O que é o coaching e como funciona?

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O coaching é uma prática que se tem tornado particularmente visível nos últimos tempos. Vemos divulgados diversos serviços de coaching que nos prometem melhorias significativas em diversos campos da nossa vida.

Além disso, encontramos muitas vezes múltiplos tipos de coaching: vocacional, nutricional, life coaching, etc. Por tudo isto, é natural que seja confuso compreender o que é o coaching e quais as suas indicações, utilidade e eficácia.

Em que consiste o coaching?

O coaching psicológico consiste numa relação de ajuda, assente em teorias e modelos psicológicos oriundos das correntes humanista, cognitivo-comportamental e da psicologia positiva. É um processo que promove a reflexão e a autodescoberta, recorrendo a uma metodologia de questionamento e de incentivo que contribui para a libertação do potencial do coachee (ou cliente).

O coaching pode ser entendido como a aplicação sistemática da ciência comportamental à melhoria da experiência de vida, do desempenho no trabalho e do bem-estar dos indivíduos, grupos e organizações, que não apresentam problemas de saúde mental clinicamente significativos ou níveis muito elevados de sofrimento.

O principal objetivo de um processo de coaching é a produção de mudanças (atitudes e comportamentos), a curto-prazo, por parte do cliente. A partir da criação de uma relação de confiança e empatia entre o coach e o cliente – essencial no coaching – são estabelecidas metas e objetivos iniciais, que depois são colocados em prática através de planos de ação. Imaginemos por exemplo uma pessoa que tem dificuldades nos seus relacionamentos amorosos, repetindo sempre os mesmos padrões.

Numa fase inicial o coach ajuda o cliente a compreender estes padrões, depois são definidos em conjunto objetivos e elaborado um plano de ação, a partir do qual serão trabalhadas crenças, pensamentos, comportamentos e hábitos com vista à obtenção dos objetivos definidos. O grande objetivo do coaching é, no fundo, realizar um percurso entra a realidade atual do cliente e o estado desejado.

No coaching o foco é na solução e não no problema. Por isso, o psicólogo que realiza um processo de coaching terá de se abstrair da análise de problemas, traumas ou conflitos do passado e focar-se na facilitação de soluções a curto-prazo, que aportem sentido e valor para o seu cliente.

Como funciona o coaching?

Numa fase inicial e após a avaliação de necessidades, são estabelecidas metas e colocados em prática planos de ação, sendo o papel do coach o de favorecer uma dinâmica de transformação pessoal no cliente, ajudando-o a realizar um percurso entre a sua realidade atual e o estado desejado.

Numa relação de coaching, não é o coach que estabelece os objetivos que o cliente deve atingir, nem é o coach que ensina ou define os padrões do que está certo ou errado. O coach facilita a tomada de consciência, a identificação de potencial, a obtenção ou reforço da autoestima, a definição de objetivos, a elaboração e monitorização de planos de ação para a melhoria do cliente.

Se pensarmos na palavra “coach” em inglês esta pode remeter para “treinador” ou “carruagem”. Utilizando esta metáfora, uma carruagem transporta uma pessoa de um lugar para o outro. É o passageiro que, de forma voluntária, nela entra, escolhendo o destino que pretende alcançar. O processo desenvolve-se sempre focado nos “destinos” pessoais e profissionais do cliente.

Importa também ressalvar que compete ao coach fornecer conhecimento, apoiar sem julgar, manter sigilo, ser confiável, ser comprometido com o processo e agir com responsabilidade – “princípios do coaching”.

Um processo standard de coaching envolve 12 sessões quinzenais, o que constitui um acompanhamento do psicólogo-coach durante cerca de 6 meses, o tempo mínimo para sustentar mudanças ocorridas. Cada sessão de coaching é composta pelo acompanhamento e feedback das ações combinadas na sessão anterior e pela proposta relativa ao que será trabalho pelo coach e pelo cliente na sessão atual.

Assim, as etapas de uma sessão de coaching são:

  • Proposta da sessão: a análise da execução das tarefas fornece contribuições para identificar o tema a ser trabalhado durante a sessão. Esse tema deve estar de acordo com os objetivos do cliente e constituir mais um passo para atingi-los. O coach também pode elaborar um plano geral para utilizar como guia na definição dos temas a serem trabalhados, dando sempre prioridade às necessidades do cliente que podem surgir durante as sessões;
  • Desenvolvimento da sessão: o coach seleciona e aplica as técnicas e ferramentas mais adequadas para trabalhar o tema proposto;
  • Aprendizagens: o coach confere o que o cliente aprendeu, com o objetivo de o tornar consciente da sua própria aprendizagem e de como a aplicar na sua vida diária, o que contribui para a melhoria contínua;
  • Tarefas: é combinada a tarefa para a próxima sessão e o cliente compromete-se a envolver-se na ação proposta. A execução da tarefa será relatada na sessão seguinte, reiniciando-se o ciclo. Neste momento, o coach também trabalha a responsabilização, a motivação e o envolvimento no processo.

