Verdade desportiva: o que é, objetivos e valores

Verdade desportiva

Conceito que representa uma estrutura moral que define limites para o comportamento dos atletas, a verdade desportiva tem como objetivo preservar um ambiente amistoso e civilizado para os praticantes de desportos, independentemente de serem profissionais ou amadores.

Importa referir que a verdade desportiva é essencial para a concorrência leal e para a justiça nas diferentes modalidades, onde as atitudes são colocadas à prova pela comunidade.

Facto é que a maioria dos atletas dedica a sua vida profissional à superação física e técnica, visando atingir bons resultados para ganhar títulos e notoriedade. No entanto, alguns indivíduos, na ânsia de alcançarem essa meta, acabam por ultrapassar os limites impostos pela ética e deontologia, o que resulta em atitudes negativas ou controversas, sejam elas derivadas de condutas irrefletidas ou assumidamente mal-intencionadas.

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O que é verdade desportiva?

Como referido, a verdade desportiva, também conhecida como ética desportiva, diz-nos como se devem comportar todos aqueles que estão envolvidos na prática desportiva, de forma a prevenir a(o):

  • violência no desporto;
  • dopagem;
  • racismo;
  • xenofobia;
  • discriminação social.

Além de praticantes e treinadores, existem outros agentes desportivos que devem apresentar boa conduta, tais como:

  • Educadores e encarregados de educação;
  • Árbitros, juízes e cronometristas;
  • Profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, massagistas etc.);
  • Dirigentes e entidades desportivas;
  • Espetadores e adeptos;
  • Comunicação social (televisão, jornais, rádio);
  • Estado.

Ou seja, é dever de todos os envolvidos nas práticas desportivas primar pela manutenção da verdade desportiva.

Valores da verdade desportiva

Existem alguns valores que devem ser levados em consideração quando o assunto é verdade desportiva. São eles:

  • Verdade: existe quando os agentes desportivos se comportam de forma exemplar, sem jamais atuar em prol de alterações de resultados ou desempenhos que não sejam eticamente validados. A utilização de doping ou a corrupção de árbitros e juízes são exemplos de ações que deturpam a verdade desportiva.
  • Cooperação: esta acontece quando todos os agentes desportivos trabalham em conjunto para atingir objetivos comuns.
  • Imparcialidade: este é, indubitavelmente, um valor imprescindível para aqueles que têm como missão julgar e avaliar o desempenho desportivo. Para isto, o agente deve olhar para cada atleta da mesma forma, ou seja, livre de preconceitos e sem intenção de obter quaisquer favores.
  • Tolerância: ser tolerante significa aceitar quem é diferente, sem tentar mudar aquilo que cada um é.
  • Determinação: fundamental para que objetivos sejam atingidos.
  • Respeito: pelos outros, por nós próprios, pelas organizações, pelas regras e pelos valores. Por isso diz-se que o respeito é primordial para que a verdade desportiva seja preservada.
  • Coragem: para ultrapassar barreiras e obstáculos, assumir erros e sempre primar para que a verdade desportiva não seja colocada à prova em nove de interesses escusos, mesmo diante da possibilidade de se favorecer de maneira inescrupulosa.
  • Justiça: esperar e exigir justiça para si e para os outros, tratando a todos de forma correta e imparcial.
  • Ajuda: estar disponível para ajudar quem precisa, mesmo que isso possa ir contra os próprios interesses pessoais.

Todos os valores descritos estão intrinsecamente relacionados a um conceito muito divulgado nos desportos, o Fair Play, assunto sobre o qual falaremos adiante. Confira.

O que é o Fair Play?

Em tradução direta do inglês a expressão Fair Play significa “jogo justo”, mas ficou conhecida como “jogo limpo” no português, sendo também sinónimo de lealdade, bom senso, igualdade, neutralidade e boa conduta.

O termo advém dos desportos tradicionais e fala sobre preservar a integridade de uma partida e dos seus participantes, além de não ganhar vantagem de forma injusta. Por representar um valor ético, não pode ser considerada uma prática obrigatória, no entanto, é fortemente aconselhada por entidades desportivas e pela legislação portuguesa.

A expressão Fair Play foi utilizada pela primeira vez nos desportos pelo barão Pierre de Coubertin – um dos primeiros organizadores dos Jogos Olímpicos da Era Moderna – em 1896, na cidade de Atenas, Grécia.

Coubertin empregou o conceito para associar o ideal olímpico aos valores da honra, honestidade, lealdade e respeito entre os atletas e por si próprio, uma ideia advinda do “cavalheirismo”, devidamente aplicada ao desporto.

O objetivo era estimular que os praticantes jogassem sem violência, de maneira justa, sem prejudicar intencionalmente os seus adversários e, não menos importante, dentro das regras da competição desportiva. Portanto, quando falamos sobre verdade desportiva, é inevitável estabelecer relação com o Fair Play.

O que diz a lei sobre a verdade desportiva?

Assim como em outros países, em Portugal existe legislação específica no que respeita à verdade desportiva. De acordo com a Constituição portuguesa, no seu artigo 79.°:

1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto.
2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto.

Artigo 79.º da Constituição da República Portuguesa

Ademais, a Lei n.º 5/2007 (Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto) versa sobre a verdade desportiva, incumbindo ao Estado o dever de prevenir e punir comportamentos antidesportivos e apoiar projetos e iniciativas a favor da tolerância e do espírito desportivo.

Na Europa, bem como no resto do mundo, existem leis e regras, além de entidades cujo intuito é promover a ética no desporto, tais como a(o):

  • Convenção Europeia contra o Doping;
  • Código da Ética Desportiva do Conselho da Europa;
  • Carta Europeia do Desporto;
  • Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da UNESCO;
  • Entre outras.

Concluindo…

Infelizmente, para alguns a verdade desportiva pode ser vista como um obstáculo à procura da vitória, sobretudo para aqueles, sejam atletas, treinadores ou gestores, que procuram ganhar a qualquer custo, pois acreditam que vencer é componente fundamental do espetáculo. Todavia, a ânsia pela vitória não se deve sobrepor à ética, sob pena de se criar uma atmosfera de violência, agressões, subornos, doping dentre outros comportamentos reprováveis.

Por fim, a verdade desportiva exige que, além de respeitar o adversário, se saiba reconhecer o mérito do vencedor, guardando para si eventuais sentimentos de desapontamento, frustração e tristeza em razão de uma derrota ou resultado desfavorável. Só é possível existir ética desportiva se todos os agentes envolvidos assumirem a sua responsabilidade de agir de forma correta.

É um aficionado do desporto e quer conhecer a regra das modalidades mais populares em Portugal? Em caso afirmativo, não deixe de ver os nossos artigos sobre:

Luana Castro Alves

Licenciada em Letras e Pedagogia, redatora e revisora, entusiasta do universo da literatura, sempre à procura das palavras. "Não se pode escrever nada com indiferença." (Simone de Beauvoir)