Chamamos de fístula uma conexão incomum, uma espécie de canal, entre duas estruturas que usualmente não são conectadas, por exemplo, um órgão que se liga a um outro órgão, ou a um vaso sanguíneo que se liga a uma artéria. As fístulas podem aparecer em diferentes regiões do corpo, surgindo como consequência de uma lesão, um abcesso ou outro tipo de doença.
É interessante referir que algumas fístulas podem ser criadas para fins terapêuticos, tendo como função auxiliar um tipo de tratamento específico. Este é o caso da fístula arteriovenosa, técnica muito utilizada em pacientes de hemodiálise.
Criada através de um procedimento cirúrgico, a fístula intravenosa consiste numa ligação entre uma artéria e uma veia, sendo fundamental para os pacientes que não possuem veias de alto calibre capazes de suportar a pressão exercida pela filtração do sangue durante sessões de hemodiálise. A fístula possibilita o aumento da capacidade de fluxo sanguíneo do vaso, permitindo então que o paciente suporte o tratamento.
Ademais, existe ainda a fístula anal, assunto que abordamos neste artigo. Se está a passar por este problema, sugerimos que fique atento às informações que aqui partilhamos e saiba mais sobre o que é fístula anal, os seus sintomas, causas, tratamento e recuperação. Boa leitura!
Fístula anal: saiba mais sobre esta condição
A fístula anal é um tipo de ferida que se forma desde a última porção do intestino até à pele do ânus. A fístula cria um túnel estreito e causa sintomas como dor, vermelhidão e sangramento anal.
Normalmente, a fístula anal surge depois de um abcesso no ânus, mas também é comum em pacientes afetados por doenças inflamatórias do intestino, como a diverticulite e a doença de Crohn, apenas para citar dois exemplos.
Na maioria dos casos, o tratamento da fístula anal é cirúrgico, por isso, caso suspeite estar a sofrer desta condição, sobretudo depois de ter tido um abcesso, é recomendável que procure um médico proctologista ou um especialista em gastrenterologista para que o diagnóstico seja feito da forma correta.
Quais os principais sintomas da fístula anal?
Entre os principais sintomas da fístula anal, destacamos:
- Inchaço ou vermelhidão da pele do ânus;
- Dor constante, principalmente ao sentar-se ou a caminhar;
- Ocorrência de sangue ou pús libertados através do ânus;
- Dor abdominal;
- Diarreia;
- Perda de apetite;
- Diminuição do peso corporal;
- Náuseas (quando a fístula está infecionada ou inflamada).
Os sintomas acima descritos são importantes sinais de alerta, por isso, não hesite em procurar ajuda de um médico especialista, nomeadamente, um proctologista ou gastrenterologista.
Apenas estes profissionais serão capazes de realizar o diagnóstico por meio de observação do local da fístula e do exame de ressonância magnética. Feito isso, o paciente será submetido ao tratamento apropriado.
Quais as principais causas da fístula anal?
As fístulas anais podem ocorrer sem causa específica, em ambos os géneros e em qualquer idade. Em alguns casos, surgem em consequência da obstrução dos canais de drenagem de glândulas localizadas na parede do canal anal, próximo aos esfíncteres anais.
Essa obstrução causará um processo inflamatório e induzirá à formação de um trajeto fistuloso, cuja direção é a superfície corporal, onde provocará uma abertura na pele – através da qual será drenado o conteúdo impedido de ser eliminado pelo canal anal.
Algumas pessoas podem ser mais suscetíveis à formação da fístula anal, sobretudo aquelas que sofrem de:
- Fissuras anais;
- Doença de Crohn;
- Diverticulite;
- Doenças anorretais malignas;
- Tuberculose;
- Traumatismos perirretais ou anais;
- Cancro;
- Infeções de transmissão sexual tais como o VIH, a clamídia ou a sífilis;
- Outras doenças infeciosas.
É possível prevenir a fístula anal?
Sim, e a melhor maneira de prevenir uma fístula anal é o tratamento adequado das doenças anorretais. Por isso, é fundamental que se faça o tratamento adequado do abscesso perianal, afim de minimizar uma evolução desfavorável.
Como é feito o tratamento da fístula?
Se a fístula anal não for devidamente tratada, isso poderá ter consequências graves, nomeadamente uma infeção e até mesmo incontinência fecal.
Estas complicações podem ser evitadas graças a um procedimento cirúrgico designado por fistulectomia anal. Nesta, o médico faz um corte sobre a fístula, expondo assim todo o túnel entre o intestino e a pele; depois, remove o tecido lesionado do interior da fístula, colocando um “fio especial” para auxiliar na sua cicatrização. Por fim, a ferida recebe pontos, sendo fechada.
Todo procedimento é feito com anestesia geral ou anestesia peridural, evitando assim que o paciente sinta dor. Antes da cirurgia, é utilizada uma sonda para explorar a ferida e analisar se existe apenas um túnel ou se existe uma fístula complexa, isto é, quando há vários túneis. Neste último caso, podem ser necessárias duas ou mais cirurgias a fim de que sejam fechados um túnel de cada vez.
Todavia, existem outras terapêuticas que devem ser consideradas pelo médico a partir da avaliação de cada caso, entre elas, enxertos, tampões e fios de sutura especiais. Na Doença de Crohn, por exemplo, antes de qualquer procedimento cirúrgico o paciente deve receber tratamento medicamentoso.
Como é a recuperação pós-operatória?
Para evitar que ocorra qualquer complicação, como sangramento ou infeção, bem como garantir o desaparecimento do efeito da anestesia, é recomendado que o paciente permaneça no hospital por, pelo menos, 24 horas. Cumprido este período, poderá voltar para casa, onde deverá respeitar repouso por 2 a 3 dias. Durante essa etapa, fará uso de antibióticos receitados pelo médico, como amoxicilina + ácido clavulânico, ou anti-inflamatórios, como ibuprofeno.
A higiene da região afetada deve ser realizada com água e sabão de pH neutro; além disso, a troca dos curativos, momento em que são aplicadas pomadas com analgésicos, deve ser feita pelo menos 6 vezes ao dia. Durante a primeira semana, é essencial que se privilegie uma dieta equilibrada, rica em fibras, capaz de evitar a prisão de ventre, visto que a acumulação de fezes aumenta a pressão sobre as paredes do ânus, facto que dificultará a cicatrização da cirurgia.
Referir que pequenos sangramentos são normais no pós-operatório de uma fístula anal, sobretudo quando a higiene do local é feita com papel higiénico. Não obstante, caso o sangramento se intensifique, sendo este acompanhado de uma dor aguda, é indispensável que consulte o seu médico para evitar quaisquer intercorrências mais graves.
Por fim, referir que deverá evitar a automedicação e cumprir à risca as orientações dos especialistas, pois só assim poderá mitigar possíveis complicações. Cuide-se!