Os Maias: resumo da obra de Eça de Queiroz

Os Maias

Publicado pela primeira vez pela Livraria Lello & Irmão, no Porto, no ano de 1888, com uma surpreendente tiragem de cinco mil exemplares, o romance “Os Maias” tornou-se um dos mais famosos livros do aclamado escritor português Eça de Queiroz. Este, que é reconhecidamente um dos maiores clássicos da literatura portuguesa, é também a mais extensa entre todas as obras do autor, que precisou de dez anos para finalizar a história da família Maia, cujo enredo transcorre ao longo de três gerações.

Sucesso de vendas à época do seu lançamento e um clássico revisitado há várias gerações, “Os Maias” tornou-se ainda mais popular graças às adaptações para a televisão – ao todo, três, sendo uma série em 1979, com produção da Rádio e Televisão de Portugal (RTP); outra série em 2001, uma produção da emissora brasileira Rede Globo (com retransmissão simultânea em Portugal), e finalmente uma minissérie lançada em 2015, escrita e realizada por João Botelho, com coprodução luso-brasileira.

Dividido em dois planos narrativos, “Os Maias” apresenta aos leitores a história das três gerações de uma família burguesa – cujo protagonista é o personagem Carlos Maia -, ao mesmo tempo em que tece uma crítica sobre a alta sociedade de Lisboa, em 1880. Se quer saber mais detalhes sobre Os Maias,  romance que é leitura essencial para os apaixonados pela boa literatura, então não deixe de ler este artigo.

Os Maias: resumo

A ação de “Os Maias” passa-se em Lisboa, na segunda metade do século XIX. No outono de 1875, Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, instala-se no Ramalhete (casa cuja descrição abre o primeiro livro). Do matrimónio com Maria Eduarda Runa, nasce o único filho do casal, Pedro da Maia, rapaz de temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Muito ligado à mãe, que o criou com enorme apego e devoção, Pedro vê-se inconsolável após a morte desta, mas consegue recuperar quando conhece uma bela mulher chamada Maria Monforte, filha de um traficante de escravos.

Afonso da Maia rejeita o relacionamento do seu filho com Maria Monforte, todavia, os jovens casam-se mesmo a contragosto do patriarca. Deste casamento nascem duas crianças, Maria Eduarda e Carlos Eduardo; não obstante, pouco depois do nascimento do garoto, Maria Monforte enamora-se por Tancredo, um príncipe italiano, visita da casa, com o qual foge, levando embora consigo a filha. Ao chegar a casa, Pedro descobre a fuga e, desesperado, refugia-se na casa do seu pai, levando o filho, ainda bebé. Nessa mesma noite, redige uma longa carta destinada ao pai e, por não suportar o abandono, comete suicídio.

Aos cuidados do avô, Carlos Eduardo recebe uma educação forte e austera; passados alguns anos, contra a vontade de todos, exceto do seu avô Afonso, o jovem transfere-se para Coimbra, para estudar medicina. Após se formar, regressa ao Ramalhete e monta um consultório, mas sem prescindir de uma vida de aventuras burguesas ao lado dos seus amigos intelectuais João da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Euzébinho, o maestro Cruges, entre outros.

Um dia, Carlos conhece uma mulher chamada Maria Eduarda e apaixona-se por ela, mesmo acreditando ser esta senhora casada com um cavalheiro brasileiro de nome Castro Gomes. A despeito da sua condição, o jovem tenta-se aproximar dela, sem obter êxito, até que recebe o chamado de Maria Eduarda, que necessitava dos seus serviços médicos, visto que a sua governanta se encontrava doente. Em razão das frequentes visitas de Carlos à casa de Maria Eduarda, ambos começam a envolver-se e decidem viver um romance.

