Terminar uma relação romântica pode ser incrivelmente doloroso. Há muitas pessoas que preferem ficar solteiras durante um tempo e investir noutras áreas da vida como no trabalho, outras tentam logo iniciar uma nova relação e outras, ainda que não tenham nenhuma estratégia definida, esperam que a passagem do tempo simplesmente ajude a “sarar a ferida”. Mas será que o tempo cura tudo?
O tempo ajuda a sarar as feridas do fim de uma relação?
A frase “o tempo cura todas as feridas” poderá não ser totalmente adequada para o contexto das relações românticas, visto que parecem haver eventos de vida que dificultam a “cura” – as feridas causadas por um término relacional parecem manter–se abertas enquanto o ex-parceiro for idealizado, já que conduzem a maior sofrimento e menor bem-estar.
Seja como for, focar-se em alguém novo e encontrar um novo parceiro pode, em alguns casos, ajudar na recuperação de um término relacional, em parte por contribuir para uma “desidealização” do ex-parceiro, uma vez que manter uma atitude demasiado positiva relativamente ao ex-parceiro pode ser desadaptativo.
Dadas as consequências negativas significativas associadas à vinculação continuada por um ex-parceiro (desde a tristeza ao stalking – e, aqui, as redes sociais têm um papel poderosíssimo e muito negativo, neste processo), entrar numa nova relação é para alguns uma forma razoável de facilitar o processo de quebrar laços, sendo mais eficaz na “cura de todas as feridas” que o simples passar do tempo.
Diferentes perspetivas de quando a passagem do tempo parece não chegar
A Hipótese de Substituição de Pertença (Baumeister & Leary, 1995) é uma das teorias que apoia a ideia de que a passagem do tempo não chega. Esta teoria defende que a perda de uma conexão social que preenchia as necessidades de intimidade do indivíduo pode ser colmatada pela formação de novas conexões, que poderão ser potencialmente reparadoras, por satisfazerem determinadas necessidades psicológicas.
Assim, a entrada numa nova relação pode encorajar os indivíduos a reorganizarem o seu sistema de vinculação, ajudando a ultrapassar o vínculo ao ex-parceiro, ao promoverem o afastamento deste e o redireccionamento, para outros indivíduos, de recursos cognitivos e emocionais.
Vale a pena ter em conta que isto não funcionará com todas as pessoas: as mais ansiosas e dependentes em termos relacionais podem sentir mais dificuldades em desconectar-se emocionalmente após o fim da relação amorosa, tendendo a aplicar estratégias não adaptativas, isto é, prejudiciais, tais como a ruminação (ficar a “cismar” obsessivamente na relação e ex-parceiro), a procura de proximidade (procurar o ex-parceiro não é saudável) e stalking a ex-parceiros (perseguição, quer a nível virtual, por vigiar toda a atividade do ex-parceiro, quer a nível “real”, seguindo o parceiro na rua, a título de exemplo).
De acordo com outra teoria, a Teoria da Troca Social / Teoria da Interdependência, de Thibaut & Kelley, a maior motivação para entrar rapidamente numa qualquer relação romântica, após a dissolução de uma relação mais relevante para o indivíduo, deve-se essencialmente a uma ponderação dos custos/benefícios, estando associada a critérios menos seletivos – o indivíduo pode achar que há pouco a perder em estar aberto a todos os tipos de relações. Prefere estar quase indiscriminadamente com alguém a estar sozinho. Além disso, há que ter em conta algumas “pressões sociais”, num mundo de casais, para que voltem a envolver-se rapidamente – isto é, é esperado socialmente que as pessoas estejam numa relação romântica.
Quando o tempo cura (quase) tudo: a necessidade de fazer o luto da relação
Devido à natureza superficial e instrumental de algumas relações que se iniciam após o término de uma relação mais “séria”, a entrada em relações românticas é geralmente desaconselhada por amigos ou familiares por se considerar que a pessoa vai ser usada e, inevitavelmente, magoada ou que a relação não irá durar muito tempo.
Deste modo, o senso comum, os livros de autoajuda e alguns estudos empíricos aconselham a necessidade de um “período de espera” após o fim de uma relação. Este “compasso de tempo” seria utilizado para digerir o fim da relação, processar a perda e compreender e extrair significado da dissolução relacional para se possa fazer o luto.
Caso contrário, entrar numa relação servirá apenas como um “penso rápido” que distrai a pessoa de algumas questões emocionais não-resolvidas, relacionadas com a relação que chegou ao fim.
Deste modo, parece ser indiscutível que a passagem do tempo pode ajudar as emoções desagradáveis, experienciadas imediatamente após o término da relação, a tornarem-se menos intensas, porventura o suficiente para se trabalhar a perda e extrair significado.
A reflexão é vista como necessária para se reorganizar e renunciar ao laço vinculativo prévio com o parceiro perdido, de forma a preparar a formação de um novo laço vinculativo. É preciso olhar para trás de forma a não se repetir erros do passado no presente e no futuro. Mas para que esta reflexão não seja “ruminativa”, é preciso deixar esfriar as emoções mais intensas (as iniciais) e então depois “trabalhar” o luto da experiência dolorosa.
O tempo cura tudo? Talvez.
Independentemente da mera passagem do tempo, o que importa é a avaliação que o indivíduo faz do ex-parceiro e do respetivo término relacional. É necessário fazer o luto da relação.
E aqui as pessoas têm várias estratégias, mais ou menos adaptativas, e em diversas fases: umas abrigam-se em músicas de breakup, as quais têm a sua função, já que validam o sofrimento da pessoa; outras distraem-se e saem mais com amigos, viajam, fazem mais desporto, viram-se para a leitura, vão ao cinema, investem mais na escola ou no trabalho/carreira; outras procuram refugio no álcool, drogas ou recorrem a múltiplas relações superficiais; e outras fazem parte de ou tudo isto, numa fase inicial/intermédia e, depois, param para refletir sobre o que se passou.
Deste modo, o tempo parece ter a sua função mas, ao mesmo tempo, mudar as circunstâncias adjacentes, como o seja permitir-se entrar numa nova relação, não demasiado rapidamente, mas não deixando igualmente passar demasiado tempo, parece acelerar o processo de desvinculação do ex-parceiro, rumo a um melhor ajustamento emocional pós-dissolução relacional e, inclusive, conduzindo a crescimento pessoal, até porque a falta de resolução emocional face à relação anterior pode ressoar em envolvimentos futuros.
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