O estilo de vida que levamos hoje é cada vez mais influenciado pelos novos paradigmas da consciência. Com apoio das novas descobertas científicas, das alterações sociológicas a nível global e da vontade de “viver mais”, temos talvez menos justificações para não atuar de acordo com o que sabemos ser benéfico para a nossa saúde, física e mental.
É nesta metodologia que se baseia a meditação, uma ação de apoio e toma de consciência do que está a ocorrer, do que deveria ser e como fazer para alcançar este estado.
Sim, meditar é uma ferramenta para calibrar a mente e retomar ligações “esquecidas”. A história por detrás deste género de terapia autónoma é subjetiva: China, 2000 a.c.? Índia, 6000 a.c.? Provavelmente nenhuma das respostas anteriores. Contudo, sabemos hoje que as várias escolas e filosofias criadas para o desenvolvimento das técnicas de meditação que vemos disponíveis não foram criadas como um produto ou serviço para comércio – como são atualmente vendidas – mas sim num cariz de desenvolvimento da espécie humana.
Afinal, o que é meditar?
Será pensar, não pensar, refletir ou contemplar? Será um estado de espírito zen ou uma evaporação total do eu? Será uma religião… estará integrada em alguma religião? Todos já nos questionámos algum dia e a experiência responde que é viver Melhor. As respostas, no entanto, são individuais, mas os benefícios são facilmente transformados em metas tangíveis e empíricas.
A meditação é uma arte, é ancestral e, mesmo na atualidade e com todos os novos conceitos que surgem, meditar será sempre o mesmo: um estado. É uma aventura rumo ao desconhecido, é ser, na nossa total simplicidade – é ter prazer em apenas ser, na sua simples e complexa dicotomia.
Normalmente, quando falamos em meditação, associamo-la ao pensamento, à reflexão, ao foco, à concentração, ao aumento das nossas capacidades mentais e da nossa criatividade. Meditação, posso colocar, como tendo nada que ver com isso – para mim é a dissolvermo-nos na totalidade da existência, no momento presente, no aqui e agora: o “zen” chama a isto “olhar das 10.000 direções”.
Meditar é, portanto, um estado de “não-identificação com a mente” e é uma arte que é apenas de quem a experiência – mesmo quando partilhada, e na partilha existe uma relação de empatia grande, não deixa de partir de ti e da vibração que tu crias nesta experiência.
Conceito e tipos de meditação
Meditar não é apenas estar sentado, meditar não é um simples fechar os olhos e ‘não pensar em nada’. Meditar não é apenas isto porque não seria fácil ser assim, reinaria aquele que de tal forma conseguisse trabalhar, sustentar e dinamizar uma família e domar tal arte como a de não pensar.
A ausência, portanto, não é do pensamento na sua essência, mas sim do que nos permite parar a analisar em detalhe cada pensamento, cada tópico, que nos conduz a uma série de raciocínio pré-concebidos que utilizamos para analisar cada pensamento. Além disso, quando nos perdemos em tópicos permitimos um leque de emoções que, muitas vezes, são criadas pela nossa mente.
1. Meditação passiva
Em primeiro lugar, a distinção entre técnicas de meditação: podem ser ativas ou passivas. As passivas, como as conhecemos, são as mais comuns, é o que nos conduz à típica imagem do Yogi sentado em estado de profunda meditação. As meditações deste tipo têm por base o foco na respiração calma e consciente e na postura perfeita (sentado, com o cóccix elevado por uma almofada e as pernas simétricas e dobradas, com os pés unidos às coxas e apontando para o horizonte).
2. Estado meditativo
Além disso, existe também o estado meditativo e é importante diferenciar na medida em que é o ato, a experiência, de viver o presente na sua totalidade, aqui e agora. A ação meditativa mais comum para o ser humano é o estado meditativo, ocorre quando estamos relativamente perto do sono, ou quando caminhamos calmamente ou fazemos algum tipo de desporto relaxado. É também um estado associado à total despreocupação e à essência da vontade de viver, por outras palavras, quando reconhecemos que somos e temos sucesso e não somos atingidos pelas várias metas e objetivos pessoais e profissionais – um estado raro para a maioria.
Normalmente quando falamos em meditação associamos a um grande nível de foco e reflexão. Geralmente parece difícil deixarmo-nos levar por tamanho nível de responsabilidade e trabalho. Meditação não tem nada a ver com isso.
Um estudo realizado por alguns alunos da escola CENIF Amadora, especializada em terapias subtis e massagens, concluiu que as primeiras tentativas autodidatas de adultos entre os 28 e os 44 anos de idade para meditar foram resultado de tentar obter resposta a algum problema familiar ou profissional. Mais de 80% dos indivíduos descreveram a sua experiência como difícil e pouco cativante. Porque foi tão negativa a primeira experiencia destas pessoas? Na realidade, meditar não é pensar mais e de olhos fechados, pelo contrário.
