Obsolescência programada: realidade ou mito?

obsolescência programada

Já se questionou sobre o período de vida útil dos produtos que compra? Qual a razão para que a reparação de um eletrodoméstico ser, em alguns casos, mais dispendiosa que a aquisição de um modelo novo? Já ouviu falar em obsolescência programada?

Encontre as responder a todas estas questões neste artigo.

O que é a obsolescência programada?

A obsolescência programada consiste no desenvolvimento intencional de um produto de forma a que este se torne não funcional num prazo específico (prazo de vida predeterminado). Esta prática tem como objetivo forçar o consumidor a comprar um novo produto, desfazendo-se do modelo antigo.

Ao contrário do que se possa pensar, o conceito não é propriamente recente. O conceito de obsolescência programada parece remontar à década de vinte, quando o então administrador de uma conhecida marca de automóveis norte-americana, encontrou nessa ideia uma forma de obrigar os consumidores a trocarem de veículo com uma determinada periodicidade.

O objectivo era simples: manter as linhas de montagem em constante funcionamento, escoando os produtos que são fabricados em cada vez maior quantidade e menor tempo – numa espécie de ciclo ininterrupto entre oferta e procura.

Para alguns autores a obsolescência programada surge da necessidade de na década de vinte, em plena crise financeira, a indústria estimular o consumo.

Fonte: Comissão Europeia

Há ainda um caso curioso relatado no documentário The Light Bulb Conspiracy, no qual um norte-americano, após a sua impressora deixar de funcionar, descobriu que a própria marca inseria nos aparelhos um chip que levava à avaria após um determinado número de impressões, prática entidada por muito com um exemplo de obsolescência programada.

A obsolescência programada funcional tem ainda outro bom exemplo que remonta igualmente à década de vinte, quando os diferentes fabricantes de lâmpadas concertaram uma estratégia conjunta e decidiram reduzir a durabilidade dos seus produtos. Tendo em conta que a famosa Centennial Bulb, uma das primeiras lâmpadas incandescentes do mundo, continuar acesa num museu norte-americano, desde 1901, percebemos que a obsolescência pode ser evitada.

A obsolescência programada não é só funcional

Uma das estratégias de marketing mais utilizadas no mercado passa por convencer o consumidor de que o aparelho que utiliza está fora de moda, a isto se chama obsolescência percecionada.

Para isso muito contribui o lançamento de novos modelos, em ciclos cada vez mais curtos, onde a única diferença face à versão anterior é, em muitos casos, meramente estética. Tecnologicamente o novo produto apresenta características iguais ou muitos semelhantes ao modelo anterior, no entanto, esteticamente pareça um novo produto.

Combater as várias formas de obsolescência

Dar nota que existem já várias organizações internacionais que tem como propósito o combate à obsolescência programada, nomeadamente alertando e sensibilizando os consumidores e a indústria para as suas consequências, sobretudo no que ao meio ambiente diz respeito.

A produção em massa de produtos de consumo (sejam telemóveis, computadores, televisores, máquinas de lavar, aspiradores ou até automóveis), aumenta consideravelmente a pegada ecológica da indústria, contribuindo para o aumento das emissões de carbono na atmosfera e, consequentemente, para as alterações climáticas. É uma prática nada sustentável, que contrasta com uma sociedade cada vez mais consciente da importância de uma verdadeira economia circular.

Isso tem levado também a uma mudança de hábitos de consumo. As economias de partilha acabam por combater, de certa forma, a obsolescência programada, assim como estratégias de sensibilização com vista a estimular a repação dos eletródomesticos e assim prolongar a vida útil dos produtos. Principalmente nos aparelhos eletrónicos, onde a troca de componentes eletrónicos poderá ser mais fácil.

O outro lado da moeda da obsolescência

Embora, não raras vezes, se procure culpabilizar a indústria pela obsolescência programada a verdade é que o consumidor é igualmente responsável – a oferta depende da procura.

Outro ponto não negligenciável prende-se com o facto dos produtos em geral estarem hoje mais baratos mas ao mesmo tempo mais eficientes do ponto de vista energético.

Tendo isso em consideração, alguns autores defendem que a obsolescência programada não existe, referindo que a redução do período de vida útil da generalidade dos equipamentos domésticos se deve ao facto de, na sua conceção, se utilizarem componentens mais baratos e, portanto, de menor qualidade.

Em contrapartida, se antes a compra de um frigorífico era um investimento que pesava no orçamento familiar, hoje em dia está ao alcance da generalidades das famílias portuguesas.

Dito isto, surge desde logo uma questão: é melhor prolongar a vida de um aparelho com um consumo energético muito elevado (através da reparação, por exemplo) ou substitui-lo por um modelo mais recente, com muito melhor consumo energético?

A UE está atenta à obsolescência programada

A União Europeia tem estado atenta à temática da obsolescência programada, tendo vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas neste âmbito. Um exemplo é a publicação de legislação que estabelece requisitos de conceção ecológica, também conhecido por ecodesign, e de eficiência energética para vários produtos, nomeadamente:

  • Frigoríficos;
  • Máquinas de lavar roupa;
  • Máquinas de lavar loiça;
  • Televisores;
  • Lâmpadas;
  • Motores elétricos;
  • Entre outros.

A nova legislação obriga os fabricantes de produtos a disponibilizarem um conjunto de peças sobressalentes ao consumidor final e reparadores profissional de forma a que estes possam proceder à reparação dos electrodomésticos, prolongando o seu tempo de vida.

Independentemente destas questões é importante adotar uma postura responsável, sensata e inteligente no momento de trocar de computador, tablet ou de smartphone. A questão que deve colocar a si mesmo é: é realmente necessário? Se a resposta for negativa o ambiente e a sua carteira agradecem. A obsolescência programada também passa pelo consumidor!

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