Uma prática aparentemente inofensiva, mas que pode trazer sérios danos à sua saúde. Basta sentir alguma dor, não importa a intensidade, para que a tentação de ir à farmácia e comprar algum medicamento, indicado por um amigo ou familiar, se transforme em algo problemático: a automedicação.
Muitas vezes esses medicamentos são de fácil acesso, isto é, não estão sujeitos a receita médica, fazendo com que acabemos por dispensar a tão necessária recomendação médica. Mas não é por estarem ao alcance das “nossas mãos” que não deixam de esconder inúmeros perigos.
Infelizmente, a automedicação é um grave problema de saúde pública em Portugal. Em 2020, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o mundo como um todo recorreu, com uma frequência jamais vista, ao uso de medicamentos sem a expressa indicação de um profissional de saúde.
Entre os “preferidos”, estão os analgésicos e antitérmicos, seguidos dos antibióticos e relaxantes musculares. Este comportamento intensificou-se em virtude da pandemia do novo coronavírus, que acabou por inibir a procura por ajuda médica por conta do medo da contaminação pelo vírus.
Também de acordo com um estudo da OMS, 35% de todos os medicamentos são adquiridos para automedicação, sendo responsáveis por aproximadamente 25% das intoxicações e 15% dos casos de morte em decorrência da automedicação. Não fosse isso suficiente, a pesquisa aponta também para o facto de que 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados de maneira forma inadequada, e que os hospitais gastam cerca de 20% do seu orçamento a tentar minimizar os impactos gerados pelo mau uso dos medicamentos.
Os riscos da automedicação existem e devem ser tratados com seriedade. Para orientá-lo melhor sobre esse assunto, preparamos este artigo para si com todos os esclarecimentos de que precisa para evitar as armadilhas que se escondem por trás deste corriqueiro hábito. Fique atento e boa leitura.
Automedicação: um problema de saúde pública
A automedicação caracteriza-se pela prática de ingerir substâncias medicamentosas sem a devida prescrição e aconselhamento de um profissional de saúde, nomeadamente, um médico. Isto é, a pessoa decide tratar-se tendo por base o seu conhecimento superficial ou de amigos e familiares.
Está claro que os medicamentos são indispensáveis quando estamos a sentir dores ou mal-estar, sejam eles físicos ou mentais; não obstante, somente serão eficazes se houver indicação médica expressa para a sua utilização.
Entre os principais riscos da automedicação está a possibilidade de uma pessoa – visando aplacar o a efeméride que o afeta – tomar doses inadequadas e até mesmo excessivas de um determinado medicamento. As consequências são efeitos colaterais indesejáveis, que podem acarretar quadros clínicos atípicos e levar o médico a uma interpretação errada de uma possível doença, bem como mascarar sintomas graves.
Por isso, não recorra a terceiros não habilitados ou até mesmo a crenças populares na hora de se tratar, pois um mesmo medicamento, na mesma dose, ao ser tomado durante o mesmo período de tempo por duas pessoas diferentes, mas com diagnósticos parecidos, pode resultar em reações completamente distintas. Ou seja, o que é bom para o seu amigo pode não ser necessariamente bom para si, sendo, portanto, indispensável uma opinião médica personalizada.
Intoxicação em decorrência da automedicação
A intoxicação também está entre os riscos da automedicação. Os analgésicos, os antitérmicos, os anti-inflamatórios e os benzodiazepínicos (substâncias que atuam no cérebro diminuindo a ansiedade, também conhecidos como calmantes) representam as classes de medicamentos que mais intoxicam, podendo causar dependência química, arritmias cardíacas e até morte.
Outros sintomas menos graves da automedicação, porém, consideráveis, são: reações alérgicas, falta de apetite, náuseas, sudorese, diarreia, tontura, palpitação, mudança de comportamento e sedação.
Hoje, infelizmente, uma grande parte das hospitalizações em Portugal está relacionada com o uso inadequado de medicamentos, nomeadamente automedicação, o que traz severos prejuízos à saúde desses pacientes, além de onerar com elevados custos o sistema de saúde.
Os riscos da dependência química e emocional
Os riscos da automedicação também estão representados pela dependência química e emocional que determinados fármacos podem provocar num indivíduo. Além disso, o medo constante de desenvolver problemas de saúde e o vício em medicamentos podem ser classificados como uma hipocondria.
Existe também o sintoma hipocondríaco, que acontece quando uma pessoa depressiva apresenta delírios hipocondríacos, com uma certeza absoluta de que padece de uma doença grave, e que esta não tem cura. Por isso, procura orientação médica e, concluídos os seus exames clínicos, laboratoriais e complementares, cujos resultados descartaram qualquer enfermidade, passa a demonstrar insatisfação com o diagnóstico médico.
Consequentemente, desconsidera a opinião do profissional de saúde e decide consumir medicamentos por conta própria (automedicação), de forma indiscriminada e por um período prolongado.
Pessoas que apresentam este distúrbio comportamental devem ser ajudadas e, em alguns casos, devidamente tratadas por um especialista em saúde mental, que poderá investigar possíveis transtornos e proceder com a terapêutica adequada.
A importância da automedicação responsável
Os riscos da automedicação não se estendem quando falamos sobre a automedicação responsável. Segundo a OMS, esta prática é estabelecida quando se tem a utilização de um medicamento correto, na posologia e dose certa, para um problema limitado, isto é, uma simples dor de cabeça, uma constipação, entre outras intercorrências sem riscos iminentes. Portanto, encaixa-se naquilo que chamamos de uso racional de medicamentos, o que contribui bastante no alívio da demanda nos serviços públicos de saúde.
Nesta situação específica, o farmacêutico desempenha um papel importante quando consultado por um paciente, pois é dele a responsabilidade de identificar se o problema é autolimitado, ou seja, se será solucionado com medicamentos, ou se é indispensável encaminhamento para um médico. Entretanto, não é recomendado que a automedicação, ainda que responsável, seja utilizada nos seguintes grupos de risco:
- Crianças: A sua fragilidade física e o seu organismo ainda em desenvolvimento necessitam de maior atenção dos pais ou tutores, que devem, terminantemente, evitar a automedicação.
- Idosos: Devido à sua constituição física vulnerável e frágil devem evitar ao máximo esta prática. Aqueles que foram diagnosticados com doenças mais graves não devem, em circunstância alguma, recorrer a uma terapêutica de automedicação.
- Grávidas: A automedicação em gestantes pode colocar em risco a vida do feto. Por isso, deverão tomar apenas medicamentos prescritos pelo médico.
Para finalizar este artigo, parafraseamos o médico e físico do século XVI, Paracelso: “a diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”. Por isso, os riscos da automedicação devem ser considerados, para que assim sejam evitados contratempos. Sempre procure aconselhamento médico, pois somente este profissional está apto para prescrever medicamento e dose adequados. Cuide-se!