O tamanho do pénis importa?

O tamanho do pénis importa

Quando se fala em sexualidade, uma das perguntas que surge com muita frequência e que parece assombrar sobretudo a mente masculina é a derradeira “afinal o tamanho do pénis importa?”.

Por muita informação que haja, a verdade é que as respostas a esta questão são muitas vezes dispersas e incoerentes, o que torna difícil compreender se de facto o tamanho do pénis tem ou não impacto, e de que forma. Até porque, quando falamos em sexualidade, tudo é bastante relativo e a resposta “depende” é geralmente mais acertada do que um inequívoco “sim” ou “não”.

Neste artigo, pretendemos trazer informação que ajude a compreender que influencia o tamanho do pénis pode ou não ter e, sobretudo, o que é que de facto importa quando falamos de prazer sexual e de uma vida sexual satisfatória.  

Como funciona e se desenvolve o pénis?

O pénis é um órgão genital masculino que apresenta diferentes funções, como permitir a micção (urinar), a ereção e a penetração durante o ato sexual. De facto, quando falamos neste órgão genital o foco deve estar mais na funcionalidade do que em aspetos como o tamanho. O tamanho do pénis poderá importar, em termos anatómicos, quando representa um desvio tão grande da norma que, de alguma forma, possa comprometer a funcionalidade.

É o caso do denominado micropénis, que é um pénis com comprimento menor do que 2,5 desvios-padrão da média para a idade e estágio de desenvolvimento, e que, pelo seu tamanho consideravelmente diminuto, pode impedir por exemplo a penetração, o que compromete a funcionalidade.

Deste modo, se um pénis é funcional, à partida o tamanho do pénis não terá uma relevância acentuada, embora à frente exploraremos melhor em que aspetos o tamanho do pénis pode influenciar.

O crescimento do pénis acontece em diferentes etapas: durante a gestação, dos zero aos 3 anos de idade, dos 3 aos 11 anos e depois dos 11 aos 18 anos, atingindo aí um tamanho adulto. Apesar de o período de maior crescimento acontecer, geralmente, na adolescência, o desenvolvimento difere de pessoa para pessoa, podendo ser mais lento ou mais rápido.

Para que o pénis se desenvolva adequadamente, é necessária testosterona, pelo que muitas vezes os problemas associados ao desenvolvimento do pénis são hormonais. Condições como o hipogonadismo podem afetar a produção de testosterona e, por consequência, o desenvolvimento ou crescimento do pénis.

Este problema geralmente pode ser diagnosticado por um profissional durante o desenvolvimento da criança e existem alternativas de tratamento, nomeadamente hormonais.

Qual é o tamanho médio do pénis?

Muitas vezes surge a questão de qual o tamanho médio do pénis, ou o “considerado normal”. A verdade é que esta medida é muito relativa, já que varia em idades ou fases do desenvolvimento e ainda entre países ou culturas.

Para situar o tamanho do pénis em relação à normalidade, um profissional da área poderá fazer essa avaliação mediante normas e dados mais fidedignos. Ainda assim, a média do tamanho do pénis, segundo vários estudos, rondará os 13 cm em ereção. Isto não significa que um pénis de 10cm é um pénis pequeno ou que apresenta algum problema; como vimos, quando o pénis é funcional, ele é saudável e a média é apenas uma referência.

De facto, um estudo realizado por uma conhecida marca de preservativos concluiu que 90% dos pénis se encontram dentro de uma margem de três centímetros (a mais ou a menos) em relação à média, o que demonstra que a maioria dos homens tem um tamanho do pénis perfeitamente normal.

É importante salientar que os pénis têm diversos tamanhos e formatos, não havendo um padrão único ou ideal.

Deste modo, só deve existir preocupação quando o tamanho do pénis é de tal forma diminuto que se pode classificar como micropénis, dificultando ou mesmo impedindo a penetração e o desempenho sexual. De igual modo, um pénis que se desvia muito da norma por excesso (sendo acentuadamente maior), também pode causar problemas.

