Orgasmos múltiplos: o que são e como os obter?

orgasmos multiplos

Os orgasmos múltiplos parecem ser uma espécie de Santo Graal do sexo: todos querem tê-los, todos querem saber como. Como qualquer aspeto relativo à vida sexual, precisamos primeiro de compreender para obter, ou seja, é importante compreender o que são os orgasmos múltiplos, como e de que forma ocorrem.

É esse o objetivo deste artigo, explicar de forma clara o fenómeno dos orgasmos múltiplos e ajudá-lo a encontrar esse Santo Graal!

O que são orgasmos múltiplos?

Apesar de o fenómeno dos orgasmos múltiplos ter sido já identificado em 1966 por estudos de Masters e Johnson, na realidade os orgasmos múltiplos são ainda pouco estudados em termos científicos, o que faz com que o conhecimento científico do fenómeno ainda seja algo escasso.

Os orgasmos múltiplos constituem uma série de orgasmos que a pessoa vai tendo, geralmente de forma progressiva, ou seja, cada vez mais fortes e intensos. A intensidade, quantidade e velocidade dos orgasmos varia de pessoa para pessoa. Em suma, os orgasmos múltiplos referem-se à capacidade de atingir orgasmos repetidos separados por um curto intervalo de tempo.

Pode parecer simples e fácil esta definição, no entanto é difícil descrever a experiência de orgasmos múltiplos por palavras. O que ocorre é que no momento do estado orgásmico iniciam-se uma série de ações mentais que prolongam a experiência orgásmica. Com a sustentação da energia sexual num nível elevado, o corpo inteiro vivencia a sensação do orgasmo de forma a que fluxos vibracionais pulsam várias vezes alcançando picos de prazer progressivamente mais elevados.

Os orgasmos múltiplos têm sido sobretudo associados às mulheres, uma vez que estas não estão sujeitas ao mesmo período refratário que os homens (período em que após a atividade sexual e a ejaculação não se consegue obter nova ejaculação). Também se pode verificar nas mulheres orgasmos mais prolongados e orgasmos que se mantém por um longo período de tempo. No entanto, recentemente tem sido apontada a capacidade de também os homens obterem orgasmos múltiplos ou de terem um menor período refratário.

Alguns estudos fizeram distinção entre dois tipos de orgasmos: os orgasmos múltiplos que necessitam de estimulação contínua, e orgasmos sequenciais que envolvem uma pequena pausa na estimulação para alcançar o orgasmo seguinte. Outra forma de definir orgasmos múltiplos é entendê-los como uma função de excitação constante depois de cada orgasmo que culmina novamente num orgasmo por estimulação adicional.

Expanded Sexual Response: explorar um novo conceito

Recentemente surgiu um novo conceito denominado de Expanded Sexual Response (ESR), que diz respeito à capacidade de atingir orgasmos de longa duração / prolongados / múltiplos ou sustentados, orgasmos que se mantêm por um longo período de tempo, com duração mais longa e maior intensidade.

As mulheres que atingem a ESR parecem ter mais líbido, mais fantasias eróticas, masturbam-se com mais frequência e os seus orgasmos são mais fortes e intensos. Parecem também experienciar orgasmos através da estimulação vaginal, clitoriana ou ambas em simultâneo ou separadamente. Verifica-se, nestas mulheres, uma maior consciência corporal, quer do corpo como um todo quer das zonas erógenas.

Que fatores interferem na obtenção de orgasmos múltiplos?

