LGBTQIA+: significado, história e importância

LGBTQIA+

Provavelmente já terá visto, em contextos e circunstâncias diversas, a sigla LGBT, alguma das suas variações ou uma versão mais completa e comumente usada, de LGBTQIA+. Se é verdade que cada vez mais pessoas se familiarizam e conhecem esta sigla e os conceitos nela inseridos, também é verdade que para várias pessoas pode ser algo ainda confuso ou desconhecido.

Nesse sentido, o objetivo deste artigo é facilitar a compreensão desta sigla, perceber os conceitos que nela estão inseridos, bem como compreender também a importância da sigla e o que ela representa.

O que significa a sigla LGBTQIA+?

A junção das letras LGBTQIA+ constitui um acrónimo ou sigla, o que significa que cada letra corresponde à inicial de uma palavra. Veremos também que, como acontece com a generalidade dos acrónimos e siglas, este conjunto de letras tem um significado que ultrapassa a mera junção de cada uma das partes.

Isto é, há um motivo e um sentido para o acrónimo existir e há nele uma representação. Mas, antes de falarmos sobre este sentido e significado, vamos deter-nos no que representa cada uma das letras.

L: Lésbica

A primeira letra do acrónimo LGBTQIA+ representa a palavra “lésbica”. Lésbica corresponde a uma categoria de autoidentificação sexual atribuída a mulheres que se sentem sexual e/ou romanticamente atraídas por outras mulheres. Assim, a letra “L” na sigla LGBTQIA+ representa as mulheres lésbicas.

O termo “lésbica” é o termo mais antigo de todos os termos da sigla LGBTQIA+, uma vez que está em utilização desde 1890 e o seu registo mais antigo aparece no século XVII. Era um termo utilizado em relação com a ilha de Lesbos, onde vivia a poeta Safo que escrevia sobre amor e paixão entre mulheres. A partir de então, a palavra Lesbos evoluiu para Lésbica para passar a ser usada para designar mulheres atraídas por mulheres.

G: Gay

A segunda letra da sigla LGBTQIA+ representa a palavra “gay”, que corresponde a uma categoria de autoidentificação sexual atribuída a homens que se sentem sexual e/ou romanticamente atraídos por outros homens. Há, por isso, no “G” de LGBQIA+ a representação dos homens gays.

Importa referir que o termo “gay” era usado anteriormente como insulto, tendo sido reapropriado pela comunidade como forma de ativismo. Começou a ser utilizado por ativistas homossexuais nos anos 60, como forma de protesto contra as leis discriminatórias. Acabou por ser um termo muito querido pela comunidade, depois desta reapropriação. Passou, também, a ser o termo mais utilizado, em vez de “homossexual”.

B: Bissexual

A terceira letra da sigla LGBTQIA+ representa a palavra “bissexual”, que corresponde a uma categoria de autoidentificação sexual atribuída a pessoas que se sentem sexual e/ou romanticamente atraídas por pessoas do género masculino e do género feminino: homens e mulheres.

No entanto, esta definição é hoje debatida e discutida dentro da comunidade, uma vez que se debate se o termo significa pessoas atraídas por homens e mulheres exclusivamente, ou se significa atraído pelo seu próprio género e por outros géneros.

Deste modo, a letra “B” em LGBTQIA+ pretende representar as pessoas bissexuais.

T: Trans

A quarta letra da sigla LGBTQIA+ representa a palavra “trans” ou “transgénero”. Uma pessoa trans é alguém cuja identidade de género não é concordante com o sexo que lhe foi atribuído à nascença. De uma forma mais prática, quando nascemos, mediante a observação de caracteres sexuais, é-nos atribuído um género: masculino ou feminino.

Uma pessoa trans é alguém que questiona ou não se identifica, total ou parcialmente, com esse género que lhe foi atribuído. Algumas pessoas trans optam por fazer terapia hormonal e/ou cirurgias de redesignação sexual, outras não.

Assim, a letra “T” em LGBTQIA+ representa as pessoas trans. Foi a última letra a ganhar lugar no acrónimo, tendo sido adicionada na década de 90. De salientar que o “T” vem trazer à sigla a noção de identidade de género, uma vez que todas as outras letras anteriores faziam referência apenas à orientação sexual.

Q: Queer

A quinta letra da sigla LGBTQIA+ representa a palavra “queer”, que designa pessoas que vivem a sua identidade fora das normas de género e sexualidade.

