Autoconceito: o que é, características e desenvolvimento

autoconceito

O autoconceito, tal como o nome indica, é o conceito que temos de nós próprios. Influencia diretamente a autoestima e tem grande importância, pelo que é importante compreendermos o que é o autoconceito, de que forma se desenvolve e o que o influencia. É este o objetivo deste artigo, onde pretendemos explorar o autoconceito e apresentar algumas dicas para um autoconceito saudável e positivo.

O que é o autoconceito?

O autoconceito é o conceito que temos de nós próprios, e podemos também entendê-lo como uma espécie de lentes através das quais observamos a realidade. A partir da forma como lemos e vemos a realidade, funcionamos e comportamo-nos de determinadas maneiras em situações específicas.

Frequentemente as nossas “lentes” podem distorcer a forma como vemos a realidade, podendo-nos levar a não agir da forma mais apropriada ao que é exigido pela situação. Quanto mais saudável o nosso autoconceito, mais neutra e precisa será a forma como vemos a realidade e, por sua vez, mais apropriado e saudável será o nosso comportamento.

Para compreendermos isto através de um exemplo, imaginemos que nos vemos a nós próprios como um fracasso. Quando estivermos perante uma situação exigente, como uma apresentação no trabalho, teremos a ver essa situação de uma forma mais negativa e a agirmos de forma pouco adaptativa, como por exemplo evitando a situação ou ficando extremamente ansiosos. Por outro lado, se tivermos uma imagem de nós próprios como alguém capaz e pronta a enfrentar as adversidades, poderemos ver a mesma situação como um desafio.

O autoconceito ajuda-nos a compreender aspetos importantes do nosso comportamento, nomeadamente a consciência, a coerência das nossas atitudes, a noção de identidade e a manutenção de determinados estereótipos.

Quais as características do autoconceito?

O autoconceito tem algumas características centrais, que passaremos a explicar de seguida:

  • Organizado ou estruturado: o nosso autoconceito é uma forma de organizarmos as nossas experiências de vida e de lhes darmos significado, daí que uma das características do autoconceito é este ser uma forma de organização ou estruturação;
  • Multifacetado: significa que o autoconceito tem diferentes facetas ou áreas, isto é, a imagem que temos de nós próprios aplica-se a diferentes domínios da nossa vida. Podemos ter um autoconceito académico, social, físico, etc;
  • Hierárquico: a estrutura do autoconceito é hierarquizada, ou seja, as diferentes facetas do autoconceito organizam-se numa hierarquia. No topo da hierarquia encontra-se o autoconceito geral, depois surgem outros domínios que por sua vez se podem subdividir. Por exemplo dentro do autoconceito académico podemos ter domínios mais específicos, como o verbal ou o matemático;
  • Estável: o autoconceito tende a ser estável, embora obviamente possam existir mudanças, sendo que para modificar o autoconceito são requeridas mudanças em diversas situações ou domínios de vida;
  • Experimental: isto significa que o nosso autoconceito vai-se desenvolvendo e formando com as experiências de vida e com a aprendizagem;
  • Avaliativo: isto significa que não desenvolvemos apenas uma descrição objetiva de nós mesmos, mas também avaliamos essa perceção que temos de nós;
  • Diferenciável: isto porque é influenciado por experiências específicas.

Como se desenvolve o autoconceito?

O autoconceito desenvolve-se desde que somos crianças e, em parte, forma-se através da forma como entendemos que os outros nos veem. No fundo, desenvolvemos uma espécie de fenómeno de espelho, em que tendemos a observarmo-nos a nós próprios a partir da forma como os outros nos consideram e descrevem.

Adicionalmente, também vamos desenvolvendo o nosso autoconceito a partir do nosso desempenho e da forma como somos ou não bem-sucedidos em diferentes situações específicas.

Uma outra influência no desenvolvimento do autoconceito é o confronto com a conduta e os resultados das pessoas que nos rodeiam e dos nossos pares, pessoas com quem nos assemelhamos e identificamos. Ou seja, se um amigo que tem a mesma idade e qualificações que nós for mais bem-sucedido, isso pode influenciar negativamente o nosso autoconceito.

