Como encara as amizades na adolescência? Se é pai ou mãe de um adolescente, certamente já deu conta do quanto o seu filho dá valor aos amigos, não é mesmo? Já deve ter percebido também que, em muitas situações, o seu filho preferiu ficar com os amigos em detrimento da família, preterindo coisas que antes faziam juntos, pela companhia dos colegas da escola – comportamento muito comum nesta fase da vida que é tão cheia de desafios e incertezas.
Diante desse cenário, há até muitos pais que chegam a sentir um certo ciúme, afinal de contas, pode parecer estranho que, de uma hora para outra, aquela pessoa que era tão próxima de si comece a preferir a companhia dos amigos. Uma coisa é certa: vai precisar de aprender a lidar com isso!
Pois bem, esses laços de amizade aos quais o adolescente se agarra com tanto afinco não devem ser motivo de grande incómodo para a família. Nós sabemos que é comum os pais preocuparem-se com os filhos, aonde vão e, principalmente, com quem vão, afinal, gostamos de saber quais as companhias dos nossos rebentos e se estas são confiáveis.
No entanto, é preciso ter bastante cautela para não provocar embates desnecessários e invadir a individualidade do seu filho com o chamado “excesso de zelo”. Entenda que as amizades na adolescência são fundamentais para a maioria dos jovens, e que não há grandes motivos por que se preocupar (o que não significa dizer que não deva estar sempre atento à vida dos seus filhos, certo?).
Ficou interessado e quer entender mais sobre este assunto? Então não deixe de ler este artigo, onde encontrará as respostas para as suas principais dúvidas, bem como aprenderá algumas dicas importantes para se sentir mais confortável durante esta fase tão desafiadora.
Porque são os amigos tão importantes?
Entrar num grupo é um acontecimento inevitável na passagem da infância para o mundo adulto, etapa que faz parte do processo de elaboração da identidade. Ao chegar na puberdade, o jovem sente a necessidade de buscar fora de casa outras referências para a sua formação como sujeito, por isso a família pode perder o antigo protagonismo na vida dos filhos.
Nesta fase, começam-se a formar outras redes de proteção, ademais, é por meio das amizades na adolescência que o indivíduo tem a oportunidade de exercitar papeis sociais – isto é, começa a desempenhar funções na sociedade por meio das interações com outros indivíduos. Importante referir também que uma boa parte dos jovens procuram o sentimento de pertença, o que lhes dará mais segurança para lutar contra a angústia da solidão típica da fase.
Agora que já sabe a razão dos amigos parecerem ser mais importantes que a família durante a puberdade, podemos avançar para outras questões não menos importantes.
O que fazer perante amizades não saudáveis?
A adolescência, assim como a infância, é uma fase passageira, portanto, esses grupos aos quais o seu filho pertence hoje provavelmente vão desfazer-se com o passar do tempo, afinal, a vida muda, as pessoas mudam, adquirem maturidade e deixam de precisar em demasia dos amigos para se afirmarem como indivíduo.
Não obstante, nem sempre as coisas são tão simples assim: há situações em que os pais devem intervir para que as relações de amizade na adolescência não se transformem num grande problema para os filhos. Facto é que muitas vezes, junto com a formação de grupos, podem emergir aspetos problemáticos, tais como a adoção de regras e comportamentos coletivos sem que o jovem – por falta de vivência – os coloque em questão.
É comum que alguns adolescentes, mesmo aqueles que anseiam pela identidade própria, tentem ser iguais aos outros, pois esta é uma maneira segura de não se exporem e perderem a aprovação dos demais pares. Nestes casos, a família, bem como toda a comunidade em que o adolescente está inserido, terá o dever de o orientar, mostrando que cada integrante do grupo, ativa ou passivamente, legitima as atitudes de todos, portanto, torna-se indispensável estabelecer um diálogo franco sobre responsabilidades e consequências de más posturas.
