Comportamentos sexuais de risco: causas e prevenção

Comportamentos sexuais de risco

Os comportamentos sexuais referem-se às práticas que as pessoas adotam no âmbito sexual. Esses comportamentos podem ser saudáveis ou podem ser de risco, sendo que os segundos se caracterizam pela existência de algum tipo de risco para a saúde ou bem-estar do próprio ou de outras pessoas.

Neste artigo explicaremos em maior detalhe o que são os comportamentos sexuais de risco, o que os potencia e de que forma podem ser prevenidos.

O que são comportamentos sexuais de risco?

Os comportamentos sexuais de risco são comportamentos ou práticas que podem afetar ou pôr em causas a saúde ou o bem-estar do próprio ou das pessoas com os quais se envolve, podendo mesmo chegar a gerar problemas de saúde graves.

Os comportamentos sexuais de risco acabam por constituir o oposto dos comportamentos de proteção sexual, que são comportamentos eficazes na prevenção de infeções sexualmente transmissíveis (IST) e, de uma forma geral, protetores da saúde sexual e global.

Os comportamentos de proteção sexual mais eficazes são o uso consistente do preservativo nas interações sexuais e/ou a realização de testes de rastreio por ambos os parceiros. A redução do número de parceiros também é um comportamento de proteção sexual, já que reduz a probabilidade de se ter relações sexuais com um parceiro infetado com alguma infeção sexualmente transmissível.

Os principais comportamentos sexuais de risco são:

  • Atividade sexual com múltiplos parceiros sem conhecer o estado de saúde e particularmente o estado serológico destes;
  • Não utilização de preservativo ou utilização inconsistente do mesmo;
  • Consumo de álcool ou drogas associado à prática sexual – uma vez que estas substâncias alteram os níveis de racionalidade e de desinibição de quem as consome.

Comportamentos sexuais de risco nos adolescentes

É importante termos em conta os comportamentos sexuais de risco nos adolescentes, uma vez que esta população está a iniciar a vida sexual e a ter as primeiras interações sexuais, o que faz com que, por desconhecimento, tenha mais probabilidade de adotar comportamentos sexuais de risco. Além disso, adolescentes que adotam estes comportamentos podem tornar-se adultos com comportamentos sexuais de risco.

Dados de 2018 de Portugal, num estudo com adolescentes com média de idades de 15 anos, demonstraram que:

  • A maioria dos adolescentes referiu ainda não ter tido relações sexuais (70%);
  • Dos que tiveram relações sexuais, referiram ter tido a primeira relação sexual aos 15 anos;
  • 34% referiram não ter usado preservativo na última relação sexual;
  • 14,5% referiu ter tido relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas;
  • São os rapazes e os adolescentes mais novos (que frequentam o 8.º ano) que mais frequentemente têm relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas.

Quais as causas dos comportamentos sexuais de risco?

Há vários fatores associados ao facto de as pessoas adotarem comportamentos sexuais de risco, demonstrados por estudos que procuram analisar variáveis associadas sobretudo ao uso do preservativo.

Um dos fatores que leva à adoção de comportamentos sexuais de risco tem a ver com as atitudes e crenças associadas ao uso do preservativo. Achar, por exemplo, que usar preservativo vai diminuir o grau de prazer e satisfação da relação sexual é um fator que faz com que as pessoas não usem preservativo, ou seja, com que tenham um comportamento sexual de risco.

Outro fator tem a ver com as normas sociais, ou seja, aquilo que socialmente é disseminado sobre as práticas e os comportamentos sexuais de risco ou de proteção. Se o contexto onde me insiro me transmite que “os homens não gostam de usar preservativo”, então é provável que isso possa afetar o meu comportamento sexual, nomeadamente fazendo com que seja reticente ou mesmo que não utilize o preservativo.

Experiências prévias com o uso do preservativo também podem influenciar a adoção de comportamentos sexuais de risco, no sentido em que se a pessoa teve uma má experiência com o preservativo pode ter tendência a ter sexo desprotegido na vez seguinte. Quando os preservativos são usados pela pessoa com alguma frequência, passam a ter maior probabilidade de serem integrados no guião sexual, a fazerem parte das práticas sexuais, o que diminui a ocorrência de comportamentos sexuais de risco.

Embora hoje em dia já não seja um obstáculo tão significativo, importa também falar na disponibilidade do preservativo. Se este não estiver disponível ou for de difícil acesso, é mais provável que possam existir comportamentos sexuais de risco. Isto é especialmente importante no caso dos adolescentes, que podem sentir vergonha em adquirir preservativos ou não saber que estes lhes podem ser disponibilizados gratuitamente em que locais se podem dirigir para essa aquisição gratuita.

Outros obstáculos associados ao uso do preservativo são:

  • A possibilidade de o preservativo transmitir falta de confiança no parceiro;
  • Receio da perda de prazer sexual;
  • Utilização de outro método anticoncecional, já que o medo de engravidar é muitas vezes a principal motivação para o uso de contracetivos, e não tanto o receio das infeções sexualmente transmissíveis;
  • Receio de existir perda de espontaneidade ou de o sexo parecer ter sido “planeado”;
  • Ser proposto no contexto de uma relação monogâmica e poder gerar “desconfiança”, ou seja, transmitir a ideia da existência de outros parceiros;
  • Excitação sexual ou “calor do momento” não permitir a negociar ou introduzir o uso do preservativo;
  • Embaraço na compra de preservativos.

