Protagonismo, autonomia, criatividade e autodisciplina. Estas são as premissas do Método Montessori de ensino, idealizado pela médica e pedagoga italiana Maria Montessori (1870 – 1952), cientista da educação que mudou os rumos do ensino tradicional ao incentivar o desenvolvimento do potencial criativo desde a primeira infância.
Difundido em todo o mundo a partir de 1940 – época em que a educação era marcada pela rigidez e até mesmo pelos famigerados castigos físicos -, atualmente o Método Montessori é aplicado em quase todos os países do mundo, o que comprova a sua enorme relevância e a eficácia da pedagogia científica no ensino de crianças, sobretudo nos seus anos iniciais de vida.
Ficou interessado neste assunto e quer saber mais sobre o Método Montessori, nomeadamente como pode ser aplicado no dia a dia e quais as principais diferenças face ao ensino regular? Então não deixe de ler este artigo.
O que é o Método Montessori?
De forma geral, o Método Montessori procura formar as crianças para a vida, saindo da esfera conteudista do ensino tradicional. O seu foco está em desenvolver os alunos de forma holística, abrangendo as suas competências sociais, emocionais e intelectuais.
Enquanto na escola tradicional o professor é o centro do processo de ensino e o único detentor do conhecimento, numa sala de aula onde seja aplicado o Método Montessori, o protagonista é o aluno; passando o educador a assumir um papel de mediação da aprendizagem, identificando e trabalhando potencialidades e dificuldades das crianças.
Com ênfase no desenvolvimento infantil durante a primeira infância, o Método Montessori parte do princípio de que todas as crianças têm capacidade para aprender, e que isso deve acontecer por meio de um processo espontâneo, a partir das experiências proporcionadas pelo ambiente onde os mais pequenos estão inseridos. Portanto, os seus interesses naturais, experiências, personalidade, ritmo, tempo, individualidade, entre outros fatores que devem ser respeitados e acolhidos, o que levará a uma aprendizagem mais significativa e autônoma.
Além de um ambiente estimulador e de profissionais capacitados para auxiliar a criança no seu desenvolvimento, o Método Montessori defende a utilização de materiais desenvolvidos para propiciar experiências concretas, a fim de que a criança seja conduzida gradualmente a abstrações cada vez maiores. Entre esses materiais estão:
- jogos sensoriais para contribuir com a formação das atividades psíquicas e sensoriais;
- cilindros com encaixes sólidos para fortalecimento do desenvolvimento motor, visão, raciocínio, associação e atenção;
- encaixes planos para associação de formas e reconhecimento de formas geométricas;
- atividades de vida diária para ajudar a criança a adquirir noções em relação aos cuidados pessoais e ao ambiente;
- material dourado, desenvolvido para o trabalho com a matemática.
Como funciona o Método Montessori na prática?
O Método Montessori tem foco no desenvolvimento da autonomia, autodisciplina, criatividade e iniciativa pessoal desde a primeira infância, período que compreende de 0 a 6 anos.
Importa referir que as crianças educadas através deste método aprendem também a assumir as responsabilidades decorrentes das suas escolhas: por exemplo, se um aluno age de forma inadequada na sala de aula, cabe ao professor intervir na situação, sempre de forma gentil, porém, firme (portanto, é inverídica a ideia corrente – e não fundamentada – de que o método se baseia em práticas permissivas que poderiam corromper o aluno).
Princípios do Método Montessori
As escolas adeptas da pedagogia Montessori costumam seguir os princípios de autoeducação, educação cósmica, educação como ciência, ambiente preparado, adulto preparado e criança equilibrada. Conheça infra as principais características de cada um destes princípios:
- Autoeducação: é a capacidade inata da criança para aprender por meio da observação e interação com o mundo à sua volta. Para isso, é fundamental que o aluno tenha acesso a um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, e que sejam disponibilizados materiais mais interessantes para que se desenvolva através dos seus próprios esforços, de acordo com o seu ritmo e interesses.
- Educação cósmica: de acordo com este princípio, o educador deve levar o conhecimento à criança de forma organizada (cosmos significa ordem). A sua imaginação deve ser estimulada, e ela deve compreender que tudo no universo tem a sua tarefa, e que nós, seres humanos, somos agentes da manutenção e melhoria do mundo.
- Educação como ciência: maneira de compreender a criança e o fenómeno educativo de acordo com Montessori, e defendida pela ciência de hoje – daí este método ser também conhecido como pedagogia científica. Cabe ao professor utilizar o método científico de hipóteses, teorias e observações para entender as melhores estratégias de ensino e a sua eficácia no dia a dia.