De uma forma geral o processo de coaching pretende ajudar o cliente a:

  • Identificar e avaliar obstáculos e problemas existentes na sua vida atual, ajudando-o a conhecer-se melhor;
  • Criar objetivos realistas e relevantes para a sua vida;
  • Traçar um plano de ação, através de diferentes alternativas, e apoiá-lo na sua implementação;
  • Avaliar o resultado final e perspetivar o futuro.

Quais os benefícios do coaching?

O coaching, se levado a cabo por um profissional devidamente qualificado e se existir um adequado envolvimento do cliente no processo, pode trazer benefícios diversos:

  • Aumento da realização e da satisfação pessoal e profissional;
  • Melhoria da qualidade de vida;
  • Melhor capacidade de gestão do tempo e do stress;
  • Maior equilíbrio entre as diferentes áreas da vida;
  • Aumento da disposição e nível de energia;
  • Relacionamentos mais saudáveis, produtivos e comunicação mais eficaz;
  • Maior capacidade de resolver conflitos;
  • Elevação da autoestima e autoconfiança;
  • Melhoria do desempenho (académico, desportivo, profissional);
  • Aumento da responsabilidade pessoal pela mudança;
  • Inteligência emocional mais desenvolvida (ou seja, maior capacidade para compreender e gerir as emoções, automotivar-se, ter empatia pelos outros e reagir de forma adequada às emoções, próprias e de terceiros);
  • Maior capacidade de motivação, organização e autodisciplina;
  • Alinhamento dos objetivos pessoais e profissionais com os valores e crenças pessoais;
  • Aumento da criatividade;
  • Maior capacidade de resolução de problemas;
  • Modificação de hábitos pouco saudáveis ou pouco produtivos.

Quem pode ser coach?

Existe alguma polémica em torno das qualificações necessárias para ser coach, ou de que profissionais podem levar a cabo um processo de coaching. Isto porque o coaching acabou por ser uma prática não regulada, o que faz com que acabe por ser levado a cabo por pessoas com qualificações diversas e, frequentemente, nem sempre as mais apropriadas. É natural que a população em geral nem sempre esteja bem informada sobre o que constitui uma qualificação válida e confiável e, por isso, pode ser facilmente confundida pela validade das pretensas competências de alguns coaches.

De uma forma geral, o coaching situa-se na interseção da psicologia clínica, do desporto, organizacional e da saúde. Qualquer uma destas formações de base preparam o psicólogo para trabalhar com os clientes recorrendo a técnicas científicas válidas para os ajudar a atingir os seus objetivos pessoais e profissionais.

Por isso, o coaching deve ser realizado mediante a aplicação sistemática da ciência comportamental baseada em evidências, assim como uma abordagem holística. Isto significa que o coach deve ter formação em psicologia para exercer a atividade de coaching. Só compreendendo os princípios psicológicos subjacente ao funcionamento e desempenho humano o coaching será eficaz. Um coach não psicólogo reduz o coaching a uma técnica, menosprezando o seu verdadeiro potencial e benefício para o cliente.

Em suma, é à psicologia que compete estudar, compreender, avaliar e modificar o comportamento humano. Ainda que o coaching possa não ser um campo profissional exclusivo dos psicólogos, os psicólogos são a referência principal, uma vez que o conhecimento científico da psicologia é o pilar do coaching.

Além disso, a realização do coaching por profissionais sem formação de base em psicologia acarreta um outro problema – a inexistência de uma ordem profissional, de um código de ética e, enfim, de mecanismos que garantam a boa prática profissional. Não existindo estes mecanismos, o cliente não tem como garantir que a intervenção (coaching) levada a cabo é fidedigna, nem tem onde se informar ou eventualmente queixar. A psicologia é uma profissão reconhecida, com qualificações académicas e uma formação bem estabelecida e rigorosa, um código de ética exigente e uma ordem capaz de regular a profissão, assim como um conselho jurisdicional, que zela pela proteção dos utentes.

De forma simplista, sempre que o coach trabalha em temas que requerem um desenvolvimento cognitivo e emocional significativo, então o coaching deve ser realizado por psicólogos.

É importante também ressalvar que a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) criou a especialidade de coaching psicológico, que garante uma especialização adequada dos psicólogos que exercem esta prática profissional. 

Onde pode ser realizado o coaching?

O coaching pode ser realizado em contextos diversos, desde que por um profissional devidamente qualificado. Pode ser levado a cabo em contexto de prática privada (consultórios, por exemplo) ou em contextos organizacionais, como empresas ou clubes desportivos.

Assim, o coach pode ser interno (quando é membro de uma organização e o seu papel é fazer coaching a pessoas que dela fazem parte, como trabalhadores ou atletas) ou externo (quando é exterior à organização).

Qual a diferença entre coaching e psicoterapia?

