Todas as pessoas têm dias em que se sentem particularmente sensíveis e em que qualquer estímulo pode provocar uma explosão de sentimentos e reações. Isto é algo normal, tanto que ocorre com todos os seres humanos pelo menos uma vez na vida.
No entanto, existem indivíduos que vivem constantemente nesta montanha russa de emoções e todos os dias podem apresentar alterações significativas no seu humor, passando da extrema felicidade à mais profunda depressão numa questão de meros segundos. Isto já não é normal.
As pessoas que passam pela situação acima referida sofrem do transtorno de personalidade borderline, uma doença capaz de provocar sofrimento tanto aos seus portadores, como a quem com eles convive.
O transtorno de personalidade borderline requer atenção e cuidados específicos, e por essa razão decidimos escrever este artigo como forma de ajudá-lo a compreender melhor esta doença, que é para muitos ainda desconhecida.
O que é o transtorno de personalidade borderline?
Borderline ou transtorno de personalidade limítrofe é um transtorno de personalidade que causa instabilidade emocional e impulsividade aos seus portadores, sendo mais frequente nas mulheres.
O indivíduo que sofre de borderline vive constantemente numa verdadeira montanha russa de sentimentos, podendo sofrer alterações de humor extremas numa questão de segundos. Devido à sua instabilidade e imprevisibilidade emocional, o portador do transtorno de personalidade borderline corre o risco de experienciar distorção da autoimagem, comportamentos autodestrutivos, como a automutilação e pensamentos suicidas.
O transtorno de personalidade borderline também apresenta um padrão específico nas relações interpessoais, fazendo com que se crie expectativas desproporcionais face à realidade. Por exemplo, uma pessoa que sofre deste transtorno pode acabar de conhecer alguém e no minuto seguinte começar a planear filhos e casamento – algo extremo e sem qualquer fundamento.
Além disso, por viver a vida intensamente, o portador pode colocar-se frequentemente em situações de risco. Estes são apenas alguns exemplos que permitem explicar o quão instável, e muitas vezes incompreensível, a pessoa que sofre deste transtorno é.
É evidente que cada caso é diferente e a gravidade da doença varia de pessoa para pessoa, mas essencialmente, este é um transtorno grave que causa muitos inconvenientes na vida dos seus portadores, principalmente porque pode levá-los a tomar determinadas decisões que os coloquem em risco.
Quais as causas do transtorno de personalidade borderline?
Não existe um único fator que cause o transtorno borderline. Trata-se sim de um conjunto de fatores de risco que possibilitam o desenvolvimento da patologia, entre os quais:
- Fator familiar: É mais comum desenvolver-se o transtorno caso este já tenha ocorrido na família do portador, principalmente em parentes de primeiro grau.
- Fator fisiológico: Algumas alterações neurológicas estão associadas a falhas no controlo dos impulsos e alterações de humor, o que pode acabar por resultar no desenvolvimento do transtorno borderline.
- Fator ambiental: Abuso físico ou sexual e negligência na infância são traumas que podem causar vários transtornos de personalidade, inclusive o borderline.
Quais os sintomas do transtorno de personalidade borderline?
Existem alguns sintomas ou traços que são predominantes no comportamento do portador de borderline. Estes comportamentos ou sentimentos podem desencadear-se face a situações simples e banais como uma alteração de planos ou rejeição. Os portadores deste transtorno não sabem lidar muito bem com as suas próprias emoções, tendo frequentemente reações impulsivas, explosivas e certamente injustificadas, tanto que as pessoas do outro lado, os não portadores, não conseguem compreender tais reações e comportamentos.
Uma pessoa que sofre de transtorno de personalidade borderline pode experienciar os seguintes sintomas:
- Esforços desesperados para evitar o abandono real ou imaginado;
- Padrão de relacionamentos interpessoais intensos e instáveis;
- Perturbação da identidade, com instabilidade da perceção sobre si mesmo;
- Impulsividade;
- Recorrente comportamento suicida ou auto mutilante;
- Instabilidade afetiva;
- Sensação constante de um vazio;
- Raiva intensa e difícil de ser controlada;
- Idealização paranoica em momentos de stresse.
