Sexologia: descubra o que é e quais as suas aplicações

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A sexologia, tal como podemos inferir pelo nome, diz respeito à ciência que estuda aspetos relacionados com o sexo e a sexualidade. É uma área de estudo que, embora não seja propriamente recente, tem vindo a ganhar palco e relevo. A sexologia é fundamental para um adequado entendimento da sexualidade humana que, por sua vez, permite tratar disfunções e promover uma sexualidade mais saudável a todos os níveis.

Neste artigo abordamos a sexologia, procurando responder a algumas das perguntas mais frequentes, nomeadamente em que consiste e quais as suas aplicações. Boa leitura!

O que é a sexologia?

A sexologia é o campo científico que estuda os aspetos associados ao sexo e à sexualidade. A sexologia é uma área de conhecimento que envolve o cruzamento entre diferentes áreas, desde a biologia à psicologia e à medicina. Inclui o estudo dos aspetos biológicos do sexo e da sexualidade, mas também os aspetos psicológicos, sociais, comportamentais…

Os temas sob os quais a sexologia se versa são também diversos, desde as disfunções sexuais, ao desenvolvimento psicossexual, à saúde sexual e reprodutiva, ao prazer sexual e orgasmo, identidade sexual e de género, entre muitos outros.

Assim, a sexologia estuda todas as facetas que estão associadas à sexualidade humana. Deste modo, a sexologia permite-nos por exemplo compreender os mecanismos inerentes ao desejo, excitação e resposta sexual, bem como perceber a influência de variáveis como o apego emocional, a autoestima, as experiências passadas, na resposta sexual. Deste modo a sexologia aborda e procura compreender a influência de aspetos sociais, culturais, psicológicos, fisiológicos e médicos no sexo e na resposta sexual.

A sexologia também pode abordar e estudar temas específicos como por exemplo o abuso sexual, o controlo da natalidade, técnicas de reprodução e saúde sexual, entre muitos outros.  

Associado à sexologia surgem outros conceitos fundamentais. Sexólogo é o profissional que se especializa em sexologia. Por sua vez, o terapeuta sexual é aquele que trata e intervém nos distúrbios ou disfunções sexuais. Geralmente o terapeuta sexual tem formação base em psicologia ou medicina. Por outro lado, educador sexual é a pessoa especializada em sexologia, mas que, em vez de intervir no contexto clínico, atua na área da educação sexual.

Porque é que a sexologia é importante?

A sexologia é uma área fundamental, porque compreender e estudar a sexualidade humana é muito importante por diversos motivos. Compreender a sexualidade significa desconstruir muitos mitos adjacentes ao tema e criar conhecimento fidedigno e correto, que permite de facto encarar o sexo de uma forma real e que dê uma resposta adequada aos diferentes problemas que lhe podem estar associados.

A sexologia permite assim aumentar o conhecimento objetivo sobre a sexualidade, promovendo uma vida sexual mais saudável, incluindo a prevenção de DSTs e de disfunções sexuais, reconhecer e tratar problemas sexuais, melhorar a autoestima e a vivência plena da sexualidade, entre muitos outros.

Estudar o sexo é compreender melhor uma das dimensões fundamentais do ser-humano: a sexualidade. A sexualidade vai muito para além do sexo e influência o nosso bem-estar, a nossa saúde física e mental, a nossa autonomia, a vivência do nosso corpo, a maternidade e paternidade… Enfim, sexualidade não é sinónimo de sexo e a nossa sexualidade é interferente com inúmeros aspetos da nossa vida. Daí que a sexologia seja tão importante, porque vai responder a necessidades diversas do ser-humano.

O interesse por este tema tem sido crescente, passando-se de um contexto sociocultural em que o sexo era tema tabu, para um contexto que quer compreender e falar sobre sexo. Hoje em dia os temas inerentes à sexologia estão na televisão, nas redes sociais, no debate público…

O sexo e a sexualidade são questões que influenciam sem exceção todos os seres humanos, quer de forma positiva ou negativa. Como tal, é essencial que a sexologia tenha espaço e relevo, que a sexualidade seja abordada e estudada, sob diversos enfoques e abordagens. O progresso da sexologia significa desconstruir e eliminar progressivamente tabus e mitos sexuais que limitam a vida sexual saudável das pessoas.

A diferença entre sexo e sexualidade

Não é raro pensarmos em sexologia e associarmos automaticamente à palavra “sexo”. Assim, muitas vezes a nossa noção da sexologia é redutora e encaramo-la como apenas o estudo e a abordagem ao sexo. No entanto, a sexologia, como vimos, estende-se a toda a sexualidade. Como tal, é importante conseguirmos distinguir os conceitos de “sexo” e “sexualidade”.

Desde logo é importante percebermos que sexualidade não é sinónimo de sexo. A sexualidade inicia-se desde o nascimento e está ligada à nossa forma de sentir, estar e ser no mundo. Por consequência, a sexualidade inclui aspetos muito diversos no campo emocional, experiencial, identitário, relacional… A nossa sexualidade está presente na formação da nossa identidade, no estabelecimento de ligações com os outros e de relações, na nossa posição no mundo e na sociedade e, consequentemente, tem uma influência direta no nosso bem-estar global e na nossa saúde.