Amantes, encontram-se às escondidas numa casa na quinta dos Olivais. Ao descobrir o envolvimento do casal, Castro Gomes, o brasileiro com quem Carlos julgava que Maria Eduarda era casada, decide procurar o jovem médico para lhe contar que ela não é sua esposa, mas sim uma dama de companhia, revelação que põe fim ao romance proibido. Contudo, uma reviravolta no enredo de Os Maias aclara o passado misterioso de Maria Eduarda que, ao receber documentos e objetos de um viajante, que portava papéis que comprovavam a sua riqueza e um cofre, herança da sua mãe, tem o seu sobrenome exposto.

Ao ter acesso à verdadeira identidade da sua amada, Carlos descobre que a mãe de Maria Eduarda era Maria Monforte, a sua mãe, que havia fugido anos antes com o príncipe napolitano e abandonando-o e ao pai, Pedro. Ou seja, ele e Maria Eduarda eram irmãos.

Apesar da aterradora constatação, Carlos ignora o facto e, sem revelar a sua descoberta para Maria Eduarda, decide continuar com a relação incestuosa. O seu avô, Afonso da Maia, descobre toda a verdade e morre de desgosto. Quando Maria Eduarda finalmente descobre ser irmã do próprio amante, parte rumo a Paris, onde tempos depois se casa. Para esquecer a sua triste sina, Carlos resolve viajar pelo mundo, regressando dez anos depois a Portugal, onde reencontra os seus velhos amigos.

Análise de “Os Maias”

Concluída a leitura de Os Maias, é possível perceber que o autor, Eça de Queiroz, fez uma representação minuciosa dos espaços sociais internos e externos onde estão situados os personagens. Ao representar esses ambientes, o escritor deixa evidente uma crítica à sociedade portuguesa, denunciando a corrupção, a superficialidade e a mentalidade retrógrada que rege a burguesia.

Ademais, “Os Maias” mostra o fracasso de Carlos, vítima do meio onde se instalou – uma sociedade fútil, ociosa e sem estímulos – e também dos aspetos hereditários, isto é, a fraqueza do seu avô Afonso, a covardia do pai, Pedro, que se matou ao descobrir a fuga da esposa, e o egoísmo e espírito aventureiro de Maria Monforte, a sua mãe adúltera. Todos esses elementos fazem jus ao título que Eça de Queiroz recebeu, o de “precursor do Realismo em Portugal”.

Importante referir também que as personagens femininas de Os Maias são representadas sempre como um símbolo da luxúria, do pecado e da perdição, característica que pode ser observada em outras obras de Eça de Queiroz, vide “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio”. O autor queria montar, por meio desse retrato realista, um painel crítico da sociedade lisboeta, que preparava as suas mulheres para um casamento rico e uma vida de beatice e futilidade sentimental, uma forma de denunciar a opressão sofrida pelas mulheres no século XIX.

Eça de Queiroz, o autor

José Maria de Eça de Queiroz foi um romancista, contista, poeta, advogado e diplomata português nascido em 24 de novembro de 1845, na Póvoa de Varzim. Faleceu em Neuilly-sur-Siene, arredores de Paris, em França, no dia 16 de agosto de 1900.

Nascido de uma relação não-marital, foi criado pela avó e depois com uma ama, sendo, posteriormente enviado para um colégio. Diz-se que, o incesto presente na obra “Os Maias” foi baseado na história da sua família, visto o escritor ter tomado conhecimento sobre registros de episódios incestuosos, relatados no diário de uma prima.

Eça de Queiroz é considerado um dos mais importantes escritores da literatura portuguesa, tendo como tradição o romantismo e o realismo. As suas principais obras são “A Capital”, “A ilustre casa de Ramires”, “O Crime do Padre Amaro”, “Correspondência de Fradique Mendes”, “O Primo Basílio” e “Os Maias”, romance considerado por diversos críticos como o melhor romance do Realismo em Portugal. “Os Maias” está sob domínio público. Faça o download e boa leitura!

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Luana Castro Alves

Licenciada em Letras e Pedagogia, redatora e revisora, entusiasta do universo da literatura, sempre à procura das palavras. "Não se pode escrever nada com indiferença." (Simone de Beauvoir)