Sabia que o islamismo é a religião que mais cresce em todo o mundo? Este surpreendente dado foi revelado pelo Pew Research Center, o centro de pesquisas norte-americano que se dedica ao estudo de diversos temas de impacto regional e global, entre eles, a religião.
Ainda de acordo com esta organização, até ao final do século XXI, caso o ritmo de crescimento se mantenha, os muçulmanos, como são designados os seguidores do islamismo, ultrapassarão os cristãos e tornar-se-ão o maior grupo religioso do mundo.
Trata-se, portanto, de uma religião incontornável, sendo importante compreender os seus conceitos, as suas origens, leis, a sua representatividade mundial e a posição da mulher na sociedade islâmica. Por esse motivo, redigimos o presente artigo, em que encontrará estas e outras informações, bem como a desconstrução de alguns mitos em torno do islamismo, como dogmas extremistas e terrorismo. Boa leitura!
Nem todos os árabes são muçulmanos
Como já mencionado, os muçulmanos são os seguidores do islão, todavia nem todos os árabes são muçulmanos. Este é um equívoco muito frequente no mundo ocidental, que teima em associar árabes e muçulmanos, mas que é importante ser esclarecido. É verdade que a maioria dos árabes é muçulmana, contudo, muitos seguidores do islamismo estão espalhados pelos vários cantos do globo, principalmente na Ásia, em países como Índia e Indonésia.
A palavra islão dá origem ao termo islamismo, e o significado de islão é submissão, obediência, ação de obedecer a Deus (Allah, em árabe). O seu marco inicial dá-se no século XII da era cristã, quando a figura de Maomé ascende ao declarar ter recebido do anjo Gabriel os princípios básicos que conduzem a fé islâmica.
As profecias de Maomé foram perpetuadas no Alcorão, também conhecido por apenas por Corão, o livro sagrado do islamismo. Ao longo dos séculos, o livro sofreu diferentes intervenções, o que comprometeu sobremaneira a sua originalidade. Não obstante, os muçulmanos acreditam que o Alcorão, na sua forma autêntica, isto é, em árabe, propaga a mensagem final e corrige quaisquer equívocos difundidos por outras escrituras.
Leis fundamentais: pilares da religião muçulmana
O islão é norteado por cinco pilares, organizados na sequência em que foram colocados em prática por ocasião da revelação da religião de Allah. A saber:
1. Proclamação de fé
Conhecida pelos muçulmanos como Shahada, a proclamação de fé declara que ninguém merecer ser adorado, a não ser Allah, cujo mensageiro é Maomé. Para se tornar um praticante do islamismo, basta que a pessoa dê esse testemunho de fé, dispensando assim qualquer formalidade para que ingresse nessa religião.
2. Oração
Cinco vezes ao dia os muçulmanos fazem a sua oração, nomeadamente, a Salah. Esta oração tem como objetivo manter a fé islâmica e reafirmar, quotidianamente, a submissão a Deus.
3. Caridade compulsória
A Zakah, como é conhecida a caridade compulsória, é uma obrigação do muçulmano cuja situação financeira o permita prestar apoio aos menos favorecidos. É compulsória porque não é facultativa, isto é, deve ser feita, equivalendo a 2,5% anuais do património individual do seguidor do islamismo.
4. O jejum do Ramadão
O nono mês do calendário islâmico, o Ramadão, vem acompanhado por períodos de jejum que compreendem o nascer até o pôr do sol. Além da completa abstenção de comida, também é imperativo que se faça o jejum de bebida e atividades como sexo, jogos e diversões. Vale lembrar que é obrigatório apenas aos muçulmanos saudáveis, visto que a dieta rigorosa poderia comprometer indivíduos de saúde fragilizada.