A palavra “queer”, tal como a palavra “gay”, também foi usada como insulto durante muitos anos, desde 1910. Em 1990, acaba por ser reapropriada pela comunidade, como forma de ativismo e protesto.

Também há quem se refira à letra “Q” como “Questioning”, representando assim pessoas que questionam a sua identidade fora das normas de género e sexualidade.

I: Intersexo

A sexta letra da sigla LGBTQIA+ representa a palavra “intersexo”, que designa pessoas que naturalmente, à nascença, desenvolvem características sexuais que não se enquadram com a nossa noção binária de homem e mulher. É uma pessoa que possui variação de caracteres sexuais como os cromossomas, hormonas, gónadas e/ou órgãos genitais e cariótipo, e que dificultam sua identificação como totalmente feminino ou masculino.

Essa variação pode envolver ambiguidade genital e/ou combinações de fatores genéticos e aparência. Pode ser, por exemplo, uma pessoa que nasce com cromossomas femininos (XX), mas com pénis e testículos. Assim, estas variações podem ou não ser visíveis à nascença.

Assim, a letra “I” na sigla LGBTQIA+ pretende representar as pessoas intersexo.

A: Assexual

A sétima letra da sigla LGBTQIA+ representa a palavra “assexual”, que designa a pessoa que não sente atração sexual, que não apresenta nenhuma ou baixa resposta fisiológica a estímulos sexuais. As pessoas assexuais podem ser românticas ou não românticas caso concedam ou não a afetividade nas relações interpessoais.

Deste modo, a letra “A” na sigla LGBTQIA+ representa as pessoas assexuais.

+

O “+” no acrónimo simboliza todas as outras possíveis identidades que não estejam abarcadas pelo acrónimo.

Outros conceitos a esclarecer: orientação sexual e identidade de género. A identificação desses conceitos exige, para uma verdadeira compreensão, esclarecer outros conceitos associados que nos ajudam a navegar este mapa que pode ser a sigla LGBTQIA+.

Muitas vezes os conceitos de orientação sexual e identidade de género são confundidos, pelo que, para compreender as letras da sigla, importa clarificar e distinguir estes diferentes conceitos.

No que diz respeito à orientação sexual, esta define a atração pelo tipo de pessoas (geralmente com base no género) pelas quais nos sentimos atraídas/os. A atração pode ser emocional, sexual, física e/ou espiritual. A orientação sexual é definida de acordo com o género de quem experiência e da pessoa a quem se dirige. Assim, quando falamos de orientação sexual falamos de por quem nos sentimos atraídos, e podemos, assim, ter orientações sexuais diversas: bissexual, homossexual, heterossexual, assexual, pansexual…

Quando falamos em identidade de género, por outro lado, referimo-nos a uma experiência interna e individual, em que cada pessoa se identifica como sendo de determinado género. Pode assumir diferentes categorias ou não pertencer a nenhuma.

Para além disso, é independente do sexo biológico e da orientação sexual. Sendo uma experiência pessoal e interna, deve ser respeitada e tratada como tal. É, no fundo, a forma como cada pessoa se sente intimamente e se perceciona quanto ao seu género, independentemente do sexo que lhe foi atribuído à nascença.

Desse modo, em termos de identidade de género, as pessoas podem ser cisgénero (identificam-se com o sexo atribuído à nascença) ou transgénero (de alguma forma não se identificam totalmente com o sexo atribuído à nascença ou até não se identificam com a noção binária de género, no caso das pessoas não-binárias).

História e evolução da sigla LGBTQIA+

A sigla LGBTQIA+ nem sempre teve esta configuração, e foram existindo evoluções ao longo dos anos. A sigla começou por ser “LGB”, surgindo na década de 90, tendo-lhe depois acrescentado o T, ficando “LGBT”. Durante algum tempo também foi usado o acrónimo “LGS”, que designava “lésbicas, gays e simpatizantes”.

Foi havendo, ao longo dos anos, a necessidade de incluir na sigla outras letras e representações, o que resultou na evolução do acrónimo. Esta evolução resultou também das reivindicações de diversos grupos que se foram juntando ao movimento de luta. A sigla, que começou como “LGB”, passando para “LGBT”, ganhou variações mais atuais, como LGBTI+ ou LGBTQIA+.

A utilização do “+” foi uma das evoluções mais interessantes do acrónimo, uma vez que vem simbolizar todas as letras que possam não estar presentes no acrónimo, numa preocupação de maior inclusão. Assim, podemos ver o acrónimo em diferentes variantes com o “+” adicionado: LGBT+, LGBTQ+, LGBTI+, etc.

