Atração física: significado, fatores, teorias e importância

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A atração física, que também pode por vezes ser designada de atração sexual ou atração interpessoal, é aquilo que nos atrai e impele numa pessoa. Compreendemos facilmente que a atração não é algo objetivo, já que cada um de nós se sente atraído por pessoas diferentes e de acordo com fatores e variáveis específicas. Deste modo, neste artigo pretendemos ajudar a compreender o fenómeno da atração: o que é, qual a importância, como se processa e que fatores interferem na atração física.

O que é a atração física?

A atração física diz respeito a sentirmo-nos impelidos para alguém, porque algo nessa pessoa, na primeira impressão que formamos dela através dos aspetos físicos e não-verbais, nos agrada. A atração física pode ser considerada, até certo ponto, uma atitude, que determina até que ponto gosto de uma pessoa. É uma atitude positiva de uma pessoa em relação à outra que se caracteriza por uma prontidão a responder favoravelmente a alguém.

O contrário da atração seria a repulsão, que é aquilo que nos faz desgostar de outra pessoa e, consequentemente, afastarmo-nos dela.

Diferentes teorias ajudam a perceber e melhor conceptualizar a atração física. Segundo Darwin, a atração física seria uma tendência a escolher preferencialmente certas pessoas do sexo oposto, sendo mais prevalente no sexo feminino por as mulheres serem mais seletivas. Segundo a teoria da Gestalt, a atração física depende de quem observa e de quem é observado, sendo um produto das partes envolvidas e dependendo do contexto em que estas se encontram (por exemplo contexto de trabalho, lazer, intimidade…).

Quais são os fatores determinantes da atração física?

Aquilo que os estudos científicos nos mostram que determina a atração física pode surpreender-nos. Muitas vezes acreditamos que a atração física é causada por a pessoa ter a característica X ou Y no seu corpo ou imagem, no entanto, há outros fatores e variáveis relevantes nos quais por vezes não pensamos.

Um dos fatores que determinam a atração física é o fator proximidade. Ou seja, teremos tendência a sentirmo-nos atraídos por alguém que está perto de nós, que se move nos mesmos contextos em que nos movemos. Este fator acaba também por ser um fator lógico, já que teremos maior tendência a ter contacto com essas pessoas.

De facto, estudos demonstram que um terço dos casamentos ocorrem entre pessoas que moram perto umas das outras. A sociedade atual, com o advento da tecnologia, veio modificar este fator, já que pode existir uma proximidade virtual, graças à internet. No entanto, a proximidade física também pode influenciar negativamente a atração física, no caso das pessoas que estão perto de nós e com as quais temos algum tipo de conflito ou má impressão inicial por algum antagonismo pré-existente.

Um outro fator determinante para a atração física é a familiaridade. Isto significa que quanto mais em contacto estamos com a pessoa e quanto mais nos identificamos com ela, mais provável é que sintamos atração física. Assim, a atração física terá maior tendência para acontecer entre pessoas que se encontram regularmente e que partilham características similares e que lhes são familiares. Por exemplo, podemos ter maior tendência a sentirmos atração física por alguém que nos faz lembrar ou que é semelhante a pessoas que estão na nossa vida e de quem gostamos (p.ex amigos, pais).

Naturalmente, e uma vez que a atração física, tal como o nome indica, refere-se a aspetos físicos e imediatamente visíveis, esta é também influenciada pela imagem da pessoa. Os estudos revelam que, por um lado, um dos fatores que promove a atração física é a simetria do rosto da pessoa. Por outro lado, também em muito influem os fatores socioculturais. Quer isto dizer que, se o padrão social e cultural de beleza inclui por exemplo um corpo atlético ou magro, teremos maior tendência a sentirmo-nos atraídos por pessoas com estas características. Muitas vezes este processo é inconsciente, ou seja, não nos apercebemos de forma direta de que características físicas da pessoa estão a influenciar a nossa atração física, mas a verdade é que são relevantes.

Muitas das características que provocam atração física têm bases biológicas. Por exemplo, alguns estudos indicam que a presença de gordura em partes específicas do corpo da mulher pode indicar níveis hormonais elevados que estão ligados à reprodução. Deste modo, isto determinaria que os homens se sintam mais atraídos por mulheres com cintura fina e ancas largas, pois seria uma avaliação inconsciente à capacidade reprodutiva da mulher.