Como funciona o prazer e o orgasmo? 

Para melhor compreender se de facto o tamanho do pénis tem impacto ou não na satisfação sexual, é preciso primeiramente compreender um pouco melhor algumas coisas sobre a resposta sexual humana.

Existe uma primeira fase da resposta sexual, que é a fase do desejo, constituída por pensamentos e sensações que levam à vontade de envolvimento numa experiência sexual. Após a fase do desejo, surge a fase da excitação, na qual o corpo responde aos estímulos que desencadearam o desejo sexual. É nesta fase que, na mulher, acontecem coisas como a expansão do canal vaginal ou a lubrificação e, no homem, a ereção.

Existe também a fase do orgasmo, que corresponde ao pico de prazer, e na qual há uma descarga de energia que origina a libertação da tensão sexual.

Por fim, existe a fase da resolução, que ocorre após o orgasmo e consiste no relaxamento geral do corpo e da mente. Geralmente, o homem passa por um período refratário maior, no qual precisa de mais tempo após o orgasmo para iniciar nova atividade sexual, quando comparado com a mulher.

Importa percebermos algumas coisas que nos vão ajudar a melhor contextualizar a questão do tamanho do pénis:

  • Segundo os estudos, a maior parte das mulheres não atinge o orgasmo apenas pela penetração, precisando da estimulação do clitóris. Isto significa que, no sexo penetrativo vagina-pénis, independentemente do tamanho do pénis, a estimulação do clitóris será o que mais irá determinar o prazer sentido pela mulher, o que permite relativizar um pouco a importância do tamanho do pénis;
  • Não existe consenso científico quanto à existência do “ponto G”, o que faz com que não haja evidências de que é necessário um pénis maior para lá chegar;
  • Do ponto de vista das relações heterossexuais, a vagina tem terminações nervosas sobretudo na entrada do canal vaginal, pelo que bastaria um pénis de poucos centímetros para haver uma estimulação satisfatória;
  • Ao contrário do que por vezes ainda se ouve dizer, nas mulheres não existem dois tipos de orgasmo (vaginal e clitoriano), mas sim apenas uma resposta de orgasmo, independentemente de como foi atingida;
  • Do ponto de vista masculino, na verdade, quanto maior o pénis, maior será a dificuldade em irrigá-lo totalmente, pelo que mais difícil poderá ser manter a ereção;
  • A zona erógena mais importante na resposta sexual humana é o cérebro, o que significa que, mais do que tocar em pontos específicos ou atingir determinada profundidade em termos de penetração, o mais importante tem que ver com o desejo, a excitação, os estímulos internos, psicológicos, emocionais e mentais que levam ao prazer. 

Em que aspetos pode interferir o tamanho do pénis?

Quando questionamos se o tamanho do pénis importa ou não, devemos colocarmo-nos uma outra questão: importa para quem e para quê? De facto, é preciso perceber e contextualizar a que nos estamos a referir para podermos melhor compreender que influencia o tamanho do pénis tem.

Muitas vezes, esta pergunta é feita em relação ao prazer sexual, isto é, há a preocupação de que o tamanho do pénis possa interferir com o prazer sentido pela outra pessoa na penetração. No entanto, o tamanho do pénis às vezes importa mais para o homem e para a sua autoestima, do que propriamente para o desempenho sexual e para o prazer sentido pela outra pessoa.

Se, de facto, temos um homem que se sente inseguro com o seu pénis, nomeadamente com o seu tamanho, isso poderá ter interferência, uma vez que pode originar ansiedade, tensão, e tudo isto influencia a capacidade de usufruir da relação sexual e de retirar dela gratificação. Além disso, a ansiedade pode ainda causar problemas de desempenho, como dificuldade em obter uma ereção ou em ejacular.

Assim, podemos dizer que a influência do tamanho do pénis é mais indireta do que direta. Isto é, o problema na maior parte das vezes é causado pelo facto de o homem se sentir complexado com o tamanho do seu pénis, e não com o tamanho do pénis em si mesmo.