A sigla é geralmente tomada como um termo guarda-chuva, ou seja, como inclusiva de todas as identidades mesmo que elas não se identifiquem com nenhuma das letras do acrónimo. É uma sigla feita para representação de uma comunidade.

O acrónimo está em constante evolução, e quanto mais identidades são reconhecidas, mais definições podemos ir criando e letras podem ir sendo adicionadas. Quando se adiciona mais letras ao acrónimo, existe no fundo uma tentativa de que as pessoas se sintam integradas, valorizadas, e que as suas lutas se refletem na luta em geral da comunidade LGTBQIA+.

Importância e sentido da sigla LGTBQIA+

A sigla LGBTQIA+ é o resultado de anos de evolução da luta pelos direitos de grupos coletivos.

O acrónimo LGBTQIA+ e as suas diversas variações tem uma origem, um propósito de existência, faz parte do movimento e da comunidade e serve-a em muitos aspetos. Que bom é termos palavras que permitem que todas as pessoas se sintam representadas. A invisibilidade é uma forma de estigma, e quando somos invisíveis também na linguagem, o estigma está mais uma vez presente.

O acrónimo LGBTQIA+ assume um papel de representação e, muitas vezes, também um papel político e uma função de ativismo. A própria organização das letras e a forma como elas estão ordenadas também tem um sentido. Por exemplo, o “L” acabou por vir primeiro na sigla como forma de dar visibilidade e priorizar a experiência das mulheres lésbicas, historicamente mais invisibilizadas do que os homens gays.

Também podemos encontrar variações no acrónimo e ele é, de certa forma, flexível, na medida em que pode ser usado de formas variadas mediante aquilo a que nos queremos referir ou aquilo que se pretende destacar.

Muitas críticas à existência e utilização do acrónimo LGBTQIA+ existem por falta de consciência da importância que a linguagem e a representatividade assumem. Quando não temos palavras que nos sirvam, quando não conseguimos descrever ou designar alguma coisa, o resultado acaba por ser muitas vezes a incompreensão e a invisibilidade. Por isso, poder ter uma linguagem que nos represente é fundamental.

É importante lembrar que a linguagem está em constante mutação e nem sempre as pessoas, estruturas e identidades conseguem acompanhar essa mudança e atualização. Por isso, educar e informar é essencial. O poder social também funciona através da linguagem, e, por isso, desconstruir esse poder social também passa pela linguagem.

Possíveis problemas da sigla LGBTQIA+

No entanto, se o acrónimo LGBTQIA+ tem um sentido muito importante e traz diversas vantagens, também pode trazer problemas. Um deles pode ser a extensão do acrónimo, na medida em que o adicionar de mais letras também pode tornar menos compreensível a mensagem que se pretende passar.

Além disso, o adicionar de mais letras pode implicar um adicionar de mais “caixas” ou “rótulos”, que podem ser limitativas e restritivas. Podemos estar a incorrer no risco de restringir a orientação sexual ou identidade de género a uma definição ou rótulo, quando a verdade é que a nossa identidade pode ser fluída e mutável.

Além disso, as letras podem trazer a necessidade de encaixar numa dada palavra ou conceito, questionando-se assim se aquilo que serviu inicialmente para representar, poderá a dado momento estar a limitar.

Pode existir ainda um problema adicional, que é o facto de as várias letras poderem acentuar a existência de sub-grupos dentro da comunidade, criando ou acentuando mais divergência, em vez de fomentar a união.

Estas questões não têm respostas simples ou lineares, estando abertas a discussão e podendo ser vistas e sentidas de formas diferentes por pessoas diferentes. Acima de tudo, deve ser respeitada a diversidade, a individualidade, aquilo que faz sentido para cada pessoa, usando-se a linguagem e as palavras a nosso favor e não a nosso desfavor. Para isso, é importante:

  • Respeitar os termos com os quais cada pessoa se sente confortável;
  • Perguntar em vez de assumir;
  • Respeitar as lutas e os movimentos sociais da comunidade e valorizar os mesmos, reconhecendo o seu importante legado;
  • Não generalizar e achar que o que serve a uma pessoa, serve a todas;
  • Não categorizar ou rotular, tratar a pessoa como uma pessoa, para além da sua sexualidade, identidade de género, etc;
  • Abraçar a riqueza da diversidade, em vez de a complicar ou tentar definir em excesso.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.