Alguns dos fatores referidos ajudam-nos a perceber que a comunicação com o parceiro é fundamental para o uso de preservativo e para a diminuição de comportamentos sexuais de risco. Quando as pessoas falam sobre o uso do preservativo e estabelecem um acordo, sentem-se mais confortáveis e ultrapassam barreiras como a falta de confiança ou o medo da perda de prazer sexual.

Os estudos científicos têm demonstrado que as mulheres parecem ter atitudes mais positivas face ao uso do preservativo do que os homens, apesar de comprarem menos e terem menos tendência a ter consigo preservativos. Isto porque ainda existem preconceitos que fazem com que uma mulher que traga consigo preservativos possa ser avaliada de forma negativa, ou seja, pode existir uma certa estigmatização social. Isto demonstra que os estereótipos e preconceitos culturais e sociais podem também potenciar os comportamentos sexuais de risco.

Se falarmos também do comportamento sexual de risco de uso de drogas ou álcool associados à prática sexual, temos de ter em conta outros fatores. O contexto de sair à noite, a vida noturna recreativa, está muitas vezes associada a estes comportamentos sexuais de risco, sobretudo entre os jovens.

A prática de sexo embriagado ou sob o efeito de outras substâncias torna-se relativamente frequente nestes contextos. Entre os jovens, o sexo é muitas vezes visto como uma atividade que facilmente se pode obter nos espaços recreativos noturnos, já que estes permitem encontros rápidos e fugazes que podem levar a ligações sexuais.

O uso de álcool ou outras substâncias é visto como uma forma eficaz de desinibição, de a pessoa conseguir ficar mais liberta e aumentar as probabilidades de ter relações sexuais. Por isso, a frequência de espaços recreativos noturnos e a disponibilidade, nestes espaços, de álcool e drogas, é um fator que potencia a adoção de comportamentos sexuais de risco.

Dados de 2006 revelam, de facto, que 35,2% dos jovens que já iniciaram a sua vida sexual afirmam tê-lo feito sob o efeito do álcool e 22,4% sob o efeito de drogas. Há aqui fatores que potenciam a adoção de comportamentos sexuais de risco que importa referir:

  • A primazia do princípio do prazer, potenciada pela cultura da sociedade de consumo atual;
  • O papel central do risco na vida recreativa, o facto de se procurar muitas vezes no sexo o fator “adrenalina” como parte da diversão e isso por vezes se associar a comportamentos de risco.

Como acabar com os comportamentos sexuais de risco?

Para a diminuição ou até, idealmente, a eliminação de comportamentos sexuais de risco, é importante que sejam adotados com mais frequência os comportamentos sexuais de proteção.

Como vimos, o uso de preservativo é um dos comportamentos de proteção sexuais mais eficazes, sobretudo no que diz respeito ao combate à disseminação de infeções sexualmente transmissíveis como o HIV, caso não seja conhecido o estado serológico do parceiro sexual.

Apesar de tudo, o preservativo tem uma taxa de insucesso de 2% a 3% quando utilizada corretamente e de 15% quando utilizado incorretamente. Isto significa que é fundamental, para diminuir os comportamentos sexuais de risco, promover o acesso a informação sobre como usar corretamente o preservativo, sobretudo nos adolescentes.

A proteção oferecida pelo preservativo reduz significativamente o número de infeções sexualmente transmissíveis. O preservativo deve ser usado de forma consistente para oferecer maior proteção, já que pessoas que apenas utilizam o preservativo ocasionalmente têm uma probabilidade que pode ser quase dez vezes maior de contrair infeções como o HIV quando comparadas a utilizadores consistentes do preservativo.

É fundamental que seja difundida também informação sobre a disponibilidade e acesso a meios contracetivos como o preservativo para que, por exemplo, os adolescentes saibam que podem ter acesso a preservativos de forma gratuita e onde se podem dirigir para os obter. É manifesta a importância da educação sexual.

Outras medidas para eliminar os comportamentos sexuais de risco:

  • Incentivar as pessoas a realizarem despistes e rastreios regulares de infeções sexualmente transmissíveis;
  • Alterar os estereótipos sociais e as atitudes sociais face ao preservativo, normalizando-se e incentivando-se o uso deste método;
  • Promover formas mais liberais e eficazes de ver as relações, combatendo a ideia “romântica” de que usar preservativo quebra o romantismo e a espontaneidade;
  • Promover a assertividade e comunicação não só entre casais, mas também entre parceiros sexuais ocasionais, nomeadamente incentivando a conversa sobre contraceção, sexo seguro e preservativo, pois se esta conversa existir antes do “calor do momento”, é mais provável que haja sexo seguro;
  • Deixar de associar preservativo com promiscuidade e perceber que a sua utilização é uma medida de proteção da saúde sempre, independentemente de a pessoa ter muitos ou poucos parceiros;
  • Encarar a contraceção ou os despistes / rastreios não como uma forma de desconfiança, mas sim como uma forma de cuidado para com o outro e de não o querer expor a riscos;
  • Criação de respostas locais de intervenção comunitária que estejam presentes, por exemplo, em festas e contextos recreativos noturnos;
  • Usar mensagens adequadas e apelativas nas campanhas sobre sexo seguro e sobre consumo de álcool e outras substâncias.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.