Resistência a antibióticos: conheça as causas e consequências

Resistência a antibióticos

Os antibióticos são medicamentos para matar ou diminuir o crescimento de bactérias (não têm efeito sobre vírus), que surgiram na década de 40, com a penicilina e que, desde então, têm ajudado a salvar milhões de vidas. São utilizados não só para tratar infeções ativas, como para prevenir o aparecimento destas após cirurgias. A resistência aos antibióticos surgiu desde cedo, mas, nos últimos anos, tem aumentado para níveis perigosos, que podem pôr em causa a Medicina como a conhecemos.

O que é a resistência aos antibióticos?

É uma mudança adaptativa das bactérias, uma mutação, que lhes permite sobreviverem mesmo na presença de um antibiótico que antes seria eficaz. Com o aumento das resistências começam a surgir bactérias que não reagem a qualquer antibiótico, continuando a crescer e a multiplicarem-se, o que pode levar a hospitalizações mais compridas, tratamentos mais caros e, em última análise, a mais mortes.

De facto, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estima que até 2050, tais infeções possam matar 2,4 milhões de pessoas na Europa, América do Norte e Austrália (e mais de 40 mil pessoas em Portugal).

Causas de resistência a antibióticos

Tendo em conta os números alarmantes, é importante perceber o que tem levado ao aumento das resistências, de modo a criar um plano de atuação. Existem vários motivos, entre os quais:

  • Uso exagerado de antibióticos: um exemplo típico são quadros virais, como uma constipação, que muitas vezes é tratada, erroneamente, com um antibiótico. Como vimos anteriormente, os antibióticos não funcionam nos vírus, ou seja, esta constipação iria passar de qualquer maneira. Certos estudos apontam para cerca de 30-50% prescrições inadequadas de antibióticos (não só na decisão de iniciar ou não, como também na duração e escolha do antibiótico em específico);
  • Uso de antibióticos na agricultura: Um pouco por todo o mundo são usados em gado ou plantas, para promover o crescimento e evitar infeções. No entanto, este amplo uso dá mais oportunidades às bactérias para desenvolverem resistências que depois podem ser transmitidas aos seres humanos pela ingestão de carne ou vegetais.

O que podemos fazer?

Existem algumas mudanças comportamentais que cada um de nós pode adotar e que vão ajudar a combater este problema, como:

  • Abandonar o mito de que um antibiótico é sempre necessário para tratar uma constipação, amigdalite, etc. Se a causa for vírica o uso de antibiótico não vai ser necessário. Se considerar que devia ter sido receitado um antibiótico é preferível conversar com o médico e expor as dúvidas e este irá explicar o porquê de não parecer uma infeção bacteriana;
  • Quando é necessário o uso de antibiótico é essencial terminar a caixa, mesmo que já se sinta melhor a meio desta. Isto porque, é possível que ainda existam algumas bactérias no organismo. Ao parar a toma do antibiótico estas bactérias vão crescer novamente e dar novos sintomas, levando a que seja preciso iniciar nova medicação;
  • Se por algum motivo não tomamos a medicação até ao fim, devemos entregar os antibióticos numa farmácia, e não deitar ao lixo (onde podem ir parar a uma lixeira e, daí, ao solo e à agua);
  • Evitar a infeção em primeiro lugar. Para isto, práticas como lavar as mãos frequentemente e a vacinação são de grande auxílio. Manter um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada, prática de exercício físico e uma quantidade suficiente de sono ajuda o nosso sistema imune a manter-se saudável;
  • Quando se vai a um hospital visitar familiares ou amigos é também de extrema importância seguir as indicações de proteção contra a infeção (que usualmente estarão explicadas num papel perto da cama do doente), em alguns casos será aconselhado o uso de luvas, máscaras ou batas para evitar, precisamente, a propagação da infeção;

Criar novos antibióticos?

Uma das soluções a este problema que nos pode parecer óbvia é a invenção de novos antibióticos. No entanto, nos últimos anos, as agências farmacêuticas têm criado cada vez menos, muito devido aos obstáculos económicos e regulatórios. Por exemplo, entre 1980 e 1984 foram aprovados 19 antibióticos, ao contrário dos 6 aprovados entre 2010 e 2014.

A verdade é que são medicamentos não rentáveis, por serem usados por curtos períodos, pelo baixo custo relativo e pelo inevitável aparecimento de resistências a curto prazo. Tudo isto leva ao pouco interesse da parte das farmacêuticas para inventarem novos antibióticos.

O que tem sido feito nos hospitais?

A resistência aos antibióticos tem ganho um grande foco na área Médica nos últimos anos. Muitas formações têm sido dadas aos profissionais de saúde. Há um empenho grande para prescrever o antibiótico apenas quando necessário e o tipo certo na dose e tempo adequados. Por outro lado, há uma crescente preocupação com a desinfeção das mãos e materiais para evitar a propagação destas infeções.

Em suma, trata-se de um problema que nos abrange a todos, médicos, doentes e população em geral e deve ser feito um esforço conjunto para evitar um cenário negro.

Lúcia Ribeiro Dias

Desde muito cedo que a possibilidade de tratar o outro a cativou. Assim se tornou Mestre em Medicina. Do percurso já feito, considera que há sempre algo a aprender com o doente, seja clinica ou pessoalmente. Além da Medicina gosta de se aventurar em viagens longínquas, de preferência sem planos. A literatura é outro dos grandes gostos, tendo sempre um livro por perto.

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