A intolerância à lactose é um distúrbio digestivo muito comum entre os adultos. Estima-se que cerca de 70% da população mundial sofra com este distúrbio. Segundo a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia (SPG), cerca de um terço dos portugueses têm alguma forma de intolerância à lactose.
Trata-se de um distúrbio que afeta sobretudo adultos, não sendo comum em crianças com menos de 2 anos de idade, já que os níveis de lactase (enzima que converte a lactose) neste período da vida estão no máximo.
Neste artigo abordamos a intolerância à lactose, procurando responder às perguntas mais comuns sobre este distúrbio digestivo, nomeadamente em que consiste, quais os principais sintomas e os possíveis tratamento.
O que é intolerância à lactose?
Antes de mais, é importante entender o que é a lactose. Trata-se do açúcar que está naturalmente presente no leite e nos seus derivados, como são exemplo o queijo, a manteiga e os iogurtes.
Cada um destes produtos possui uma concentração diferente de lactose na sua composição, sendo o leite de vaca in natura o alimento com a maior concentração de lactose, e os queijos mais duros, aqueles que têm uma menor concentração.
Alimento | Lactose por cada 100 g do alimento |
---|---|
Leite de vaca | 4,7 a 4,8 g |
Leite de cabra | 4,5 g |
Gelado | 6,4 g |
Iogurte | 3 a 4 g |
Manteiga | 0,5 g |
Queijo | 0,3 a 3 g |
A intolerância à lactose acontece, quando o indivíduo apresenta baixos níveis de lactase no organismo, sendo esta a enzima responsável por quebrar as moléculas de açúcar do leite (lactose), antes de chegarem ao intestino.
Em virtude dos baixos níveis de lactase, a lactose acumula-se no intestino, causando a fermentação dos açúcares por bactérias. Isso aumenta a retenção de líquidos, sendo a pessoa afetada por cólicas e diarréia.
Qual a diferença entre alergia ao leite e intolerância à lactose?
Além da intolerância à lactose, algumas pessoas podem apresentar alergia ao leite. Embora a generalidade das pessoas pense que se trata da mesma coisa, não é o caso.
Na alergia ao leite, ocorre uma reação imunológica às proteínas do leite, causada pela ingestão deste alimento e/ou dos seus derivados. O mais habitual é desenvolver uma alergia ao leite de vaca, que pode causar problemas no intestino, na pele e até do foro respiratório (tosse e bronquite, por exemplo).
Já a intolerância à lactose, é uma disfunção do sistema digestivo causada pela reduzida ou nenhuma produção de lactase no intestino. Pode causar gases e diarreia, dependendo da quantidade de leite e derivados consumidos.
É possível desenvolver intolerância à lactose?
Sim. A intolerância à lactose é um distúrbio digestivo que pode nascer com as pessoas ou desenvolver-se ao longo da vida:
- Deficiência primária: trata-se da forma mais conhecida de intolerância à lactose, é causada por uma redução natural na produção de lactase a partir da adolescência até a idade adulta.
- Deficiência secundária: o problema é causado como consequência de outras doenças, como a síndrome do intestino irritável, diarreia, doença de Crohn, doença celíaca (intolerância ao glúten) ou alergia à proteína do leite. Neste caso, a intolerância à lactose é temporária, desaparecendo assim após o tratamentos das outras efermeridades.
- Deficiência congénita: uma forma rara, porém crónica, de intolerância à lactose. A criança nasce com um problema genético na produção de lactase.
Fatores de risco para a intolerância à lactose
Como já referido, uma grande parte da população mundial padece deste distúrbio digestivo, não obstante, existem alguns fatores que poderão potenciar o seu surgimento. Destaque para:
- Idade: à medida que a idade vai passando, a produção de lactase pelo organismo vai diminuindo. Por este motivo a intolerância à lactose é mais provável desenvolver-se na idade adulta do que em criança.
- Nascimento prematuro: bebés nascidos prematuramente podem apresentar intolerância ao açúcar do leite, dado que a produção de lactase, dá-se a partir do terceiro trimestre de gestação.
- Doenças intestinais: como já abordamos neste artigo, algumas doenças que atingem o intestino delgado podem causar intolerância temporária à lactose.
- Fatores genéticos: há crianças que podem nascer com um problema genético que afeta a produção de lactase pelo organismo.