Existe tratamento para o transtorno de personalidade borderline?
O transtorno de personalidade borderline não tem cura, mas os sintomas tendem a ficar mais leves e menos frequentes com o passar dos anos. A maioria dos portadores de borderline apresenta maior estabilidade emocional e afetiva entre os 30 e 50 anos de idade.
No entanto, ao identificar os sintomas do transtorno borderline, o indivíduo deve procurar ajuda profissional qualificada para confirmar o diagnóstico. Ao constatar que se trata realmente do transtorno de personalidade borderline, o tratamento psicológico e psiquiátrico deve ser imediatamente iniciado, a fim de amenizar os sintomas borderline e proporcionar maior qualidade de vida para o paciente e para quem o rodeia. Aqui ficam os dois métodos de tratamento mais recorrentes:
1. Psicoterapia
A psicoterapia ajudará o paciente a controlar melhor os seus impulsos e a compreender o seu comportamento. Por exemplo, este tratamento permite que o doente se foque nos pensamentos e desejos que possui, analisando-os numa tentativa de os compreender, e muitas vezes reverter. Ao recorrer à psicoterapia, o doente aprende a lidar com questões como suicídio, automutilação, imagem pessoal, deceções, crises, entre outras coisas. Por outras, este é um tratamento de extrema importância, que pode mesmo salvar vidas.
2. Terapia familiar
Este é também um método eficaz para ajudar a amenizar os impactos da doença. O portador do transtorno de borderline possui dificuldade em estabelecer fortes e saudáveis relações emocionais com outras pessoas, incluindo a sua família. Como já referido esta é uma doença que afeta não só o portador como as pessoas que o rodeiam.
Por um lado, há famílias que não conseguem lidar com as reações e comportamentos associados à doença e decidem afastar-se da pessoa em causa. Por outro lado, há famílias que se tornam demasiado protetoras e não conseguem viver descansadas, pensando obcessivamente nesta doença e nos seus efeitos. Desta forma, a terapia familiar pode ser um bom aliado para melhorar estas relações e garantir que o doente, e as famílias, recebem o apoio correto.
Conviver com a personalidade borderline
A convivência com um portador desta doença pode ser desafiante, já que este tende a possuir comportamentos muito intensos e considerados injustificáveis ou incompreensíveis por várias pessoas. No entanto, existem ferramentas que podem facilitar a convivência e preparar familiares e pessoas próximas para lidarem com um portador de borderline:
- Aprenda a lidar com a instabilidade emocional do borderline, recorrendo, por exemplo, à terapia familiar.
- Não encare como um ataque pessoal os episódios característicos de um portador de borderline.
- Tente trazer a sua compaixão ao de cima e lembre-se de que se trata de uma doença e o portador em causa é apenas uma vítima.
- Tenha sempre à mão o número de telefone dos profissionais responsáveis pelo tratamento do portador, pois pode ser necessária ajuda especializada para controlar as crises típicas do doente.
- O indivíduo que sofre de transtorno de personalidade borderline precisa de uma rede de apoio que o acolha e conforte, por isso mostre-se sempre disponível para o ouvir, acalmar e aconselhar.
- Tal como se passa com outros transtornos de personalidade, o paciente com borderline nem sempre percebe que sofre de uma patologia, por isso é de fundamental importância que as pessoas à sua volta identifiquem comportamentos de risco e incentivem a procura por ajuda.
Concluindo, o transtorno de personalidade borderline é algo sério e capaz de trazer consequências graves tanto na vida do doente como na dos seus familiares e amigos. Desta forma, é de extrema importância compreender este transtorno, principalmente os seus sintomas.
Se conhece alguém que sofre desta doença, aconselhe-o(a) a procurar ajuda profissional, algo que pode realmente ajudar, e lembre-se de mostrar paciência e compaixão pela pessoa em causa. Os comportamentos de um portador de borderline podem ser extremos e inconvenientes, mas são apenas uma reflexão desta doença.
Esperamos ter ajudado a compreender melhor este tema!