Seja nas reuniões de família, nos programas de televisão, na mesa de um café ou em discussões acaloradas nas redes sociais, o feminismo é um tema que está por toda a parte. Felizmente, o assunto tem sido bastante discutido e pesquisado nos últimos anos, prova disso é que, em 2017, a palavra “feminismo” foi eleita, pelo dicionário norte-americano Merriam-Webster, “a palavra do ano”, em virtude de um aumento de 70% nas pesquisas em relação ao ano anterior, 2016. Impressionante, não?
De acordo com o Google, durante quase dois anos a expressão “violência doméstica” teve mais pesquisas que “feminismo”. Contudo, a tendência inverteu-se a partir de 2013, mas foi em 2018 que o termo “feminismo” atingiu o seu recorde de popularidade, registando um aumento de 30 para 100, numa escala de 0 (nenhuma popularidade) a 100 (recorde de popularidade). Ou seja, a cada dia que passa estamos mais conectados com o tema, por isso é tão importante colocá-lo sempre em destaque, dada a sua enorme importância.
Mas sabe o que é o feminismo? Está aqui à procura de respostas para esta pergunta? Então continue a leitura para entender melhor sobre este conceito, nomeadamente quando surgiu e quais são os ideais que defende. Acompanhe!
Em que consiste o feminismo?
Podemos dizer que o feminismo é um movimento social e político que tem como objetivo conquistar o acesso a direitos iguais entre os géneros e o fim do patriarcado – sistema social no qual os homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controlo das propriedades.
Além disso, o feminismo é também uma luta pela ressignificação do papel da mulher na sociedade, visando a sua emancipação e autonomia. De acordo com o pensamento feminista, isto só será possível quando todas as mulheres tomarem consciência da discriminação a qual estão submetidas – discriminação esta que acontece unicamente pelo facto de serem mulheres – e começarem a organizar-se para derrubar preconceitos e mudar a sociedade.
A história do feminismo
Até o século XIX a mulher era considerada um ser inferior aos homens, não desfrutando, portanto, dos mesmos privilégios, entre os quais, o direito à educação, ao trabalho, ao voto, entre outros. À mulher eram reservadas as tarefas domésticas, bem como a criação e educação dos filhos, e neste contexto, não tinham acesso à vida social, tampouco conhecimento de temas como política ou economia.
Foi em 1791 que a feminista francesa Olympe de Gouges rebateu a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” (criada no contexto da Revolução Francesa) com a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Neste documento histórico, criticava abertamente a Declaração da Revolução, visto que esta era direcionada exclusivamente ao sexo masculino. Ademais, Olympe de Gouges alertava para a tirania imposta pela autoridade masculina e a importância das mulheres e da igualdade de direitos.
Por se rebelar contra o patriarcado, de Gouges foi executada em Paris no dia 3 de novembro de 1793, data que até hoje é considerada um marco do feminismo no mundo e que fez emergir em diferentes partes do globo diversos movimentos feministas.
No entanto, foi a partir da Revolução Industrial do século XIX que o papel da mulher na sociedade mudou significativamente. Na época, já lhes era permitido ocupar postos que anteriormente eram reservados aos homens, desta forma, estavam presentes nas fábricas, empenhando a sua força de trabalho e participando ativamente da economia do país.
Aos poucos, os movimentos feministas espalhados por todo o mundo foram ganhando relevância, pois é notório o quanto colaboram para a luta e para a conquista de diversos direitos reivindicados pelas mulheres, como o direito à educação, ao voto, ao contrato, à propriedade, ao divórcio, à igualdade de salários, ao aborto, etc., especialmente em sociedades nas quais ainda não tinham qualquer representatividade e voz.
Principais conquistas do feminismo
Ao longo de sua existência, o feminismo lutou por diversos direitos dos quais hoje desfrutamos. Conheça agora os mais importantes:
- O direito ao voto: embora se tenha tornado mais popular nos últimos anos, o feminismo viveu sua primeira onda no século XIX, mais precisamente, na Inglaterra pós-Revolução Industrial. Naquele contexto, as sufragistas – como ficaram conhecidas as mulheres que lutaram pelo direito ao voto entre outras reivindicações – organizaram grandes manifestações, que culminariam com a morte de Emily Davison, militante que se atirou à frente do cavalo do rei. Apesar dos esforços empenhados por estas valorosas mulheres, foi apenas em 1918, no Reino Unido, que o sexo feminino conquistou o direito ao voto.