- Tratamento contra o cancro: pessoas que passam por tratamentos de radioterapia, têm maior probabilidade de desenvolverem complicações intestinais, como por exemplo intolerância à lactose.
Como é diagnosticada a intolerância à lactose?
Regra geral, o diagnóstico para a intolerância ao açúcar do leite inicia-se com análises clínicas, onde o médico avalia vários fatores, como por exemplo:há quanto tempo é que o paciente apresenta sintomas, o seu histórico clínico e a intensidade das dores e náuseas.
Porém, é necessário aprofundar a analíse para ter certeza de que se trata de intolerância à lactose e não de outro problema. Assim, são recomendados exames específicos, como por exemplo:
- Teste de intolerância à lactose: neste exame são feitas duas colheitas de sangue. Uma em jejum e a outra após a ingestão de leite. Caso não se verifiquem alterações nos níveis de glicemia na segunda amostra de sangue, à partida é porque o paciente sofre de intolerância à lactose, dado não ter havido uma absorção do açúcar do leite pelo organismo.
- Teste de hidrogénio na respiração: neste exame, após o paciente ingerir uma grande quantidade de leite, é-lhe solicitado que ele sopre num equipamento que mede a quantidade de hidrogénio na expiração (semelhante a um alcoolímetro). Quando é detetada uma grande quantidade de hidrogénio neste exame, significa que a pessoa é intolerante à lactose, dado ser expectável que a fermentação do açúcar do leite no intestino aumente o nível de hidrogénio na expiração.
- Teste de acidez nas fezes: com a fermentação do açúcar do leite no intestino, há a grande produção de ácido lático, que é detectado neste exame, definindo assim, que a pessoa é intolerante à lactose.
Quais os sintomas da intolerância à lactose?
São inúmeros os sintomas da intolerância à lactose. Não obstante nem todas as pessoas apresentarão os mesmos sintomas de intolerância, podendo estes depender de acordo com vários fatores, nomeadamente da quantidade de lactose ingerida.
Os sintomas costumam aparecer em pouco minutos (ou horas) após a ingestão de leite ou dos seus derivados (queijos, iogurtes, manteiga, requeijão, leite condensado ou creme de leite), assim como em alimentos elaborados a partir deste.
Os sintomas mais comuns são:
- Cólicas;
- Distensão abdominal;
- Diarreia;
- Excesso de gases;
- Náuseas;
- Ardor anal;
- Assaduras.
Os dois últimos sintomas aparecem devido a fezes ácidas. Alguns estudos apontam para que as crianças com intolerância à lactose possam sofrer perda de peso ou até atrasos no crescimento.
Tratamento para a intolerância à lactose
A intolerância à lactose é uma deficiência na produção da enzima que digere o açúcar do leite, podendo ser controlada com uma dieta ou medicamentos (sempre prescritos por um médico).
Inicialmente é solicitado ao paciente que retire totalmente o leite e os seus derivados da sua alimentação. Após o desaparecimento dos sintomas, o médico poderá inserir gradualmente o leite na dieta, analisando qual a “quantidade adequada”, para que não apareçam novamente sintomas.
Esta providência é necessária para manter a oferta de cálcio ao organismo, importante na manutenção da nossa estrutura óssea. Também é possível introduzir suplementação de lactase na alimentação, assim como leites modificados com baixo teor de lactose.
Como “viver” com a intolerância à lactose?
As pessoas intolerantes à lactose, devem ser orientadas no sentido de controlar a ingestão de leite. Hoje em dia, existem no mercado inúmeros produtos que podem cumprir uma das funções do leite – “injetar” cálcio no organismo.
Acresce que existem alguns cuidados que podem ser adotados no seu dia a dia:
- Além de prestar atenção aos rótulos dos alimentos, é importante verificar as bulas dos medicamentos, dado que alguns deles usam leite na sua composição;
- Existem opções como leite de soja, de arroz e de aveia que não contêm lactose;
- É possível suplementar cálcio através da ingestão de verduras (folhas verdes escuras), como brócolos, couves, espinafres, agrião, entre outras;
- Existem outros alimentos com alto teor de cálcio como por exemplo o tofu, o salmão, a sardinha, o marisco, as amêndoas, as nozes e os ovos. Como também alguns temperos como manjericão, oregãos, salsa e alecrim.
Esperamos que este artigo lhe tenha ajudado a compreender os principais aspetos da intolerância à lactose. Por fim, referir que este artigo não substitui o necessário aconselhamento médico.