possibilidade de gravidez e diminuição das lesões endométricas.
Quando descoberta precocemente, a endometriose pode ser melhor administrada e os seus sintomas minorados. Além disso, a fertilidade pode ser restabelecida com tratamento adequado, por isso é tão importante fazer todos os exames necessários para diagnosticar a endometriose e barrar a sua interferência na qualidade de vida.
O acompanhamento psicológico também pode ser um aliado no tratamento da doença, sobretudo para mulheres que sofrem de stress e/ou ansiedade. A psicoterapia pode atuar como um apoio durante o tratamento e também ao longo da vida da mulher, visto que ajuda a enfrentar os aspetos emocionais decorrentes do surgimento da endometriose.
Como prevenir a endometriose?
As causas que levam ao desenvolvimento da endometriose ainda não são claras, por isso, é precipitado falar sobre prevenção primária. Contudo, existem diversos estudos a respeito das características das mulheres que desenvolvem a doença, o que ajuda a medicina a obter mais respostas sobre o surgimento da endometriose.
Todavia, não só para a endometriose, mas para qualquer doença crónica, é fundamental adotar comportamentos saudáveis a fim de melhorar a qualidade de vida. São eles:
- Alimentação equilibrada, fator que contribui para a manutenção de um peso corporal adequado;
- Nutrição rica em fibras e pobre em gordura animal;
- Diminuição do stress;
- Repouso adequado;
- Atividade física, principalmente exercício regular aeróbico;
- Evitar álcool, tabaco e cafeína, pois de acordo com alguns estudos, estas substâncias estão relacionadas com alterações hormonais que aumentam o risco de endometriose.
O melhor que as pacientes podem fazer para manter a saúde em dia é procurar sempre a ajuda de um médico ginecologista e consultá-lo regularmente. Ademais, é imprescindível ficar atenta aos sintomas e conhecer o seu corpo, comportamento que facilitará a identificação de alterações do organismo.
Lembre-se: conviver com a endometriose é possível, mas para isso, é preciso controlar os impactos que provoca na sua rotina e assim ganhar mais qualidade de vida. Cuide-se!