O sexo diz respeito às características biológicas que distinguem o masculino e o feminino. Também associamos sexo ao ato sexual propriamente dito. Sexualidade, por outro lado, vai para além destes aspetos mais biológicos e físicos, incluindo inúmeras variáveis anteriormente referidas.

Se o sexo é uma dimensão mais fisiológica, biológica, hormonal, a sexualidade é uma construção social, cultural e histórica. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a sexualidade inclui várias dimensões e é influenciada pela interação de fatores sociais, psicológicos, biológicos, políticos, económicos, éticos e legais, culturais, social, religiosos, históricos e espirituais.

A sexologia clínica

O estudo científico da sexualidade, isto é, a sexologia, pode ter diferentes aplicações práticas, que diz respeito aos aspetos a que esse conhecimento é aplicado. Uma dessas aplicações diz respeito à sexologia clínica. A sexologia clínica conta com a colaboração de especialidades como a psiquiatria, psicologia, ginecologia e urologia.

A sexologia clínica tem como objetivo tratar e intervir nas disfunções sexuais, primárias ou secundárias, através de técnicas e metodologias específicas. A sexologia clínica intervém ainda em questões como as perturbações da identidade de género, perturbações de preferência sexual ou outras dificuldades que estão associadas à vivência da sexualidade. O objetivo é sempre o de melhorar a vida sexual individual ou conjugal.

Relativamente aos problemas que dizem respeito à orientação sexual, estes podem afetar todas as pessoas independentemente das suas preferências sexuais. Determinadas disfunções sexuais podem ter origem na dificuldade em integrar a própria orientação sexual. Muitas pessoas podem reprimir a sua própria sexualidade e as suas preferências sexuais durante muito tempo, por medo das pressões sexuais. Uma intervenção na área da sexologia pode ser fundamental para ajudar a promover esta aceitação e uma consequente vivência plena da sexualidade.

Muitas vezes na consulta de sexologia são trabalhados problemas sexuais existentes no relacionamento de casal, que prejudicam significativamente a vida do casal. Problemas que vão desde a falta de interesse ao desejo sexual, diferentes preferências em relação ao sexo, questões emocionais e afetivas que influenciam a vida sexual do casal, entre muitos outros.

Pessoas que tiveram experiências traumáticas na sua vida, por exemplo situações de abuso sexual, também podem precisar de um tratamento na vertente da sexologia, embora este não seja suficiente e o processo terapêutico deva englobar uma série de questões importantes.

As queixas mais comuns na sexologia clínica estão relacionadas com as disfunções sexuais. As disfunções sexuais são problemas associados à resposta e ao ciclo sexual, e destacam-se como principais as seguintes:

  • Desejo sexual hipoativo (falta ou ausência de desejo sexual);
  • Aversão sexual;
  • Perturbação do orgasmo;
  • Perturbação de excitação sexual;
  • Anorgasmia ou incapacidade em obter orgasmo;
  • Vaginismo (dor vaginal durante a penetração);
  • Disfunção erétil (quando o homem não consegue ter uma ereção);
  • Ejaculação precoce (ejacular demasiado cedo);
  • Ejaculação retrógrada e retardada;
  • Inibição do orgasmo masculino;
  • Entre outras.

A consulta de sexologia clínica inicia-se sempre com uma avaliação clínica, que inclui, entre outros aspetos, avaliação da história de vida, das principais queixas e sintomas, de eventuais problemas de saúde existentes, das principais experiências associadas à vida sexual, do desenvolvimento da sexualidade… Após a avaliação a abordagem a adotar dependerá do problema apresentado. Caso os problemas sexuais estejam associados a fatores orgânicos, pode ser necessário tratamento farmacológico ou cirúrgico ou ajuda de dispositivos mecânicos, bem como tratamento de fisioterapia. Caso o problema seja essencialmente psicológico, a intervenção irá focar-se nos aspetos cognitivos, emocionais e comportamentais que influenciam a vivência da sexualidade.

Na consulta de sexologia clínica podem ser usadas técnicas cognitivo-comportamentais com o objetivo de identificar crenças e pensamentos associados ao sexo e à sexualidade. A educação sexual e o fornecimento de informações pertinentes é também uma estratégia importante que tem como objetivo capacitar a pessoa a compreender melhor a sua sexualidade e experimentar diferentes formas de a vivenciar.

As consultas de sexologia clínica podem ser feitas de forma individual ou em casal, podendo assim resultar numa intervenção mais individualizada ou em forma de terapia sexual de casal. A duração do tratamento estará sempre dependente da natureza do problema existente, bem como da motivação e dos recursos de que a pessoa dispõe para o ultrapassar. Há questões que são resolvidas de uma forma relativamente breve e outras que podem levar mais tempo, como por exemplo as que estão associadas a traumas e histórias de abuso.

