É facto incontestável que a alimentação do bebé e da criança está intimamente relacionada ao seu normal crescimento e desenvolvimento. É também opinião unânime entre os pediatras que uma correta introdução de alimentos, ainda no primeiro ano de vida dos pequenos, potencia o bem-estar, fortalece o sistema imunitário e estimula, inclusive, a sociabilização.
A alimentação tem início com a aleitamento materno, também conhecido por amamentação, pois o leite é o alimento ideal para os bebés, visto ser aquele que mais se adapta à insuficiência digestiva e à imaturidade dos primeiros meses de vida.
Por volta do 6.° mês, a alimentação exclusivamente láctea deixa de ser suficiente para responder a todas as necessidades do bebé em nutrientes e energia, e é justamente neste momento que a diversificação alimentar passa a fazer parte da rotina da família.
A partir desse marco, que deve acontecer de forma gradual e progressiva, a criança terá contato com diversos alimentos, aumentando assim as chances de adquirir hábitos saudáveis que deverão ser mantidos por toda a vida.
Se deseja saber mais sobre a diversificação alimentar, uma das fases mais desafiantes do primeiro ano de vida, então continue a leitura deste artigo e tire todas as suas dúvidas sobre esse interessante tema. Acompanhe!
O que é a diversificação alimentar?
Entende-se por diversificação alimentar a transição de uma alimentação exclusivamente láctea para outra que contempla alimentos de diferentes consistências (das mais pastosas às mais sólidas), sabores e texturas, que devem ser gradualmente oferecidos às crianças.
Essa é uma fase muito importante por motivos nutricionais, visto que o leite materno ou as fórmulas infantis deixam de ser suficientes para assegurar a ingestão adequada de nutrientes a partir de determinada idade.
Ademais, faz-se indispensável também por motivos relacionados ao desenvolvimento crescente das habilidades cognitivas e motoras do bebé, cuja curiosidade é despertada ao ver os seus pais e outros adultos a ingerir diferentes alimentos.
É durante a diversificação alimentar que os pais têm a grande oportunidade de investir na educação alimentar do bebé, visto ser uma etapa em que é possível moldar o paladar, o apetite e, de certa forma, os gostos futuros da criança. Ou seja, uma oportunidade de ouro para iniciar os princípios de uma alimentação saudável que irá perdurar na vida adulta.
Quando começar a diversificação alimentar?
Existe uma série de condicionantes e variáveis quando o assunto é diversificação alimentar. Embora a recomendação da SPGP (Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica) seja iniciar a partir dos 6 meses de vida, a maioria das famílias dão o pontapé de saída a essa etapa mais cedo, por volta dos 4 meses, pois muitas mães precisam de regressar à atividade profissional, fator que dificulta a amamentação.
Por volta dos 4 meses o bebé já tem as suas funções digestiva e renal mais desenvolvidas. É nesta etapa também que os bebés se passam a interessar pela alimentação dos adultos, começam a sentar-se com ajuda e tem um bom controlo da cabeça e do pescoço.
Ademais, ao perder o reflexo de extrusão de língua, algo que antes poderia dificultar a alimentação, surgem os movimentos de mastigação – que permitem a ingestão dos alimentos que antes era expelidos para fora.
Como iniciar a diversificação alimentar?
A ordem de introdução dos alimentos não é, necessariamente, a mesma para todos os bebés. Muitas famílias começam poder oferecer sopa de legumes na consistência de uma papa, enquanto outras preferem oferecer uma papa de cereais, alimento cujo sabor é mais parecido com o do leite materno ou artificial.
No entanto, existe um consenso que a diversificação alimentar deve ser feita aos poucos, respeitando um intervalo de 2-3 dias, janela que permite à família detetar possíveis reações alérgicas (vómitos, diarreia, manchas na pele e/ou falta de ar) após iniciar um novo alimento. Ademais, esse intervalo facilita a adaptação do bebé aos novos sabores, por esses motivos, deve ser respeitado para garantir o sucesso da diversificação alimentar.
Regras fundamentais da diversificação alimentar
Importa referir que, para além das regras que partilharemos adiante, deverá se guiado pelo bom senso e, acima de tudo, pelas indicações do médico pediatra do seu filho. Dito isso, conheça infra algumas orientações que lhe vão ajudar nesta etapa de início de diversificação alimentar:
- É preciso respeitar o tempo das refeições. Lembre-se que a criança precisa de conhecer, manusear e saborear os alimentos, portanto, nada de pressa. Se puder, permita que o bebé aproveite ao máximo esse momento tão importante;
- Cada bebé é único, por isso, nada de fazer comparações com outras crianças. Respeite o seu ritmo, gostos e vontades individuais, carinho que possibilitará o sucesso da diversificação alimentar;
- Caso o bebé rejeite um alimento (e acredite, isso acontece bastante), não é preciso entrar em desespero. Deverá insistir, pois pode ter de ser exposto a um novo sabor inúmeras vezes até que se habitue a ele e passe a gostar;
- A introdução dos alimentos deve ser lenta e gradual. É provável que o bebé rejeite os primeiros alimentos oferecidos, afinal, tudo é novidade: a colher, a consistência, o cheiro e o sabor;
- Jamais force o seu filho a comer. Isso não significa que não possa o estimular durante as refeições;
- No início, é normal que a criança coma quantidades bem pequenas, mas saiba que essas quantidades são suficientes para a saciar;
- Há crianças que se adaptam com mais facilidade à diversificação alimentar, enquanto outras apresentam mais dificuldades;
- Nesta fase, a família deve começar a oferecer água nos intervalos das refeições, o que antes, durante o aleitamento materno, não era necessário;
- Jamais ofereça outras bebidas, como chás e sumos, exceto se o médico pediatra assim o recomendar;
- A diversificação alimentar deve ser feita com colher e não com biberão. No começo pode ser que o bebé tenha dificuldades, no entanto, no fim desse período adaptativo, estará habituado com o talher;
- Mesmo recebendo outros alimentos, o bebé deve continuar a ser amamentado no seio da mãe ou aleitado (leite artificial);
- Não adicione sal ou açúcar na alimentação até que o bebé complete 12 meses. Esses sabores mascaram os sabores dos alimentos, viciam o paladar e fazem mal para a saúde da criança;
- Mel, marmelada, cacau/chocolate, bolos e enchidos não devem ser introduzidos na alimentação do bebé até os 12 meses (e quanto mais tarde melhor);
- Não dê frutos secos inteiros (como amendoim, noz, caju) ou pipocas até os 36 meses, pois há risco de engasgamento;
- Evite alimentos pré-preparados, cujos sabores são mais acentuados e acabam por fazer com que o bebé recuse alimentos preparados em casa.
Resumindo…
De forma global, a diversificação alimentar deve ser realizada de forma não rígida, respeitando sempre o tempo da criança, bem como as tradições e características de cada família.
Importa referir que há uma baixa probabilidade de défice de nutrientes nos lactantes durante esse período, por isso, fique tranquilo: o seu bebé, que está a ser amamentado ou aleitado, provavelmente está bem alimentado.
A regra mais importante é que a alimentação deve ser vista como um momento de partilha entre pais e filhos, não devendo ser utilizada como método de conforto ou recompensa. Em caso de dúvidas, consulte o médico pediatra, profissional que o auxiliará neste processo tão desafiador.