Por fim, o nosso autoconceito também é influenciado pela avaliação que fazemos de um comportamento específico em função dos valores veiculados por grupos normativos. Podemos considerar que estamos próximos ou afastados daquilo que é esperado de nós, o que vai determinar se nos sentimos melhor ou pior com a imagem que temos de nós próprios.

Quais as componentes do autoconceito?

Podemos identificar diferentes componentes que estruturam o autoconceito:

  • Autoimagem: é a observação ou perceção da nossa imagem, ou imagens. Temos diferentes imagens de nós próprios: como pais, como filhos, como amigos, como profissionais, como atletas, como namorados/as… É importante a organização hierárquica e o valor atribuído por nós àquilo que cada imagem representa. Uma determinada pessoa pode, por exemplo, apreciar muito a sua autoimagem como profissional, colocando-a acima de todas as outras;
  • Autoestima: é a avaliação que fazemos da imagem que temos de nós próprios, ou seja, o quão satisfeitos estamos com aquilo que consideramos ser. A autoestima é o produto dos julgamentos que fazemos acerca de nós próprios;
  • Autoconceito ideal e real: o autoconceito real é aquilo que consideramos ser, e o ideal aquilo que gostaríamos de ser. Quanto maior a diferença entre um e outro, menor a nossa autoaceitação.

Qual a relação entre autoconceito e autoestima?

Se o autoconceito é a imagem que temos de nós próprios (mais descritiva do que avaliativa) a autoestima é a avaliação dessa imagem, ou seja, o quanto gostamos do que vemos em nós próprios. O autoconceito é como me vejo, a autoestima é o que penso e sinto sobre aquilo que vejo.

Desta forma, quanto mais positivo, saudável e objetivo for o nosso autoconceito, mais saudável será a nossa autoestima. Se tivermos um autoconceito saudável, será mais provável que tenhamos uma boa autoestima e sintamos que temos valor.

Se o nosso autoconceito for negativo e distorcido, a nossa autoestima sofrerá com isso, teremos tendência a agir de forma pouco genuína porque não nos sentimos confortáveis na nossa própria pele.

Como perceber o nosso autoconceito?

Para conseguirmos compreender melhor o nosso autoconceito ou o conceito que temos de nós próprios, podemos fazer algumas questões:

  • Quem sou eu? – esta questão leva-nos à identificação de aspetos que nos identificam e que nos diferenciam das outras pessoas, por exemplo o nosso nome, idade, imagem corporal e aparência, sexo, nacionalidade, educação, habilidades e competências…
  • O que sou? – esta pergunta pode-nos ajudar a identificar a nossa situação atual em relação ao mundo e à sociedade, por exemplo, a nossa profissão, as relações que temos, os nossos valores e qualidades…
  • Para que sou? – esta é a pergunta que nos ajuda a pensar sobre a razão da nossa existência, sobre a nossa missão. Ou seja, o motivo para estarmos aqui, o que fazemos e qual o nosso propósito, porque vivemos a vida que vivemos…

A resposta a estas três perguntas ajuda-nos a formar uma imagem de nós próprios que pode, ou não, estar de acordo com a realidade, fazendo com que as nossas “lentes” sejam mais objetivas ou mais distorcidas.

Quais as consequências de um autoconceito negativo?

Quando nos vemos a nós próprios de forma negativa, ou quando a imagem que temos é negativa, isso traz consequências negativas. Uma delas é o isolamento e a tendência a evitarmos inúmeras situações e acabarmos por nos fechar no nosso próprio mundo. Um autoconceito pouco saudável leva-nos a olhar o mundo também de uma forma negativa, já que nos posicionamos nele como pessoas que não conseguem enfrentar os desafios.

Um autoconceito negativo leva-nos também a ter dificuldade em adaptarmo-nos à mudança e a lidar com o imprevisto, encarando as situações inesperadas como potenciais ameaças ao nosso equilíbrio. Podemos também adotar uma postura passiva, de vítima.