Quando falamos em características externas não nos podemos centrar apenas nas características visuais, já que outros fatores parecem ter uma influência importante. A voz, por exemplo, parece estar relacionada com a atração física. Mulheres terão tendência a sentir-se atraídas por homens com voz grave uma vez que esse tipo de voz está relacionado a níveis mais elevados de testosterona. Os cheiros também são importantes para a atração física. Alguns estudos indicam que somos capazes de identificar genes pelo cheiro, escolhendo parceiros com sistemas imunológicos distintos do nosso.

Assim, podemos concluir que a atração é um processo multissensorial, ou seja, no qual intervêm os nossos vários sentidos: visão, audição, olfato… Quando contactamos com alguém, mesmo que inconscientemente, o nosso cérebro começa a processar uma série de informações dessa pessoa, que podem determinar a atração física que sentimos por ela. Em termos da visão, aquilo que procuramos inconscientemente são sinais de saúde, simetria e fertilidade.

Em termos auditivos, as mulheres tendem a procurar homens com voz grave, sinal de elevados níveis de testosterona, e os homens procurarão o contrário (vozes finas) pois será sinal de uma mulher mais feminina. O olfato faz com que captemos sinais químicos denominados feromonas, que transmitem informações importantes em termos genéticos.

Porque é que a atração física é importante?

Podemos eventualmente questionarmo-nos acerca do porquê da importância da atração física, já que no decurso de uma relação amorosa os aspetos da personalidade, por exemplo, são mais preponderantes.

As razões para a importância da atração física residem no facto de que, sem ela, muitas vezes não é possível conhecer o resto. Ou seja, se a primeira impressão que temos da pessoa pender mais para a repulsa ou o afastamento, mesmo que pudéssemos vir a apreciar as suas qualidades psicológicas, não vamos ter oportunidade de as conhecer.

Alguns mecanismos psicológicos ajudam a compreender porque é que a atração física acaba por ser um fator importante, mesmo que inconsciente. Por um lado, existe uma questão estética que é natural para o ser-humano. Ou seja, por natureza temos tendência a sentirmo-nos impelidos pelo que é belo e agradável aos olhos, como a arte, por exemplo. Por outro lado, inconscientemente há uma inferência de que aquilo que é belo, é bom. Ou seja, ainda que isto aconteça de forma involuntária e inconsciente, tenderemos a formar uma impressão global mais positiva se achamos a pessoa bonita e a inferir que ela tem outras características pessoais também positivas.

Não podemos também esquecer a questão biológica e evolutiva. Em alguns aspetos temos também instintos que existem para garantir, entre outras coisas, a propagação da espécie. Assim, é natural por exemplo que os homens se sintam atraídos por mulheres “com curvas” pois isso está associado a uma boa fertilidade. Nas mulheres, há uma propensão para a atração física por homens que apresentam uma estatura forte (noção de proteção de si e da prole).

Atraímo-nos pelo que é semelhante ou diferente?

Existem dois princípios distintos na atração física. Um é o da semelhança ou similaridade, e outro o da diferença ou complementaridade.

O princípio da semelhança ou similaridade na atração física indica que nos sentimos atraídos por pessoas que apresentam características e atitudes semelhantes às nossas, sendo que diferentes estudos ao longo dos anos demonstram que a atração é uma função linear da proporção de atitudes semelhantes. Os motivos que suportam estes princípios passam pelo facto de, quando nos identificamos com as atitudes de alguém e a pessoa é semelhante a nós, sentimo-nos mais apoiados e validados. Por outro lado, a semelhança com outra pessoa permite-nos um sentido de coerência pessoal (“estou com quem gosta do que eu gosto”). Tudo isto reside essencialmente na necessidade natural que o ser-humano tem para se sentir validado, aprovado e integrado.

Outros dados interessantes em alguns estudos demonstraram que pessoas com autoestima elevada têm tendência a ter atração física por pessoas com autoestima média, enquanto que pessoas com autoestima baixa têm tendência a escolher pessoas com autoestima elevada.