Enquanto que na psicoterapia se pretende atender a problemáticas diversas, aprofundando as suas causas e as emoções, pensamentos e comportamentos associados, no coaching o foco está no presente e na solução, não no problema ou nas suas causas.

O coaching não é especificamente indicado para o tratamento de perturbações ou de sintomatologia clinicamente significativa, mas sim para promover competências importantes e ajudar o cliente a atingir o seu potencial em diversas áreas de vida. Por isso, se o cliente tiver problemas clínicos, o coaching não é indicado, devendo primeiro passar pela intervenção necessária à resolução do problema clínico, só depois podendo integrar um processo de coaching.

Que tipos de coaching existem?

Existem diversas áreas de atuação do coaching, designadamente:

  • Área empresarial – também conhecido como “coaching executivo”, procura desenvolver competências e operar mudanças comportamentais dentro de organizações e empresas. O coach pode trabalhar com os funcionários, mas também com elementos da chefia ou gestores, promovendo competências diversas tais como liderança, comunicação eficaz, motivação, entre outras.
  • Área da saúde – neste caso são trabalhadas questões como a gestão do stress, higiene do sono, alimentação, equilíbrio trabalho-família… Importa mais uma vez ressalvar que se a questão for clinicamente significativa não deve ser abordada num processo de coaching. Por exemplo, se a pessoa tiver efetivamente uma perturbação do sono, deve haver primeiramente uma intervenção por parte de um profissional de saúde.
  • Área da educação / vocacional – neste âmbito o coach trabalha com alunos e/ou professores, com o objetivo de melhorar e promover o processo de aprendizagem. Podem ser trabalhadas competências como a gestão do stress, a motivação, etc. Existe também neste domínio o coaching vocacional ou de carreira, que tem por objetivo promover o desenvolvimento e ajustamento do indivíduo ao contexto profissional de forma satisfatória e adequada às suas necessidades.
  • Área do desporto – o coaching é amplamente utilizado no desporto, sendo que o coach acompanha atletas ajudando-os a atingir níveis mais elevados de performance e desempenho, trabalhando para isso diversos fatores como a motivação, a concentração / foco, a definição de objetivos, a mudança de crenças e pensamentos negativos, etc.
  • Área do desenvolvimento pessoal – mais abrangente, pode inserir-se nesta área o life coaching. Este tipo de coaching tem como principal objetivo auxiliar o indivíduo na transformação de um ou mais domínios da sua vida – relacionamentos, imagem corporal e autoestima, parentalidade, etc.

Quem deve recorrer ao coaching?

Pode recorrer ao coaching qualquer pessoa que pretenda investir no seu desenvolvimento pessoal e operar mudanças e melhorias em uma ou mais áreas da sua vida. É importante ter em conta alguns critérios para que a pessoa verifique se efetivamente beneficiará de um processo de coaching:

  • Os problemas que o levam a recorrer ao coaching não devem ser clinicamente significativos, ou seja, não se deve tratar de uma perturbação clínica (como ansiedade ou depressão) e não deve ter sintomas que causem sofrimento significativo e/ou interfiram na sua funcionalidade e no seu quotidiano;
  • Deve estar aberto e disponível a conhecer-se melhor e ter motivação para operar mudanças práticas e concretas na sua vida e no seu quotidiano.

O coaching pode ser indicado para diferentes objetivos, tais como:

  • Melhorar os padrões relacionais;
  • Melhorar a produtividade e o desempenho a nível profissional, académico, desportivo;
  • Promover a autoestima e a autoconfiança;
  • Promover a capacidade de liderança;
  • Adotar padrões de comunicação mais eficazes;
  • Diminuir o stress e promover o bem-estar global
  • Adotar estratégias de gestão do tempo e de organização mais eficazes;
  • Desenvolver competências socioemocionais;
  • Planear a carreira profissional (eleger o percurso mais adequado, obter informações acerca dos vários percursos possíveis, delinear um plano de ação…);
  • Tomar decisões associadas à carreira ou ao percurso profissional;
  • Melhorar o desempenho (desportivo, académico, profissional) através do desenvolvimento de competências de concentração, foco, motivação, resistência à frustração…;
  • Conseguir um maior equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional;
  • Adaptar-se eficazmente a diversas transições de vida (ex: transição para a reforma, casamento, mudança de país, mudança de área profissional…).

Quero fazer coaching: o que devo fazer?

Se, após compreender melhor o que é o coaching e as suas diversas aplicações, considera que o coaching é uma metodologia adequada para si e que beneficiará com ela, poderá procurar um coach. Pode procurar por recomendações ou então através de serviços ou entidades a que já recorra na sua vida diária: pode por exemplo questionar a sua empresa sobre coaches e possível encaminhamento, ou até mesmo noutros serviços da comunidade. Se for pesquisar um profissional de coaching, tenha em conta as suas qualificações e analise o percurso profissional do coach em questão.

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.