Um autoconceito negativo também pode trazer consequências para os nossos relacionamentos interpessoais. Quando a imagem que temos de nós é negativa, tendemos a sentirmo-nos menos confiantes nas relações com os outros, o que nos pode levar a ter atitudes de isolamento, insegurança, evitamento ou mesmo ataque e passivo-agressividade. Quanto mais saudável o nosso autoconceito, melhor nos conseguiremos posicionar com as pessoas que nos rodeiam e maior a probabilidade de conseguirmos construir e manter relacionamentos saudáveis.

Um autoconceito pouco saudável distorce as mensagens que recebemos dos outros e a maneira como interpretamos aquilo que nos acontece.

Um autoconceito negativo pode expressar-se pelos seguintes sinais:

  • Perspetiva pessimista da vida;
  • Dificuldade em confiar nas próprias capacidades;
  • Ser muito sensível às opiniões alheias;
  • Deixar-se afetar muito pelos outros;
  • Inseguranças várias, nomeadamente relativamente à aparência, competência profissional, condição financeira, etc;
  • Ver outras pessoas como potenciais concorrentes ou ameaças;
  • Perfeccionismo exagerado ou necessidade de fazer tudo de forma perfeita, não conseguindo encontrar um equilíbrio ou simplesmente desfrutar;
  • Focar-se demasiado no passado ou no futuro;
  • Ter o hábito de repetir mentalmente as coisas que aconteceram ou conversas que se teve;
  • Agir de forma defensiva nos relacionamentos;
  • Atitude de ressentimento;
  • Tendência a relações de dependência;
  • Dificuldade em aceitar um elogio;
  • Comportamentos e hábitos contraproducentes;
  • Medo de estar sozinho;
  • Medo da intimidade;
  • Dificuldade em expressar necessidades e emoções;
  • Tendência a acreditar que vai acontecer o pior;
  • Necessidade de controlo;
  • Consciência demasiado sensível.

Como melhorar o autoconceito?

Como vimos, embora o nosso autoconceito geral possa ser relativamente estável, se formos modificando a nossa forma de encarar diferentes situações podemos ir modificando facetas do nosso autoconceito e, por consequência, melhorar o nosso autoconceito de forma global e a nossa autoestima. Algumas dicas para melhorarmos o nosso autoconceito:

  • Reconheça os seus pontos fortes e fracos, procurando potenciar e fazer uso dos primeiros, e desenvolver os segundos;
  • Registe os aspetos mais importantes da sua identidade e atualize-os, de acordo com o espaço psicológico em que de momento se encontra;
  • Não procure as causas dos teus comportamentos apenas nas tuas limitações ou aquilo que não gosta tanto em si, procure antes ver as situações de uma forma mais abrangente e completa, observando também os aspetos e influências externas;
  • Não diga coisas negativas e insensíveis a seu respeito, como “sou um fracasso”, procurando reformular por frases mais neutras como “desta vez isto não correu como eu queria, para a próxima vou tentar…”;
  • Afaste-se de situações ou relações negativas e que o fazem sentir-se mal consigo/a mesmo/a;
  • Estabeleça objetivos a curto, médio e longo-prazo para a sua vida e vá revendo e reestruturando esses objetivos. Criar e dar continuidade aos objetivos ajuda-nos a sentirmo-nos competentes, a ganhar confiança em nós próprios e, com isso, a melhorar o nosso autoconceito. Os objetivos que define devem ser realistas e com probabilidade de poderem ser alcançados;
  • Peça a um amigo próximo para fazer uma lista dos aspetos que gosta em si e, depois, aprenda a aceitar e reconhecer os elogios e a desfrutar dos sentimentos positivos que daí podem advir;
  • Aprecie os aspetos positivos das outras pessoas e saiba valorizá-los e elogiá-los;
  • Recorde-se de todas as pequenas conquistas que já teve ou dos obstáculos e desafios que já superou.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.