A diabetes tipo 2, também conhecida informalmente como a “diabetes dos adultos”, é uma doença crónica mais comum na idade adulta. Está relacionada a um estilo de vida menos saudável, ao excesso de peso corporal e ao sedentarismo; todavia, pode surgir também nos mais jovens, uma tendência que tem vindo a crescer em todo o mundo.
Em Portugal, assim como em outros países, trata-se do tipo de diabetes com maior incidência, por isso é considerado um problema de saúde público. Segundo dados do Observatório Nacional da Diabetes (OND), a prevalência da doença entre os adultos portugueses (dos 25 aos 79 anos) é de 13%, ou seja, afeta mais de 1 milhão de pessoas no nosso país.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas que convivem com a diabetes tipo 2 no mundo é de aproximadamente 425 milhões. É sabido também que a doença é a principal causa de insuficiência renal, cegueira, acidente vascular cerebral (AVC), ataque de coração e amputação dos membros inferiores. Ainda segundo estimativas da OMS, cerca de 1,6 milhões de mortes tiveram como causa a diabetes 2, número que assusta e nos dá uma real dimensão da letalidade desta doença.
O que é a diabetes tipo 2?
A diabetes tipo 2 é uma doença crónica que afeta a maneira como o corpo metaboliza a glicose, a nossa principal fonte de energia. Isso acontece porque a pessoa acometida pela doença tem uma resistência, nomeadamente, insulinorresistência, aos efeitos da insulina (hormona que regula a entrada de açúcar nas células) ou não produz insulina suficiente para manter a glicose num nível considerado normal. O problema é tão sério que, quando não tratado, pode levar o indivíduo à morte.
Qual a importância da insulina?
A insulina é essencial para o metabolismo dos açúcares, gorduras e proteínas. Graças à insulina é possível que a glicose (açúcar) penetre nas células e seja utilizada como fonte de energia para o corpo.
Todavia, a diabetes tipo 2, em razão da insulinorresistência, não permite que a glicose entre nas células; desta forma, permanece na corrente sanguínea, provocando uma situação conhecida por hiperglicemia (níveis elevados de glicose no sangue).
É importante referir que, ao contrário das pessoas com diabetes tipo 1, os portadores da diabetes tipo 2 produzem insulina; contudo, o corpo pode criar uma resistência à hormona, não respondendo da forma como deveria à ação da insulina. Há ainda casos em que a pessoa não produz insulina suficiente para atender às demandas do seu corpo.
Quais as causas e fatores de risco?
A diabetes tipo 2 não possui uma causa única. Alguns estudos comprovaram que algumas variações genéticas facilitam o desenvolvimento da doença, contudo, não podem ser apontadas como fator determinante.
De acordo com a Associação Protetora dos Diabéticos em Portugal (APDP), entre as causas prováveis do surgimento da diabetes tipo 2 está o estilo de vida marcado por uma rotina sedentária e por hábitos alimentares pouco saudáveis, fatores que contribuem de sobremaneira para o surgimento da patologia.
Além desses fatores, existem outros associados à ocorrência da diabetes tipo 2:
- Tabagismo: fumadores têm um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2;
- Qualidade e quantidade de horas de sono: estes são fatores relevantes para o surgimento do diabetes, por isso são considerados preditivos para o risco da doença;
- Sedentarismo: pessoas sedentárias têm um risco até 30% superior de desenvolver a diabetes tipo 2 quando comparadas com aquelas que praticam atividade física moderada;
- Predisposição genética: a hereditariedade é outro fator relacionado ao desenvolvimento da diabetes tipo 2, todavia, somente se manifesta quando os hábitos da pessoa contribuem para a criação desse quadro clínico;
- Obesidade ou excesso de peso corporal;
- Mulheres que tenham tido diabetes gestacional ou bebés com peso superior a 4 kg;
- Pessoas com síndrome metabólica (conjunto de problemas que incluem hipertensão, triglicéridos e colesterol elevados, com níveis de colesterol LDL (“colesterol mau”) elevados e de colesterol HDL (“colesterol bom”) baixos;
- Pessoas idosas;
- Uso de medicamentos, nomeadamente corticosteróides.
Quais os sintomas da diabetes tipo 2?
