Obesidade: o que é, causas, fatores de risco e tratamento

obesidade

Sabia que, em boa parte do planeta a obesidade já ultrapassou o tabagismo sendo hoje a principal responsável por muitas doenças que levam à morte? Estima-se que atualmente, em todo o mundo, 600 milhões de pessoas sejam afetadas pela obesidade, problema que vai muito além de questões estéticas e dos padrões de beleza.

De acordo com relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (ODCE), Portugal destaca-se precisamente na obesidade, constando como 4.º, ao lado da Finlândia, na lista de países que apresentam a maior taxa de população com excesso de peso quando comparado com a média da OCDE. O documento revela ainda que, 67,6% da população portuguesa acima dos 15 anos tem excesso de peso ou é obesa. Entre as crianças dos 5 aos 9 anos, a prevalência é de 37,1%, o que nos coloca na 9.ª posição do ranking mundial.

O estudo chegou à conclusão de que as taxas de obesidade têm aumentado nas últimas décadas em quase todos os países da OCDE, fato que mostra a necessidade urgente de combater este mal que provoca tantas outras doenças, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, apneia do sono, problemas no fígado, para citar alguns exemplos.

Felizmente, muitas doenças crónicas, como a obesidade, são evitáveis, sobretudo se houver uma mudança significativa no estilo de vida da pessoa obesa. Se sofre de obesidade ou conhece alguém que esteja a enfrentar o problema, então acreditamos que a leitura deste artigo poderá esclarecer algumas das suas dúvidas acerca deste tema tão relevante.

O que é a obesidade?

A obesidade é uma doença crónica, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “a acumulação anormal ou excessiva de gordura no corpo, capaz de causar alteração funcional, estrutural ou até mesmo comportamental, que prejudica a saúde de crianças, adolescentes e adultos”.

Ao contrário do que muitos pensam, a obesidade não é provocada apenas por maus hábitos alimentares ou pelo sedentarismo; a obesidade é também decorrente de fatores genéticos, hormonais, metabólicos e psicológicos. Juntos ou isoladamente, esses fatores podem interferir no equilíbrio energético do organismo, isto é, o saldo da quantidade de calorias que ingerimos versus a energia que o corpo consome ao longo do dia.

Quando o balanço energético é positivo, ou seja, quando gastamos menos calorias do que ingerimos, essas calorias são armazenadas em forma de gordura corporal, que a longo prazo pode levar qualquer pessoa ao excesso de peso ou mesmo à obesidade.

Quais os tipos de obesidade?

A obesidade é classificada de acordo com as seguintes características:

Origem

  • Endógena: neste tipo, a obesidade é decorrente de questões genéticas, endócrinas (em razão de alterações hormonais) ou pelo uso de medicamentos.
  • Exógena: a obesidade exógena é causada por um estilo de vida inadequado (sedentarismo, má alimentação) ou por fatores psicológicos.

Crescimento do tecido adiposo

  • Hiperplásico: Observa-se um aumento no número de células adiposas. Por natureza, o indivíduo com este tipo de obesidade já possui mais células de gordura no corpo, característica que dificulta o tratamento, visto que uma célula gordurosa apenas poderá ser reduzida, mas jamais eliminada.
  • Hipertrófico: Ocorre o aumento do tamanho das células de gorduras já existentes.

Morbidade

De acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), a obesidade pode ser considerada leve, moderada ou grave. Embora o IMC seja a forma mais simples e acessível de saber se o peso está ou não adequado, é fundamental referir que o cálculo é bastante subjetivo, por isso, nem sempre se aproxima da realidade.

Para que se chegue a um resultado satisfatório, o IMC deve ser associado a outros métodos subjetivos para identificar a composição corporal, entre os quais a relação cintura-quadril; a circunferência da cintura; o índice de conicidade; e a circunferência do pescoço. Além desses métodos, a pessoa pode recorrer também a exames de análises clínicas, como a bioimpedância e a análise de dobras cutâneas, que são mais fiáveis.

Quais os fatores de risco da obesidade?

Regra geral, a obesidade é resultado de uma combinação de causas e fatores, nomeadamente:

  • Fatores genéticos: os genes de uma pessoa podem afetar a quantidade de gordura corporal armazenada, bem os locais do corpo pelos quais a gordura é distribuída. Além disso, a genética pode influenciar a maneira como o corpo converte alimentos em energia e como o corpo queima calorias durante as atividades físicas.
  • Influência psicológica: uma boa parte dos obesos possuem compulsão alimentar, um transtorno psicológico que leva à ingestão anormal de alimentos num curto período de tempo. Ademais, a depressão, a ansiedade, as perturbações da imagem corporal e a impulsividade estão associadas ao aumento da gordura corporal.
  • Alterações hormonais: as pessoas obesas apresentam uma resistência ou falha no mecanismo da ação da leptina, a hormona responsável por inibir o apetite e aumentar o gasto calórico periférico.
  • Estilo de vida familiar: Se os pais são obesos, as probabilidades de os filhos também virem a sofrer com a doença são grandes. Isto acontece porque os membros de uma família costumam compartilhar hábitos alimentares, ou seja, consomem os mesmos alimentos e fazem as mesmas refeições (que na maioria das vezes não são saudáveis).
  • Sedentarismo: já é sabido que o sedentarismo está entre os fatores de risco para a obesidade. Uma pessoa inativa não gasta as calorias que ingere, o que fatalmente provocará o desequilíbrio do balanço energético.
  • Dieta inadequada: por dieta inadequada entende-se uma dieta rica em calorias e carente de vegetais e frutas.
  • Problemas médicos: por vezes a obesidade está relacionada com a problemas médicos como a síndrome de Prader-Willi, a síndrome de Cushing, entre outras condições patológicas. Ademais, problemas como a artrite podem causar uma diminuição da atividade e, consequentemente, aumento do peso corporal.
  • Uso de medicamentos: alguns fármacos podem levar ao ganho de peso, sobretudo se o indivíduo não fizer a compensação por meio de dieta equilibrada e atividades físicas. Entre esses fármacos estão alguns antidepressivos, anticonvulsivos, medicamentos para a diabetes, medicamentos antipsicóticos, esteroides e betabloqueadores.
  • Grupo etário: Embora a obesidade possa acontecer em qualquer idade, costuma ser mais frequente durante a fase adulta e entre os idosos, em grande medida decorrente de mudanças hormonais e de um estilo de vida sedentário, apenas para citar alguns exemplos. Além disso, com o passar do tempo, a quantidade de músculos do corpo tende a diminuir, o que leva a um abrandamento do metabolismo.
  • Gravidez: durante a gestação é normal que o peso da mulher aumente, todavia, muitas não conseguem perder o peso após a gravidez, o que contribuirá para o desenvolvimento da obesidade entre o sexo feminino.
  • Deixar de fumar: muitas pessoas ganham peso assim que param de fumar; não obstante, parar de fumar pode ser considerado um benefício maior para sua saúde do que manter o vício, obviamente.
  • Problemas de sono: as pessoas que não dormem bem costumam apresentar alterações hormonais que incidem no aumento do apetite. Geralmente, sentem necessidade de consumir alimentos ricos em calorias e hidratos de carbono, o que certamente levará ao aumento do peso.
  • Substâncias químicas: entre as substâncias químicas capazes de exercer um efeito semelhante ao das hormonas presentes em nosso organismo estão os desreguladores endócrinos (DE) ou disruptores endócrino. Algumas pesquisas apontam para a existência de uma relação entre essas substâncias e a obesidade e ganho de peso.
  • Lembre-se: mesmo que apresente alguns desse fatores, isto não significa, necessariamente, que está condenado a ser obeso. Uma boa parte dos fatores de risco acima mencionados podem ser evitados através da adoção de hábitos de vida saudáveis, como uma dieta equilibrada, a prática de exercício físico regular e alterações dos comportamentos que possam contribuir para o aumento do peso.

Quais as doenças associadas à obesidade?

O excesso de peso e a obesidade aumentam o risco de outras complicações para a saúde. Entre as principais doenças associadas à obesidade estão:

  • Diabetes;
  • Esteatose-hepática não alcoólica;
  • Síndrome metabólica;
  • Colesterol alto;
  • Doenças do coração;
  • Complicações pulmonares;
  • Problemas musculoesqueléticos;
  • Cancro.

Como tratar a obesidade?

Não é tarefa fácil “livrar-se” da obesidade, em grande medida porque este problema de saúde possui causas diversas, o que exige um tratamento multidisciplinar, elaborado por uma equipa de médicos e outros profissionais da saúde, como nutricionistas, psicólogos e educadores físicos. A perda de peso exige bastante concentração do paciente, que deve colaborar para que o processo de reeducação, seja ela alimentar ou de hábitos (ou de ambos) dê bons resultados.

Para perder peso o paciente deve ter, em primeiro lugar, vontade de emagrecer; depois, precisa estar psicologicamente e emocionalmente preparado para começar o processo, disposto a enfrentar todas as dificuldades e mudanças que encontrará pela frente. É fundamental referir que a obesidade é uma doença crónica, ou seja, não tem cura. Uma vez que a pessoa desenvolve a condição, precisará de a controlar durante toda a vida.

Como prevenir a obesidade?

Quando a obesidade não é decorrente de questões genéticas, alguns hábitos podem prevenir a doença. A saber:

  1. Adequação do consumo energético: isto é, consumir um número de calorias que esteja de acordo com o gasto calórico;
  2. Incluir atividades físicas no dia a dia: Atualmente, cerca de 80% da população portuguesa é sedentária, estilo de vida que contribui para o ganho de peso e, consequentemente, para o aumento do número de obesos no país. Não obstante, quando a prática de atividades físicas é incluída na rotina, o risco do ganho de peso diminui consideravelmente. Escolha uma modalidade que gosta, pois isso deixá-lo-á sempre motivado a realizá-la.
  3. Tenha uma alimentação adequada: evite consumir alimentos industrializados, processados ou ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura trans e hidratos de carbono simples, pois estes alimentos contribuem para a acumulação de gordura corporal. Aposte em ingredientes que dão saciedade, como alimentos que possuem um maior teor de gordura, proteína e fibras; estes podem fazer com que coma menos nas refeições. Entre esses alimentos estão: abacate, coco fresco, iogurte natural, ovo, castanhas e frutas com farelo de aveia, apenas para citar alguns exemplos. Além disso, fique atento ao tamanho das porções que ingere, bem como à frequência do consumo alimentar. Evite ficar longos períodos sem se alimentar, hábito que colabora para o ganho de peso.

Ser magro e ter barriga também é mau sinal!

O excesso de gordura não faz mal apenas aos obesos: pessoas aparentemente magras, mas que possuem muita gordura na região abdominal, também apresentam risco de desenvolver doenças cardiovasculares, pressão e colesterol altos, diabetes e outros problemas. A chamada “gordura da barriga” acumula-se entre os órgãos e vísceras, o que prejudica o funcionamento de partes vitais do corpo, como o fígado e o estômago. Por isso, gordo ou magro, é fundamental que fique atento à sua saúde e ao seu bem-estar. Cuide-se!

Luana Castro Alves

Licenciada em Letras e Pedagogia, redatora e revisora, entusiasta do universo da literatura, sempre à procura das palavras. "Não se pode escrever nada com indiferença." (Simone de Beauvoir)