Alguns estudos científicos têm procurado compreender que fatores estão na base do orgasmo. Algumas das variáveis que parecem interferir com o orgasmo e, consequentemente, também com a possibilidade de obtenção de orgasmos múltiplos, são:

  • Masturbação – o facto de a pessoa explorar ou não o próprio corpo, compreendendo assim o que lhe proporciona satisfação, é importante para a capacidade de alcançar o orgasmo e de obter orgasmos múltiplos;
  • Escolaridade – parece existir uma ligação entre o nível de escolaridade e a capacidade de atingir o orgasmo, talvez devido ao facto de as pessoas com mais escolaridade terem mais conhecimentos sobre o sexo e serem menos afetadas por mitos e pensamentos limitadores sobre o mesmo;
  • Desejo sexual – para alcançar o orgasmo e conseguir obter orgasmos múltiplos o desejo sexual deve estar presente, sendo que quanto menor for o desejo sexual mais difícil será a obtenção de prazer;
  • Ansiedade – a ansiedade tem um impacto significativo no prazer sexual e consequentemente na capacidade de obter orgasmo ou orgasmos múltiplos. O facto de a pessoa ficar ansiosa durante a prática sexual limita a sua capacidade de desfrutar e obter prazer. Quanto maior a ansiedade, maior probabilidade de ocorrem problemas ao nível do orgasmo;
  • Autoimagem – verifica-se que quanto mais satisfeita a pessoa está com o seu corpo e com a sua autoimagem, maior capacidade terá de desfrutar com liberdade do ato sexual e, consequentemente, de obter prazer. Um estudo verificou que, por exemplo, mulheres mais satisfeitas com a imagem corporal apresentam mais atividade sexual, mais experiências de orgasmo e maior iniciação da atividade sexual.

De facto, a experiência subjetiva de orgasmo e também de orgasmos múltiplos parece sofrer mais a influência de fatores psicossociais do que de fatores físicos. O prazer obtido com o orgasmo e a satisfação mostram-se mais consistentemente relacionados com a experiência subjetiva de orgasmo do que com características sensoriais. Também parece existir maior satisfação com o orgasmo quando existe maior intimidade emocional após o orgasmo. Isto demonstra que não é a parte física que tem a maior responsabilidade por bons orgasmos ou pela obtenção de orgasmos múltiplos, mas sim os fatores psicológicos e afetivos.

Ao contrário dos homens, as mulheres diferem entre si quanto à capacidade de experienciar o orgasmo. Podemos encontrar mulheres que consegue experienciar orgasmos múltiplos, mas também mulheres que praticamente nunca experienciam orgasmo durante as relações sexuais. Os fatores que parecem fazer a diferença entre umas e outras são sobretudo fatores de cariz relacional e psicológico, nomeadamente o nível de desejo sexual, a autoestima sexual e a comunicação entre os parceiros. Outros fatores importantes são também a capacidade de desfrutar e estar focada no momento, iniciativa mútua e boas técnicas sexuais do parceiro.

Por outro lado, pensamentos automáticos negativos e emoções negativas podem dificultar a capacidade de obter orgasmo e também de conseguir atingir orgasmos múltiplos. Estudos demonstram que mulheres com dificuldade em atingir o orgasmo apresentam mais pensamentos de desistência, fracasso, ansiedade, passividade e controlo, bem como falta de pensamentos eróticos durante as relações sexuais.

O que pode ajudar a obter orgasmos múltiplos?

Alguns fatores podem contribuir para a obtenção de orgasmos múltiplos. Uma das coisas que parece ser especialmente importante é a exploração do próprio corpo e a exploração significativa da atividade sexual. Ou seja, quanto mais a pessoa conhecer o seu corpo e tiver abertura e disponibilidade para explorar diferentes aspetos do sexo, preferências, fantasias, desejos, etc, maior a probabilidade de poder atingir orgasmos múltiplos. É importante que a experimentação sexual seja o mais livre e o menos constrangida possível.

Por outro lado, o papel do parceiro também parece ter importância. Quanto maior o envolvimento, a intimidade e a comunicação do casal sobre a vida sexual e as preferências de ambos, mais provável será poder ter orgasmos múltiplos.

As condições emocionais antes e durante a atividade sexual também são muito importantes. Existindo emoções positivas e um adequado grau de conforto com o corpo, o parceiro e a atividade sexual, a possibilidade de atingir orgasmos múltiplos aumenta. A fantasia também é um ponto fundamental, ou seja, a presença de pensamentos eróticos.

