Doenças ocupacionais respiratórias: o trabalho como fator de risco

doenças ocupacionais respiratórias

As doenças ocupacionais respiratórias dizem respeito a um grupo de doenças pulmonares, que causam sintomas respiratórios, e que têm na sua origem alguma exposição prolongada – laboral ou ambiental – com inalação de substâncias nocivas para o pulmão.

As doenças ocupacionais respiratórias são um importante problema de Saúde Pública e têm sido amplamente estudadas nos últimos anos, existindo já medidas postas em prática para diminuir a sua prevalência.

Substâncias responsáveis pelas doenças ocupacionais respiratórias

São várias as substâncias que podem causar doenças ocupacionais respiratórias e têm variado ao longo das décadas. Podemos dividir estas doenças em dois grupos, as pneumonites de hipersensibilidade (ou alveolite alérgica extrínseca) causadas por inalação de matérias orgânicas e as pneumoconioses, causadas por inalação de substâncias de origem mineral (p.e. asbesto, sílica, berílio e carvão).

Em suma, qualquer substância que seja pequena o suficiente para andar dispersa no ar, pode ser inalada, alojar-se nos pulmões e levar a inflamação e alterações locais, com possível evolução para doença.

Pneumonites de hipersensibilidade

Dentro das pneumonites de hipersensibilidade encontram-se, por exemplo, o pulmão do agricultor (com a exposição a feno em decomposição, que liberta uma espécie de fungo no ar), o pulmão do criador de pássaros (por proteínas libertadas por diversas aves, principalmente pombos ou periquitos – é muito importante considerar esta causa nos criadores de aves).

Pneumoconioses

Quando nos referimos às pneumoconioses, existem exemplos bastante conhecidos em Portugal, como os asbestos (ou amianto), que durante anos foram utilizados na construção de revestimentos e coberturas de escolas, hospitais, entre outros. O perigo existe quando o material se encontra em degradação e liberta fibras que podem ser inaladas e se vão alojar nos pulmões, podendo provocar doença anos ou décadas depois. Estão associados ao aparecimento de asbestose (inflamação dos pulmões, com cicatrização pulmonar, devido aos asbestos), mesotelioma (cancro da pleura – superfície que reveste o pulmão), cancro do pulmão e cancro gastrointestinal. Desde 2005 foi proibido o uso de asbestos, com a sua posterior remoção em massa de diversos locais.

Por serem várias as substâncias que podem dar origem a estas doenças não irei entrar em detalhe sobre cada uma deles, é importante reter, no entanto, a importância de, caso surjam sintomas respiratórios, comunicar ao médico exposições prolongadas passadas a poeiras, gases ou metais, como os asbestos ou a sílica. De particular importância são as exposições laborais.

Asma ocupacional

Além das pneumonites de hipersensibilidade e pneumoconioses é também de destacar a asma ocupacional, associada principalmente a alergias a moléculas, como as presentes na farinha de trigo nas padarias e di-isocianatos nos tintas de spray.

Doença pulmonar obstrutiva crónica

Outra doença respiratória associada é a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) que, sendo causada principalmente pelo fumo de tabaco, tem em cerca de 15% dos indivíduos influência da exposição a vapores, gás, fumos e poeiras, substâncias que eram altamente prevalentes em mineiros e na indústria têxtil e na agricultura.

Estas substâncias tóxicas podem, portanto, ser causa de asma e DPOC, ou estarem implicadas nas exacerbações da doença, podendo levar a necessidade de hospitalizações.

Sintomas das doenças pulmonares ocupacionais

Independentemente da causa, existem vários sintomas relacionados com estas doenças, desde escorrência nasal e espirros frequentes a dificuldade em respirar e tosse persistente com expetoração. Também pode estar presente dor torácica persistente.

Habitualmente, os sintomas são mais exacerbados à segunda-feira (com o início da semana de trabalho) e melhoram parcial ou totalmente ao fim de semana (ou folgas).

Tratamento das doenças pulmonares ocupacionais

A palavra chave é a prevenção, já que o tratamento visa apenas a melhoria dos sintomas, não sendo possível a cura. Ter conhecimento das matérias de risco e evitá-las é o melhor caminho para diminuir a incidência destas doenças. Para isso é necessário um trabalho conjunto do governo, empresas e indivíduos.

Entre os métodos de prevenção encontram-se:

  • Cessação tabágica: ao eliminar um dos grandes fatores de doenças pulmonares é possível diminuir o risco de doenças pulmonares ocupacionais;
  • Equipamento de proteção: como, por exemplo, máscaras faciais, para evitar a inalação de matérias tóxicas.

Em tom de conclusão, em caso de sintomas respiratórios que se prolongam no tempo, ou que sejam mais frequentes no início da semana, que motivem uma ida ao médico é importante referir as exposições ocupacionais que podem levantar novas hipóteses diagnósticas.

Lúcia Ribeiro Dias

Desde muito cedo que a possibilidade de tratar o outro a cativou. Assim se tornou Mestre em Medicina. Do percurso já feito, considera que há sempre algo a aprender com o doente, seja clinica ou pessoalmente. Além da Medicina gosta de se aventurar em viagens longínquas, de preferência sem planos. A literatura é outro dos grandes gostos, tendo sempre um livro por perto.

Adicionar comentário