É importante salientar que o tamanho do pénis não impede um desempenho sexual satisfatório e bem-sucedido, nem uma vida sexual saudável e prazerosa. Além disso, o tamanho do pénis também não afeta a fertilidade ou o prazer (a menos, como vimos acima, quando falamos de uma patologia, como o caso do micropénis, que impede de todo a penetração).

Os estudos confirmam isto mesmo, demonstrando que os homens dão muito mais importância ao tamanho do seu pénis, do que as suas parceiras ou parceiros – 55% dos homens dizem estar satisfeitos com os seus pénis, enquanto 85% dos/as parceiros/as referem estar satisfeitos/as.  

Em suma, o tamanho do pénis é uma variável que apenas tem influência prática ou direta se falarmos em casos patológicos, de micropénis. Noutras situações, a influência do tamanho do pénis é indireta: influencia na autoestima, na ansiedade sentida antes e durante a performance sexual, etc.

Também podem, claro, existir preferências, pode haver homens ou mulheres que gostem de pénis maiores, por uma questão de preferência sexual. Mas esta é uma questão pessoal e particular, e não algo que tenha diretamente e globalmente a ver com o tamanho do pénis.

Porque é que se dá tanta importância ao tamanho do pénis?

O tamanho do pénis é para muitos homens uma questão central e torna-se uma preocupação uma vez que há ainda uma forte associação com a masculinidade e virilidade. O fascínio pelo órgão sexual e o simbolismo do pénis como representação da masculinidade é algo muito difundido pela sociedade ao longo da história e que ainda se encontra presente atualmente.

Toda esta representação está muito associada a uma noção de masculinidade tóxica e é propagada por estereótipos sociais. Um pénis grande é muitas vezes associado a características de “masculinidade” como domínio, controlo, poder e força.

A indústria pornográfica, por exemplo, também contribui para a propagação destes estereótipos e deste foco no tamanho do pénis, ao focar de forma acentuada a penetração e ao representar sobretudo pénis de tamanhos maiores, com pouca representatividade em termos de tipos e tamanhos.

É, por isso, fundamental desconstruir estes estereótipos e perceber que as características do pénis vão para além do tamanho grande ou pequeno, e que a sexualidade vai para além da genitália e da penetração.

O que importa então para o prazer sexual?

Por todos os fatores supracitados, conseguimos concluir que o tamanho do pénis não tem, de facto, de ser um fator decisivo para uma experiência sexual satisfatória e para obter ou proporcionar prazer.

Os genitais não determinam as práticas sexuais nem o nível de satisfação. O que é que podemos então considerar que impacta verdadeiramente o prazer e a satisfação sexual? São os seguintes fatores:

  • Comunicação entre parceiros, onde se possa ter em conta o que cada um prefere, o que gosta ou não gosta, de que forma prefere ser estimulado, o que dá mais prazer e de que forma, etc;
  • Diversidade de práticas sexuais e não haver um foco exclusivo na penetração;
  • Ter uma atitude positiva face ao sexo e desfrutar do mesmo com liberdade, honrando vontades, fantasias e desejos;
  • Sentir-se confortável com o próprio corpo;
  • Apostar em diferentes tipos de estimulação – diferentes zonas do corpo, diferentes práticas, diferentes posições…;
  • Estar recetivo e disponível para o/a parceiro/a, para perceber o que lhe dá mais prazer, compreendendo que todas as pessoas são diferentes, que o que resulta com umas não resultará com outras, e que uma experiência sexual satisfatória é aquela que é feita pelas pessoas envolvidas em igual medida;
  • Estar confortável e disponível para o momento, pois a presença de emoções positivas e a ausência de ansiedade contribui para o prazer;
  • Na penetração, garantir uma boa lubrificação;
  • Se for desejo de ambas as partes, usar recursos amigos do prazer, como brinquedos sexuais ou estímulos eróticos;
  • Explorar desejos e fantasias.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.