Como obter orgasmos múltiplos?

Em primeiro lugar é importante compreender que a resposta de cada pessoa à estimulação sexual e às sensações orgásmicas é muito distinta. Cada corpo, organismo e mente funcionam de um modo distinto.

Além disso, ainda não existe conhecimento científico suficiente para podermos compreender de forma clara e exata os orgasmos múltiplos. Esta ressalva é importante para que não criemos em nós a expectativa de que deveríamos conseguir ter prazer de determinada maneira ou ter orgasmos múltiplos.

Mais importante do que atingir determinado tipo de orgasmo é estarmos satisfeitos/as com a nossa vida sexual e conectarmo-nos com o nosso corpo e com aquilo que ele sente. Pode não ser em forma de orgasmos múltiplos, mas não os conseguirmos atingir não significa necessariamente que não tenhamos satisfação sexual.

Feita esta ressalva, algumas estratégias podem ajudar a aumentar a probabilidade de conseguir obter orgasmos múltiplos:

  • Ter uma atitude positiva face ao sexo, desconstruindo mitos, receios, crenças erradas e limitadoras;
  • Desfrutar da atividade sexual com liberdade, honrando as suas vontades, fantasias e desejos sem medo nem pudor;
  • Ver o sexo como algo positivo, prazeroso e importante;
  • Se estiver numa relação, fale com o seu parceiro sobre os seus gostos e preferências, o que lhe dá mais prazer, as suas zonas erógenas, o tipo de toque que mais gosta… O sexo  não tem de ser automático e cada corpo é diferente, não assuma que o seu parceiro tem de saber aquilo que gosta;
  • Durante a relação sexual, estimular o clitóris em simultâneo com a penetração;
  • Apostar nos preliminares e em diferentes tipos de estimulação, estimulando várias áreas erógenas em simultâneo;
  • Varie também as posições sexuais para compreender aquelas que lhe proporcionam maior prazer;
  • Investir na sedução e jogos sexuais com o/a parceiro/a;
  • Experimentar diferentes aromas, texturas e estímulos sensoriais no ato sexual, estimulando todos os sentidos;
  • Experimentar brinquedos sexuais que promovem diferentes tipos de estimulação, bem como géis, cremes ou lubrificantes com diferentes propósitos;
  • Para as mulheres, fazer exercícios de Kegel pode ajudar a desenvolver os músculos vaginais o que pode também auxiliar no orgasmo e na obtenção de orgasmos múltiplos;
  • Aposto no mindfulness durante o sexo. O mindfulness é uma técnica mental derivada da meditação que nos permite estarmos completamente focados no momento presente. Assim, ao incorporar o mindfulness na prática sexual, conseguirá estar conectado/a com o seu corpo e todas as suas sensações. Assim, durante a relação sexual, procure levar o foco da sua atenção para os sentidos, concentrando-se exclusivamente no plano sensorial: no cheiro da pele do/a seu/sua parceiro/a, no toque na sua pele, no beijo lente e consciente… Respire profundamente e conecte-se com a respiração ao mesmo tempo que apura os sentidos. Foque-se primeiro na respiração percebendo a temperatura e o movimento do ar quando inspira e expira, bem como no movimento do tórax e abdómen a expandir. Depois, ancorado/a na respiração, procure apreciar cada uma das sensações presentes no seu corpo através dos cinco sentidos. Procure ignorar questões como “será que ele/ela está a gostar?” e permita-se só a fluir com a respiração e com as sensações de cada parte do seu corpo;
  • Invista na intimidade e procure iniciar o sexo de uma forma diferente, começando por dedicar-se, com calma e tempo, ao toque, explore cada uma das partes do corpo do/a seu/sua parceiro/a, sinta, toque, beije… Olhe nos olhos, explorem-se completamente, sincronizem a respiração, beijem-se com intimidade crescente… Não há roteiro, o importante é desfrutar plenamente e sem pressas ou constrangimentos do momento de intimidade.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.