- O direito à sexualidade: a segunda onda feminista entrou em cena nos anos 1960 e 1970, e com ela vieram à tona reivindicações como o direito ao corpo e ao prazer. O marco teórico dessa reivindicação é o livro, lançado em 1949, “O Segundo Sexo”, da escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa Simone de Beauvoir, personagem que em muito contribuiu para as reflexões da época e que continua a ser um expoente mundial do feminismo.
Nesta fase, a luta feminista, influenciada principalmente pela ascensão do movimento hippie nos Estados Unidos, lutava pela diferenciação de sexo e género e contra a desigualdade de género. Enquanto a primeira onda do século XIX lutava pelos direitos legais das mulheres, a segunda ampliou o debate, dando visibilidade a temas importantes como os direitos reprodutivos, a sexualidade e o aborto. Foi neste momento movimento que ocorreu a simbólica (e figurativa, visto que não se concretizou de facto) queima dos sutiãs, manifestação que ficou mundialmente conhecida por questionar os padrões de beleza impostos ao sexo feminino, contra os quais lutamos até hoje.
- O direito à pluralidade: nos anos 1980 as reivindicações das mulheres negras foram finalmente incorporadas no movimento feminista. Os principais expoentes desse momento foram as ativistas Angela Davis e Patricia Hill Collins, que levaram para o centro do debate o género associado às categorias de raça e classe. Graças a essa discussão, hoje podemos afirmar que as opressões atingem as mulheres de modos, formas e intensidades diferentes, o que deixa claro que mulheres negras e pobres são, infelizmente, as maiores vítimas do machismo e todas as outras formas de opressão encontradas na sociedade patriarcal. A terceira onda, momento que emergiu nos anos 1990, colocou o próprio feminismo à prova, visto a necessidade de se reavaliar o movimento e os seus estudos, que contemplavam, principalmente, mulheres da classe média e brancas em detrimento de minorias.
A quarta onda do feminismo
Com o advento da internet, espaço em que os debates acerca do feminismo foram amplificados, surgiu aquela que é chamada de quarta onda do feminismo, também conhecida como ciberfeminismo. Graças a esse movimento, os ideais feministas têm alcançado cada vez mais adeptos em todo o mundo, aproximando as mulheres e fomentando manifestações em níveis mundial e nacional – fundamentais para a divulgação do feminismo.
Principais vertentes do feminismo
Da pluralidade de ideias e realidades surgiram, desde a primeira onda, diferentes “feminismos”. Conheça os mais importantes:
- Liberal: surgido no século XIX, durante a Revolução Francesa, o feminismo liberal é considerada a vertente mais antiga. Lutava pela igualdade entre homens e mulheres na sociedade por meio de reformas políticas, legais e económicas, a fim de inserir as mulheres no sistema em vez de romper em definitivo com ele.
- Socialista: o feminismo socialista surgiu em oposição ao feminismo liberal, pois considera o capitalismo a fonte da desigualdade entre os géneros – isto é, esta vertente defende que, além de serem oprimidas pelo machismo, as mulheres também eram oprimidas por um sistema económico que as impedia de ter as mesmas oportunidades que os homens.
- Radical: ao contrário do que muitos pensam, as feministas radicais não se consideram extremistas, visto que o termo “radical”, na verdade, faz referência à etimologia da palavra, cujo significado é “raiz”. Essa vertente luta contra a prostituição e a pornografia, além de defender a exclusão de homens e transexuais do movimento, sendo, por este motivo, considerado bastante polémico por muitas feministas de outras vertentes.
- Interseccional: o feminismo interseccional leva em consideração, além da questão da opressão de género, reivindicações ligadas à raça e classe. Desta forma, defende que o debate deve ser plural e contemplar demandas específicas de variados grupos de mulheres.
- Negro: o feminismo negro surgiu da necessidade das mulheres negras serem representadas, visto que o feminismo “tradicional” pouco contemplava as reivindicações e lutas dessa parcela da população. Entre as principais “bandeiras” dessa vertente estão a luta contra o genocídio da juventude negra e a solidão da mulher negra, apenas para citar dois exemplos.
Importante: O feminismo é um projeto de sociedade que visa romper com uma estrutura e cultura machistas estabelecidas na sociedade, sem que para isso se declare, importante referir, uma guerra entre os sexos. O feminismo propõe uma nova maneira de se relacionar com o outro, com os meios de produção, com a vida, para que esta seja livre de exploração e sofrimento.
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