- Ambiente preparado: espaço onde a criança tem a possibilidade de desenvolver a sua autonomia e liberdade, seja em lares ou escolas montessorianas. Nestes ambientes, tudo é pensado para atender às necessidades biológicas e psicológicas das crianças, como mobília de tamanho adequado e materiais de desenvolvimento dispostos de forma a que os mais pequenos acedam livremente.
- Adulto preparado: assim é chamado o profissional que media a aprendizagem da criança, de acordo com o Método Montessori. Como o próprio nome sugere, esse adulto deve conhecer cientificamente as fases do desenvolvimento infantil, dominar ferramentas educativas comprovadamente eficazes e guiar a criança no seu desenvolvimento, garantindo que isso aconteça nas melhores condições possíveis.
- Criança equilibrada: quando tem acesso a um ambiente favorável e recebe auxílio de um adulto preparado, a criança torna-se equilibrada, pois consegue expressar as suas características inatas, cujo desenvolvimento é mais efetivo na primeira infância.
Para que o Método Montessori seja eficaz, é fundamental que todos os seus princípios sejam aplicados, e que estes funcionem de forma harmoniosa, pois só assim a criança se desenvolverá de forma holística e equilibrada.
Referir também que é importante que pais e educadores fiquem atentos aos sinais que a criança emite durante o seu processo de aprendizagem, sendo este o melhor termómetro para identificar a eficiência do método no dia a dia. De acordo com Montessori, “uma das provas da correção do processo educacional é a felicidade da criança”. Portanto, uma criança equilibrada será, consequentemente, uma criança feliz.
Diferenças entre ensino regular e montessoriano
Ao conhecermos os princípios do Método Montessori, ficam mais claras as diferenças entre as escolas regulares e as montessorianas. Conheça infra os principais pontos em que diferem:
Quanto ao método de ensino:
- Escola regular: na generalidade das escolas, a realidade das crianças, bem como as suas subjetividades, não é considerada importante para a sua aprendizagem. Assim, o conhecimento é, simplesmente, transferido do professor para os alunos, de forma vertical;
- Escola montessoriana: vai além da mera “transmissão” de conteúdos, pois tem como foco o desenvolvimento do aluno de forma integral, tanto do ponto de vista intelectual, quanto social e emocional.
Quanto ao papel do aluno:
- Ensino regular: o aluno está subordinado ao professor, tanto no que respeita à aquisição do conhecimento quanto à necessidade de solicitar autorização para tudo o que deseja fazer;
- Ensino montessoriano: a criança adquire uma postura ativa, o que não significa que o adulto preparado, isto é, o professor, será desrespeitado. Aprende conforme o seu ritmo, de forma orgânica e natural.
Quanto à sala de aula:
- Escola regular: o professor fica posicionado na frente da sala, enquanto os alunos ficam atrás e abaixo dele, o que evidencia uma relação hierárquica, isto é, o professor é a autoridade máxima;
- Escola montessoriana: o ambiente é interativo, com diferenciação de lugares apenas para atividades em grupo ou individuais – e não pela distinção entre o papel do aluno e do professor. Todo o mobiliário, como armários e prateleiras, é projetado para estar ao alcance das crianças, o que facilitará a sua interação com os materiais disponíveis na sala.
Quanto à avaliação:
- Ensino regular: dá-se através de atividades, trabalhos e provas, cujo intuito é verificar se os alunos memorizaram todos os conteúdos;
- Ensino montessoriano: todas as atividades desenvolvidas nas aulas são avaliadas, o que dispensa a realização de provas preestabelecidas. A evolução do aluno, bem como o seu desenvolvimento de forma integral – intelectual, social e emocional – são considerados.
Concluindo…
O Método Montessori tem sido aplicado em diversas escolas em todo o mundo, em particular nos primeiros anos de escolaridade. Ademais, também tem sido um importante aliado da aprendizagem em escolas especiais, clínicas de psicopedagogia e lares montessorianos, dada a sua eficácia comprovada.
De acordo com a sua criadora, Maria Montessori, o ponto mais importante do método é a possibilidade de este ajudar a libertar a verdadeira natureza do indivíduo, para que esta possa ser observada e compreendida, e para que a educação se desenvolva com base na evolução da criança, e não o contrário.
Para isso, muitos educadores, felizmente, têm vindo a repensar as suas práticas, apostando num ensino que permita o desenvolvimento espontâneo dos mais pequenos.