Pessoas com diabetes tipo 2 não costumam apresentar sintomas no início, permanecendo assintomáticas por muitos anos. Não obstante, quando se manifestam, os sintomas podem passar por:
- Infeções frequentes. Alguns exemplos são bexiga, rins, pele e infeções de pele;
- Feridas que demoram a cicatrizar;
- Alteração visual (visão embaçada);
- Formigueiro nos pés e furúnculos;
- Vontade de urinar um número anormal de vezes;
- Comichão, especialmente na zona genital;
- Emagrecimento sem causa aparente;
- Fome frequente;
- Sede constante.
Na presença desses sintomas, é fundamental que procure ajuda médica para que o profissional realize uma investigação para a diabetes tipo 2.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico da diabetes tipo 2 pode ser realizado através de 3 exames. A saber:
- Glicemia de jejum: exame que mede o nível de açúcar no sangue naquele momento, servindo para monitorização do tratamento da doença. Os valores de referência ficam entre 65 a 99 miligramas por decilitro de sangue (mg/dL).
- Hemoglobina glicada: este exame mostra uma média das concentrações de hemoglobina no sangue nos últimos meses. Os valores da hemoglobina glicada indicarão se a pessoa está ou não com hiperglicemia.
- Curva glicêmica: consegue medir a velocidade com que o corpo absorve a glicose após sua ingestão.
Os exames acima citados devem ser realizados periodicamente, bem como um check-up médico. O cuidado é indispensável, visto que pode identificar a tempo a diabetes tipo 2, doença silenciosa, e traiçoeira, cujos sintomas demoram para aparecer.
Qual a estratégia de tratamento?
Como já referido, é essencial que sejam realizados exames regulares, pois só assim será possível identificar a diabetes tipo 2 e iniciar um tratamento precoce. Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor será o prognóstico da doença, bem como o seu impacto a longo prazo.
O tratamento mais apropriado, assim como as medidas complementares, deverá ser indicado por um médico especialista. Como em outros tipos de diabetes, o objetivo primordial é manter os níveis de açúcar no sangue dentro dos parâmetros aconselhados, o que permitirá uma melhor qualidade de vida ao paciente, além de reduzir os riscos de complicações relacionadas à doença.
Quais os principais cuidados a ter?
Entre os principais cuidados a adotar a ter estão:
- Praticar exercício físico: é essencial para a manutenção dos níveis de açúcar dentro dos parâmetros tidos como aceitáveis. Contudo, apenas o médico poderá indicar quais são as melhores opções de atividade física e frequência, visto que alguns exercícios, sobretudo para pacientes com glicemia muito elevada, podem acarretar libertação de hormonas contrarreguladoras, o que pode aumentar ainda mais a glicemia.
- Controlar a dieta: os açúcares presentes nos doces e hidratos de carbono simples, como as massas e o pão, devem ser evitados, pois possuem um índice glicêmico elevado. A dieta do portador de diabetes tipo 2 deve ser equilibrada, priorizando o consumo de frutas e vegetais e cortando os excessos de gordura.
- Verificar a glicemia: algumas pessoas precisam de fazer medições constantes de insulina, inclusive diariamente. Essa medição é feita através de um medidor de glicemia, aparelho que mede a concentração exata de glicose no sangue. Este cuidado ajuda a identificar as altas e baixas taxas de glicose no sangue antes que acarretem problemas para a saúde do paciente.
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas: não é proibido consumir bebidas alcoólicas, contudo, o portador da diabetes tipo 2 deve ter em mente que esse consumo precisa de ser moderado e sempre acompanhado de alimentação, visto que o consumo isolado da bebida pode causar hipoglicemia. A hipoglicemia tem como efeitos tremores pelo corpo, enjoo, fome excessiva, dores de cabeça e irritação.
- Cuidar da saúde oral: fazer a higiene oral depois das refeições é fundamental para os portadores da diabetes tipo 2. O cuidado deve ser redobrado porque o sangue do paciente possui uma alta concentração de glicose, o que proporciona o desenvolvimento e proliferação de bactérias.
Lembre-se: a diabetes tipo 2 não tem cura, por isso, o tratamento deve ser contínuo, ao longo da vida. Embora a condição não possa ser totalmente combatida, é possível que o paciente tenha qualidade de vida, sobretudo quando acompanhado por um médico e adotando hábitos mais saudáveis na sua rotina. Cuide-se!