Meditar é perceber a mente como uma antena de rádio: capaz de captar frequências e interpretá-las a uma velocidade que é subtil para a nossa consciência, ou seja, ao contrário do que os indivíduos sob análise fizeram, a resposta ao problema seria pensar menos e deixar a mente atuar por si.
Conscientemente, meditar é focar na respiração, nas sensações do corpo, imaginar cenários muito simples como uma cor, uma praia, um quarto branco ou padrão geométrico. Com efeito, a meditação ocorrerá ao nível do subconsciente.
3. Meditação ativa
Finalmente, meditações ativas são metodologias simples para alcançar a frequência meditativa de forma natural. Estas foram criadas com o intuito de abrir os canais da capacidade de entrar num Estado Meditativo utilizando, em grande parte, artes físicas e dinâmicas. Por outras palavras, esforçando o corpo para calar a mente, calar a mente para contemplar o eu.
Meditar é o prazer de ir rumo ao desconhecido – um total Ser, não fazer, apenas ser com todo o prazer que advém dessa realidade que é estar, simplesmente, vivo.
Sugestões para praticantes de meditação
1. Um bom espaço
É importante estar presente antes de meditar. Um bom passo é criar um ritual simples que permita desligar o estado ‘exterior’, tais como o ato de desligar o telefone, afastar computadores e televisões, guardar comidas e cheiros específicos. Isolamento Consciente. Acender um incenso ou vela, deixar um bilhete na porta, avisar os vizinhos caso a meditação implique muita dinâmica de voz e/ou chão. Descalçar e apoiar o corpo numa posição confortável. Fazer escolhas conscientes, deixar para trás tudo o que flui compulsivamente na mente e aceitar que existe um abismo à nossa frente e a meditação são as asas para o experienciar.
Aconselha-se pelo menos 10 minutos por dia para uma tarefa tão complexa como a meditação – um pequeno momento em comparação à média de tempo que um indivíduo passa em transportes, a preparar comida ou muitas vezes até para adormecer todos os dias. Atribuir um tempo para meditar e nunca fazer menos que o imposto é essencial para o sucesso. Se 10 minutos é demasiado o melhor é reduzir para 5 minutos e ir aumentando com vontade: nunca nos devemos frustrar com o tempo que foi determinado por nós para estarmos connosco: parece óbvio, não? O compromisso é uma boa forma de estar presente.
2. O lugar certo
Realmente não pode ser um lugar qualquer. Ainda mais atendendo ao tipo de meditação elegido. Escolher um lugar que intensifique a meditação e que esteja o mais isento possível de memórias, emoções fortes e, acima de tudo, afazeres.
A natureza é um lugar, aparentemente, ideal para meditar. A praia é, na minha opinião, bastante indicada desde que tenhas em conta aspetos como: se está calor excessivo, se está cheia de gente, animais, se as ondas te poderão apanhar de surpresa. O campo, um jardim, uma floresta, seja dia ou noite são também espaços ideais.
Neste sentido, também porque vivemos em grandes aglomerados cosmopolitas, o mais comum é meditarmos em casa, num ginásio, numa igreja ou até no carro. Neste caso, é importante desenvolver um silêncio e paz interna imperturbáveis, procurar reservar um lugar especial para meditar, como um quarto ou uma varanda: até um lugar no canto da sala, desde que bem limpo e apenas utilizado para esse intuito será suficiente.
Porquê tanta preocupação? Porque todo o tipo de ação cria a sua própria vibração. Se meditares num lugar só, esse lugar torna-se contemplativo. Quando lá voltares, saberás as experiências e viagens desse lugar, saberás o poder que tens sobre ele e que ele tem sobre ti, saberás estar nessa bolha e quebrar as tuas bolhas internas aí, pois será como um ‘local seguro’.
3. Estar à vontade
A postura é extremamente importante e quanto mais praticares meditação melhor deverá ser a tua postura – senão terminarás cheio de dores e outros problemas físicos. A tua postura deve permitir-te estares à vontade e relaxado. “a comodidade do corpo é uma necessidade básica para qualquer pessoa que esteja a tentar alcançar o êxtase interior.”
4. Começar pela catarse
Nunca dizemos “começa por te sentares”. Começa pelo que é fácil, andar, desligar o telemóvel, acender um incenso e preparar o local é um bom começo: procura compreender que entrar num estado meditativo começa aí.
No caso das Meditações Ativas, algo mais se segue antes que te chegues a sentar ou até deitar – foram pensadas mesmo para isso: a catarse. Deste modo, nas Meditações Ativas começamos pela verdadeira loucura: se dançares loucamente acontecerá o oposto no teu interior. Com uma dança frenética começas a tomar consciência de um ponto silencioso no teu interior. Portanto, uma técnica de meditação que começa com movimento e ação é benéfica também de outras formas. Torna-se uma catarse. Cada músculo vibra, cada nervo vibra.
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