Geralmente os terapeutas sexuais ou sexólogos têm formação base de psicologia ou diferentes áreas da medicina, e têm depois de fazer uma especialização na área da sexologia, nomeadamente mestrados ou cursos de pós-graduação.

A sexologia forense

A sexologia forense é uma área que se versa sobre os problemas médico-legais que estão relacionados com a sexualidade. Por outras palavras, a sexologia forense estuda uma ampla gama de ilícitos penais que dependem de aspetos sexuais da vítima ou do seu autor ou agressor. Assim, se a sexologia no geral se foca sobre a sexualidade de forma global, em termos normativos, a sexologia forense foca-se mais nos aspetos não-normativos da sexualidade que estão relacionados com crime. A sexologia forense foca-se assim no estudo e compreensão, bem como na intervenção, dos crimes sexuais, que são crimes contra a liberdade sexual do outro.

Podemos pensar por exemplo na questão da violação. A sexologia forense pode versar-se sobre o estudo deste tipo de comportamentos, nomeadamente o perfil do agressor sexual, o que leva ao ato de violação ou abuso, como avaliar medicamente os vestígios de violação (avaliação pericial), mitos e estereótipos associados, questões sociais e culturais, consequências para a vítima e tratamento… A sexologia forense também se versa sobre as questões legais e judiciais associadas aos crimes sexuais.

Uma outra questão associada à sexologia forense pode ser, por exemplo, as questões de atentado ao pudor e a forma como a sexualidade deve ser vivida dentro do respeito pelo outro. Podemos dar como exemplos a prática de sexo em público, sendo agravada quando por exemplo alguma criança ou menor são expostos ao ato.

Também dentro da sexologia forense se pode abordar a fraude associada ao sexo, que consiste em induzir alguém em erro para se envolver em atos sexuais. Uma outra temática dentro da sexologia forense é o assédio sexual, que se define como qualquer tentativa por parte de alguém que detenha algum tipo de poder sobre uma pessoa subordinada, de obtenção de favores sexuais ou de adoção de condutas reprováveis e não consentidas pela outra pessoa. Podem ser dados como exemplos o pedido de favores sexuais como promessa de tratamento diferenciado ou promoção na carreira, ameaças ou atitudes de represália no caso de recusa por parte do subordinado (ex: ameaçar despedir), abuso verbal ou comentários sexistas sobre a aparência física, verbalizações grosseiras ou humilhantes, perguntas indiscretas sobre a vida privada, elogios atrevidos e inapropriados, apalpadelas ou toques não consentidos, entre outros.

Na sexologia forense também se podem incluir as parafilias, uma vez que algumas delas podem constituir crime. As parafilias dizem respeito a fantasias ou comportamentos sexuais intensos e recorrentes que envolvem atividades, objetos e situações incomuns. Geralmente causam sofrimento significativo na pessoa e podem interferir na sua vida pessoal, social, familiar, profissional ou ocupacional. Por outras palavras, as parafilias são desvios socialmente inaceitáveis das normas que regem as relações e os comportamentos sexuais. Algumas parafilias não constituem crime, como por exemplo o sado-masoquismo se realizado dentro de determinados limites. No entanto, muitas outras parafilias podem constituir problemas legais:

  • Exibicionismo ou voyerismo (gostar de se exibir à frente de outras pessoas ou gostar de ver outras pessoas a ter sexo sem que elas saibam) – pode levar a crimes de invasão da privacidade ou de atentado ao pudor;
  • Pedofilia – crime de abuso de menores;
  • Frotteurismo (tocar ou esfregar-se numa pessoa sem o seu consentimento) – pode conduzir ao crime de abuso sexual;
  • Necrofilia (desejo por sexo com cadáveres) – pode levar ao crime de profanação de cadáver.

A sexologia em Portugal

Em Portugal existe a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, que é responsável por diversas iniciativas, desde reuniões científicas para divulgação de conhecimento na área da sexologia, à promoção e desenvolvimento de projetos de investigação na área da sexologia, bem como programas de intervenção na área da sexologia. a SPSC também é responsável pela formação e especialização na área de sexologia, fundamental na formação de terapeutas sexuais e sexólogos.

As especializações na área de sexologia e terapia sexual dividem-se em 3 níveis: o nível 1 é o da sexologia educacional, o nível 2 do counselling / aconselhamento, e o nível 3 de sexologia clínica / terapia sexual. O nível 1, de sexologia educacional, pode ser feito por profissionais da área da saúde, ciências sociais ou ensino. Por sua vez, o nível 2 pode ser realizada por profissionais que trabalhem em áreas relacionadas ao aconselhamento no domínio da sexualidade, tais como psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais. Por fim, o nível 3 destina-se a psicólogos com formação de base ou especialidade em Psicologia Clínica e da Saúde ou médicos que exercem funções relacionadas com a saúde mental, sexual e reprodutiva.

A formação completa inclui assim a realização dos 3 níveis de especialização e um estágio com treino clínico intenso e supervisionado, bem como um trabalho de investigação teórico ou empírico.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.