Estes dados levam-nos a pensar então na possibilidade de atração física pela diferença ou complementaridade. Ou seja, segundo estes princípios sentimo-nos atraídos por pessoas diferentes porque existe uma maior possibilidade de essas pessoas nos complementarem. As teorias que defendem que a atração física ocorre pela diferença defendem que as pessoas procuram nos outros o que sentem que falta em si mesmas e que procuram nos outros aspetos que valorizam e admiram, mas que não possuem. Segundo os estudos, isto tende a acontecer sobretudo na dinâmica dominador-submisso (pessoas mais dominadoras tendem a sentir atração física por pessoas mais submissas) e doador-recetor (pessoas que gostam mais de dar têm tendência a sentir atração física por pessoas que gostam mais de receber).

Pessoa com autoestima baixa tendem a escolher por complementaridade, enquanto que pessoas com autoestima elevada terão mais tendência a sentir atração física por pessoas com autoestima semelhante.

A conclusão poderá ser a de que para algumas pessoas a atração física é mais determinada pela semelhança, enquanto que para outras é mais determinada pela diferença.

O que dizem as teorias da atração física?

Existem diferentes teorias versadas sobre a atração física que ajudam a melhor compreender de que forma esta se pode processar.

A teoria do reforço defende que nos sintomas atraídos por pessoas que estão associados a situações reforçadoras ou positivas. Por exemplo, quando a pessoa surge num contexto positivo onde nos sentimos apoiados, visíveis, e acarinhados, a atração física tenderá a acontecer. Da mesma forma, se a pessoa de alguma forma impedir que algo de negativo nos aconteça, também nos está a proporcionar reforço positivo e isso pode ser determinante para a atração física.

A teoria da troca defende que o que irá determinar a atração física será o facto de os benefícios ou ganhos serem superiores aos custos ou perdas. Ou seja, tenderemos a sentirmo-nos atraídos por pessoas que nos proporcionem mais benefícios do que custos. Se formos mais exigentes, quereremos mais benefícios, e se formos menos exigentes poderemos ter tendência a “conformarmo-nos” mais. Por exemplo, imaginemos que, entre duas pessoas, uma delas tem 3 benefícios (é bonita, bem-disposta e bem-sucedida) e 2 custos (é insegura e instável). A outra pessoa tem 2 benefícios (é carinhosa e bonita) e 2 custos (é impulsiva e pouco ambiciosa). Segundo esta teoria, ganharia a primeira pessoa, ou seja, a atração física seria maior por ela, já que apresenta mais benefícios. No entanto, temos também de considerar o peso que cada qualidade e cada ponto fraco tem. Por exemplo, para uma determinada pessoa o fator “impulsivo” pode ter um peso muito grande e, por isso, causar mais facilmente alguma repulsa ou afastamento.

A teoria da comparação social defende que temos a necessidade de avaliar as nossas opiniões, atitudes e aptidões. Uma vez que não existe um padrão ou critério objetivo de avaliação, procuraremos comparar as nossas atitudes ou opiniões com as de outras pessoas. Assim, teremos tendência a sentir atração física por aquelas que têm atitudes semelhantes, já que estas pessoas nos proporcionarão validação.

Existem muitas outras teorias, mas estas ajudam-nos já a perceber que existem diferentes formas de ver a atração física, mas geralmente há sempre variáveis em comum envolvidas.

Não podemos ainda esquecer que estes fatores e variáveis serão diferentes de pessoa para pessoa, e dependerão da nossa história de vida e das nossas experiências. Quando somos pequenos e ao longo do nosso desenvolvimento formamos crenças sobre os outros, sobre as relações, sobre o que esperar dos outros, etc. Isso irá interferir e influenciar a nossa atração física e por quem nos sentimos atraídos.  

A atração física pode ser uma aprendizagem?

A atração física, apesar de algo tão natural e automático, também pode ser produto de um processo de aprendizagem. Isto porque desenvolvemos na infância formas de ver o amor e as relações amorosas. Ou seja, desenvolvemos uma representação pessoal na nossa mente que acaba por elaborar, inconscientemente, o parceiro ideal e determinar a nossa atração física.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.