5. Peregrinação a Meca
No último mês do calendário islâmico (Dhu al-Hijja), entre os dias 8 e 13, é celebrado o Hajj, uma peregrinação a Meca, cidade que é considerada sagrada pelo islamismo. A viagem até a Arábia Saudita deve ser realizada pelo menos, uma vez na vida por fiéis que apresentem boas condições físicas e financeiras. A tradição remonta a Abraão, o pai de todos os profetas, levando, todos os anos, milhares de muçulmanos à famosa cidade, durante o evento.
O papel da mulher muçulmana
Assim como em outras religiões, no islamismo há correntes ultraconservadoras, que propagam a inferioridade da mulher em relação ao homem. Essas correntes instruem os homens a usar e a cuidar da mulher, enquanto a elas é reservada a obrigação de lhes obedecer e serem submissas, sob pena de serem castigadas caso não respeitem o versículo da surata, intitulado “As mulheres”:
Os homens são os protetores das mulheres, porque Deus dotou uns com mais (força) do que as outras, e pelo o seu sustento do seu pecúlio. As boas esposas são as devotas, que guardam, na ausência (do marido), o segredo que Deus ordenou que fosse guardado. Quanto àquelas, de quem suspeitais deslealdade, admoestai-as (na primeira vez), abandonai os seus leitos (na segunda vez) e castigai-as (na terceira vez); porém, se vos obedecerem, não procureis meios contra elas. Sabei que Deus é Excelso, Magnânimo.
Alcorão, surata 4.34
Em alguns países islâmicos existe uma considerável restrição à liberdade, especialmente no que se refere aos direitos das mulheres. Entre essas restrições estão a obrigatoriedade do uso de indumentárias que cubram a cabeça e o direito restrito ao trabalho formal. Tais leis são cumpridas em países como Arábia Saudita, Afeganistão, Irã, Síria e Sudão, considerados mais radicais.
Islamismo, extremismo, jihadismo e terrorismo
Para entender o que é islamismo é fundamental que fique claro que o jihadismo (cujo significado é penitência, esforço, luta) não é sinónimo de terrorismo. Todavia, existem correntes extremistas que pregam o jihadismo radical, que defende a luta armada contra qualquer manifestação que não pregue o regresso ao “verdadeiro islão”.
Dessa conceção nasceu o termo “Guerra Santa”, em que nem mesmo a democracia tem vez. Para os defensores do extremismo, a guerra é essencial para a manutenção da lei islâmica; não obstante, existem também os muçulmanos moderados, que defendem a dissociação do termo jihadismo das práticas desses grupos radicais, visto que entendem ser incorreta a sua ligaçãocom práticas violentas.
O islamismo no mundo
O crescimento do número de adeptos do islamismo caminha a passos largos no mundo, e isso não acontece apenas em virtude da alta taxa de natalidade nos países tradicionalmente muçulmanos, mas também graças ao grande número de convertidos, influenciados sobretudo por imigrantes adeptos do islamismo.
Este crescimento acontece inclusive nos Estados Unidos da América, país em que o preconceito e a xenofobia dirigidos aos muçulmanos ainda é bastante forte. Para se ter uma ideia, de acordo com o Pew Research Center, entre os anos de 2007 e 2017 houve um crescimento de 2,35 milhões para 3,45 milhões de muçulmanos, nos EUA. Já em Portugal, calcula-se que existam 50 mil muçulmanos, maioritariamente concentrados na zona da grande Lisboa – Odivelas, Laranjeiro, Palmela, Barreiro – mas também localizados no Porto e no Sul do país.
A título de conclusão, reiterar que a maioria dos adeptos do islamismo não compactua com atos violentos praticados por grupos extremistas, defendendo, inclusive, que tais atos não representam, de forma alguma, o islão. Desta forma, é importante referir que o problema não é a religião, mas sim o seu uso político, sobretudo por aqueles que usam o islamismo para perpetuarem governos ditatoriais.
É preciso combater o avanço da islamofobia, comportamento que segrega e causa feridas profundas neste grupo religioso que, assim como tantos outros, apenas deseja professar livremente a sua fé.