É somente natural que existam diversas dúvidas sobre os cuidados paliativos, designadamente sobre o que são, a quem se destinam, quais as suas funções e por aí adiante.
A ideia que frequentemente circula é que os cuidados paliativos se dedicam apenas a idosos e a doentes em fase terminal, mas, como iremos ver, tem um plano de ação mais abrangente. Outra ideia problemática é que se trata de uma desistência, de um ponto final na tentativa de tratamento. Isto é, também, uma ideia errada e que pode causar danos indiretos, por privar os doentes das vantagens dos cuidados paliativos.
O que são os cuidados paliativos?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os cuidados paliativos são “uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias confrontadas com os problemas associados a uma doença ameaçadora da vida, através da prevenção e do alívio do sofrimento, a identificação precoce, avaliação impecável e o tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais”.
Daqui inferimos que o seu papel é melhorar a qualidade de vida, do próprio e dos familiares, em fases avançadas de doença ou quando não se prevê cura médica ou cirúrgica para a patologia em causa.
Como podem os cuidados paliativos ajudar?
Com o envelhecimento contínuo da população e o aumento das doenças crónicas (mesmo em idade pediátrica e muito em parte pelo melhor controlo das fases agudas) é de prever que sejam cada vez mais necessários.
Por muito que a medicina avance a passos largos, para cada doença e doente pode existir um momento em que não existe mais terapêutica ou cirurgia disponível ou que, ainda que existam, tragam mais dano que benefício. Nestes casos torna-se imperioso dar conforto ao doente, assegurar que se controla a dor e que se proporcionam dias, meses ou até anos com a melhor qualidade de vida possível.
Apesar de soar muito bom na teoria é, ainda, um assunto tabu. Por vezes a decisão de chamar os cuidados paliativos é encarada como uma “desistência” do doente, mas é precisamente o contrário. É compreender que, ainda que possa ser difícil aceitar, existem limitações na Medicina e que existem limitações em nós próprios, ser humano, como ser frágil.
Os cuidados paliativos assumem, assim, além de uma perspetiva médica, uma perspetiva humanista, de ajudar o indivíduo e a respetiva família, nesta fase tão delicada das suas vidas. Todos nós temos direito a uma vida e a um final digno, os cuidados paliativos pretendem assegurar isso mesmo. Não se trata de retirar toda a medicação, mas sim de colocar a necessária para que o doente fique confortável e com os menores efeitos laterais possíveis.
Não se trata de uma escolha pelo doente, mas de uma discussão conjunta, entre médicos-doente-família, procurando compreender o que espera o doente e a família e fornecendo as ferramentas necessárias nesta fase.
Quem são os profissionais dos cuidados paliativos?
Tendo em conta a complexidade inerente, as equipas de cuidados paliativos são, idealmente, formadas por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais. De facto, é fornecido um importante apoio psicológico e, até espiritual, tendo em conta as necessidades específicas e as crenças de cada indivíduo.
As equipas de cuidados paliativos atuam tanto a nível hospitalar como na comunidade. A nível hospitalar as unidades de cuidados paliativos prestam cuidados a doentes internados e podem estar inseridas em hospitais ou serem estruturas de apoio aos hospitais (com localização distinta). As equipas de domicílio, como o nome indica, apoiam os doentes e familiares nos seus próprios lares, ajudando com a adaptação necessária.
A quem se destinam os cuidados paliativos?
A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) define como potenciais beneficiários dos cuidados paliativos doentes com:
- Doenças crónicas progressivas ou limitantes;
- Doenças agudas, graves e ameaçadoras de vida;
- Malformações congénitas ou outras situações que necessitem de apoio e/ou terapêutica a longo prazo (as crianças, principalmente, podem necessitar dos serviços durante muitos anos, ou décadas);
- Doença ameaçadora da vida em que a opção foi fazer tratamento de suporte;
- Em fase terminal, sem possibilidade de recuperação ou estabilização.
Por fim, é importante perceber que os cuidados paliativos não são dispendiosos, nem encarecem os gastos dos sistemas de saúde, podendo até reduzir os custos pela melhor racionalização dos meios.