Benefícios das amizades na adolescência
Via de regra, ter amigos ajuda-nos a enfrentar as dificuldades da vida, o que não poderia ser diferente com os jovens. Quando essa relação de amizade é saudável, proporciona inúmeros benefícios para a vida do seu filho, a saber:
- Garantia de suporte emocional: os bons amigos são capazes de se amparar uns aos outros nos momentos de dificuldade. Nem todos os jovens se sentem à vontade para dialogar com os pais sobre questões íntimas, por isso recorrem às amizades quando precisam desabafar. Neste ponto, vale a pena refletir sobre a relação que tem construído com o seu filho; e se quer que ele o veja como um amigo, comece a retomar vínculos emocionais, interesse-se pelas suas dores, não minimize as suas angústias e seja escuta ativa quando ele precisar conversar. Menos julgamento e mais compaixão, como fazem os bons amigos;
- Sentimento de pertença: as amizades na adolescência permitem que o seu filho se sinta parte de um grupo, grupo com o qual se identifica e que faz com que não se sinta isolado. Um bom grupo de amigos pode ajudar o seu filho a se sentir protegido e valioso, além de aumentar a sua autoconfiança e independência;
- Possibilita trocas de experiências: segundo o psicólogo e pedagogo Jean Piaget, uma troca é uma sequência de ações entre indivíduos, onde as ações de um repercutem sobre os outros. Desse modo, as interações sociais ricas, para Piaget, são aquelas onde há reciprocidade e cooperação. Ou seja, quando saudáveis, as amizades na adolescência podem contribuir e muito para a formação de um ser social evoluído. A interação e a troca ajudam a desenvolver habilidades interpessoais essenciais, como a cordialidade, a convivência, a empatia, entre muitas outras;
- Proporciona bem-estar e estimula a autoestima: as amizades na adolescência contribuem para a saúde física e emocional dos adolescentes, pois quando aceites e estimados, conseguem desenvolver um sentimento de estima por si mesmos, o que evita comportamentos de autodepreciação.
Como fortalecer a relação com seu filho?
Já que as amizades na adolescência são tão importantes, muitas vezes sobrepondo-se às relações familiares, o que é possível fazer para não perder o seu filho de vista? Entenda:
1. Incentive a autonomia do seu filho
Os adolescentes gostam de espaço, portanto, evite sufocá-los com excesso de questionamentos e cobranças. Estimule a autonomia sem jamais prescindir da autoridade de pai/mãe, afinal, eles precisam de se sentir protegidos e guiados pelos adultos.
Respeite a individualidade do seu filho, não o exponha a constrangimentos, tampouco o trate como se de uma criança se tratasse. Ouça o que o seu filho tem a dizer, mesmo quando parecer estar errado, pois ao praticar a escuta ativa abrimo-nos ao universo do outro e compreendemos melhor o seu ponto de vista e motivações – o que torna mais fácil o diálogo e facilita a orientação quando esta for necessária.
2. Jamais esqueça o amor que sente pelo seu filho
Embora o seu filho pareça dar mais valor aos amigos, jamais esqueça que o sentimento que tem por si é muito forte. As amizades na adolescência são muito importantes, assim como o vínculo que há entre os filhos e os pais, mesmo que num determinado momento pareçam estar um tanto ao quanto adormecido.
Agir com amor, em qualquer circunstância, é fundamental: lembre-se disso principalmente nos momentos de dificuldade.
3. Fortaleça o vínculo que há entre vocês
Já entendeu que as amizades na adolescência são importantes porque o seu filho se sente acolhido por esse grupo, que tão bem compreende o que ele sente, não é mesmo? Então, que tal tentar fazer o mesmo, dispondo-se a conhecer o seu mundo e a aprender sobre o que é efetivamente importante para ele?
É isso o que fazem pais que procuram fortalecer o relacionamento com seus filhos jovens devem fazer: construir pontes, e não muros. Isto não quer dizer que será obrigado a concordar com o seu filho em tudo, no entanto, quanto mais se interessa pelo seu universo de adolescente, mais fácil será aproximar-se e estreitar o relacionamento.
As amizades na adolescência, quando saudáveis, podem trazer diversos benefícios para a vida do seu filho. Portanto, tente não se preocupar em demasia e apenas oriente quando sentir que é necessário impor certos limites a fim de o resguardar de aborrecimentos e perigos.
Por fim, lembre-se que o amor da família é insubstituível, e que mais cedo ou mais tarde o seu adolescente vai-se sentir forte o suficiente para não depender tanto da aprovação de terceiros e ganhará a confiança de que precisa para alçar novos voos – regressando sempre ao ninho.