Seja em eventos desportivos, políticos ou solenes, a entoação do hino faz parte do protocolo. Como qualquer hino de um país, trata-se de uma música com um forte simbolismo, representando o povo e a pátria, sendo uma forma de valorizar a história e as tradições.
Os hinos existem desde o século XVI, sendo o Hino da Holanda o mais antigo que se tem conhecimento. Chamado “Wilhelmus”, era uma homenagem ao mártir da independência holandesa William de Orange e passou a ser cantado em cerimónias oficiais. Porém, só foi oficializado em 1932, o que faz com que oficialmente não seja considerado o hino mais antigo – posição que fica com “God Save the Queen/King”, do Reino Unido, tocado desde 1745.
Já o atual Hino de Portugal, chamado “A Portuguesa”, composto com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, surgiu no fim do século XIX e foi adotado oficialmente em 1911, vindo substituir um hino anterior.
Neste artigo vamos contar um pouco melhor esta história, explicando como surgiu o Hino de Portugal, apresentando uma linha do tempo com os acontecimentos que estiveram na base da sua origem.
História do Hino de Portugal
O Hino de Portugal surgiu como uma canção de protesto. No fim do século XIX, mais precisamente em 1890, o governo inglês passou a exigir a retirada das forças militares portuguesas de algumas áreas do continente africano, como o território localizado entre Angola e de Moçambique, antigas colónias portuguesas.
Portugal cedeu às exigências britânicas e isso, internamente, foi considerado como uma humilhação. Foi nesta situação que “A Portuguesa” foi composta e começou a ser cantada como uma resposta ao ultimato dos ingleses, uma reação popular.
A letra enaltece o patriotismo e, para os republicanos, passou a ser também uma música contra a Monarquia, que até então era o sistema de governo português. “A Portuguesa” foi sendo adotada em diversas situações, até que, com a instauração da República, passou a ser oficialmente o Hino de Portugal.
A linha do tempo infra explica um pouco melhor todo o processo:
- 1834 – À data, o Hino de Portugal era a canção “Hymno da Carta” (grafia da época), composto pelo Rei Dom Pedro IV em homenagem à Carta Constitucional.
- 1890 – Ano em que a “A Portuguesa” foi composta. Neste mesmo ano “A Portuguesa” teve a sua primeira grande entoação, pela orquestra no Teatro de São Carlos.
- 1891 – A canção começou a ser uma alternativa republicana ao hino nacional, sendo entoada pelos revolucionários republicanos, mas proibida pela Monarquia.
- 1911 – Após a queda da Monarquia e a instauração da República, “A Portuguesa” tornou-se oficialmente o Hino de Portugal.
- 1956 – Diante da grande quantidade de versões do hino que foram surgindo, o governo de Portugal decidiu estudar uma versão oficial por meio de uma comissão criada para essa finalidade.
- 1957 – A versão oficial sugerida pela comissão foi aprovada em Conselho de Ministros e, desde então, mantém-se inalterada.
- 1976 – “A Portuguesa” passou a constar na Constituição da República Portuguesa como um dos símbolos nacionais.
- 2020 – Em outubro deste ano o Hino Nacional de Portugal completa 130 anos desde sua composição.
Uma curiosidade é que, ao longo do tempo, a letra do Hino de Portugal passou por algumas mudanças. Uma delas é que o termo “bretões”, que fazia referência aos britânicos, teria sido substituído por “canhões”. Também a melodia passou por ligeiras alterações.
Estas mudanças podem ser comprovadas porque, segundo informações da Wikipedia, há uma versão inicial da canção “A Portuguesa” publicada na íntegra em uma edição de 1890 da revista “O Ocidente”, que faz parte do acervo da Biblioteca Nacional, onde há também uma partitura manuscrita.
Hoje o Hino de Portugal, “A Portuguesa”, é sempre tocado nas cerimónias oficiais nas quais Portugal participa, tanto civis como militares.
Hino de Portugal: letra de “A Portuguesa”
Agora que já sabe um pouco mais sobre a história do Hino de Portugal, é hora de conferir se realmente conhece a letra completa:
“Heróis do mar, nobre povo
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória
Oh, Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há de guiar-te à vitória!
REFRÃO
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões
Marchar, marchar!
Desfralda a invicta bandeira
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d’amor
E o teu braço vencedor
Deu novos mundos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
Marchar, marchar!
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe
Que nos guardam, nos sustêm
Contra as injúrias da sorte
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar!
Contra os canhões
Marchar, marchar!
Heróis do mar, nobre povo
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória
Oh, Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões
Marchar, marchar!”