Discriminação no acesso ao emprego. Devo omitir a idade no currículo?

omitir a idade no curriculo

Não obstante o Código do Trabalho proibir a discriminação no acesso ao emprego, não há como negar que é ainda uma realidade, seja em razão do sexo, orientação sexual, estado civil ou até da idade.

Num mercado cada vez mais competitivo a idade é tida por alguns como um fator que pode dificultar a procura ativa de emprego. Isto acontece tanto em candidatos mais jovens, como em candidatos mais velhos.

No entanto, na generalidade dos casos, são os candidatos com idade mais avançada que acabam por ser mais prejudicados. Em parte, pelo preconceito de alguns empregadores relativamente aos funcionários mais velhos, considerando-os “ultrapassados”, mesmo que possuam todas as qualificações necessárias para o cargo em questão.

Neste artigo partilhamos algumas dicas de como fugir à “armadilha da faixa etária” no seu currículo.

Artigo 24.º
Direito à igualdade no acesso a emprego e no trabalho
O trabalhador ou candidato a emprego tem direito a igualdade de oportunidades e de tratamento no que se refere ao acesso ao emprego, à formação e promoção ou carreira profissionais e às condições de trabalho, não podendo ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão, nomeadamente, de ascendência, idade, sexo, orientação sexual, identidade de género, estado civil (…).

Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro (Código do Trabalho)

Devo mentir quanto à minha idade no currículo?

O “problema” da idade parece afetar com mais frequência os trabalhadores acima da faixa dos 40 anos de idade. No entanto, é importante referir que os candidatos mais jovens também passam por dificuldades, em grande medida por não terem experiência profissional.

É precisamente por isso que, não raras vezes, muitos candidatos tendem a mentir sobre a idade: os mais novos a fazerem-se passar por mais velhos e vice-versa.

No entanto, em situação alguma deve mentir quanto à idade, porém nada o impede de a omitir no seu currículo (incluindo a data de nascimento). Já na entrevista de emprego, não aconselhamos que o faça, até porque terá oportunidade de mostrar ao entrevistador que é mais do que a sua idade (seja mais novo ou mais velho).

Use o curriculum vitae em seu proveito, evidenciando os aspetos que considera que possam ser considerados como positivos para o recrutador. Deixamos algumas dicas de como o fazer.

Dicas de como omitir a sua idade no currículo

É bom ficar claro que o currículo não é uma tese de dissertação de mestrado, o que significa que não está obrigado a mencionar tudo a seu respeito (apenas aquilo que é relevante para a vaga de emprego em questão). Não vale a pena perder demasiado tempo a tentar “encher” o seu currículo quando na realidade, quanto mais objetivo e sucinto melhor.

Relativamente à questão da idade, até a pode mencionar, no entanto procure dar mais ênfase a outros aspetos, como veremos em seguida.

Experiência profissional rica e engrandecedora

É expectável que um profissional de 50 anos tenha, pelo menos, 20 anos de experiência profissional, razão pela qual ao indicar a data exata em que começou a trabalhar estará, ainda que indiretamente, a mencionar a sua idade. Caso não o pretenda fazer, poderá optar por simplesmente não indicar datas, colocando apenas os locais onde trabalhou.

O importate é direcionar o foco do recrutador para aspetos mais relevantes que os seus dados pessoas, designadamente para a experiência profissional que possa ser realmente relevante para a vaga de emprego em questão.

Formação académica relevante

Outra dica que o pode ajudar a omitir referências à idade é não datar o início e conclusão da sua formação académica. Regra geral, o ingresso no ensino superior faz-se por volta dos 18 ou 19 anos e a conclusão da licenciatura ocorre 3 a 5 anos depois (em função do curso e do aproveitamento escolar).

À semelhança da dica que demos quanto à experiência profissional, poderá apenas mencionar a sua formação secundária, superior ou técnica, bem como a entidade onde se formou, não sendo necessário colocar a data.

Afinal, o que vale são as competências descritas no seu currículo e não o ano em que concluiu os estudos. Porém, é importante mostrar que se mantém atualizado (especialmente quando a sua área profissional estiver relacionado com tecnologia, por exemplo). Procure saber se o que aprendeu anos atrás ainda se aplica hoje em dia.

Como valorizar a sua idade no seu currículo?

Caso decida colocar a sua idade no currículo, existem algumas estratégias que poderão ser úteis para dar maior ênfase às suas experiências e competências perante o recrutador. Deixamos alguns exemplos.

1. Realce as experiências e conquistas recentes

A partir do momento em que o avaliador analisar o seu currículo, é importante que perceba que está perante um profissional que, independentemente da idade que tenha, está plenamente capacitado para desempenhar o trabalho e contribuir para o sucesso da empresa.

Uma boa forma é realçar as suas experiência recentes, isto é, dar contemporaneidade às tarefas que desempenhou ou metas profissionais que atingiu. É importante que o recrutador perceba que ainda “ontem” atingiu bons resultados, pelo que, não será por ser mais jovem ou mais velho, que não os conseguirá atingir novamente.

2. Demonstre que se consegue adaptar

Uma boa forma de afastar o preconceito em torno da idade é mostrar que é alguém com boa capacidade de adaptação aos desafios que lhe são colocados. Se tem 60 anos e mudou de área profissional recentemente não deixe de o evidenciar. Já se tem competências tecnologias, não deixe de as mostrar ao recrutador.

É importante os recrutadores perceberem que não é por ter 20, 30, 40, 50 ou 60 anos que está parado no tempo. No entanto, faça isto de forma equilibrada. É um tanto ao quanto comum que – até como forma de combater um eventual preconceito com a idade – candidatos mais velhos optem por dar demasiado relevo às competência informáticas, referindo-as exageradamente no currículo ou na própria entrevista de emprego (podendo soar a algo “forçado”).

3. Referências e networking próprios da idade

Até pode tentar omitir a idade no seu currículo, no entanto os seus anos de trabalho podem servir para demonstrar ao recrutador que foi, ao longo do tempo, adquirindo contactos na sua área profissional. Contactos estes que um profissional mais jovem não terá.

Poderá até mencionar no seu curriculum um outro contacto que tenha feito, podendo até indicá-lo como possível referência do seu trabalho.

Resumo dos principais

  1. Infelizmente, a idade é ainda um fator de discriminação por parte de algumas entidades empregadoras, não obstante a lei o proibir;
  2. Alguns candidatos, sobretudo os mais velhos, optam por omitir a idade do currículo, de forma a evitar possíveis situações de discriminação;
  3. A decisão de colocar a idade no currículo é exclusivamente sua;
  4. Em situação alguma deve mentir quanto à sua idade (isto é, dizer que é mais novo ou mais velho do que realmente é). No entanto, nada o impede de a omitir;
  5. Independente da sua decisão, é preciso ter em mente que é sempre possível “virar o jogo” e transformar algo que até pode ser encarado por alguns como uma desvantagem em algo que o diferencie positivamente dos restantes candidatos;
  6. Caso opte por não mencionar a idade no seu currículo, procure dar maior destaque à sua experiência profissional (em particular às suas conquistas) e à sua formação académica), de forma a focar a atenção do recrutador naquilo que é realmente importante: o profissional que é;
  7. Caso decida incluir a idade, demonstre que esta não é uma desvantagem mas sim uma vantagem.

Worker.pt editorial team

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