Não gosto do meu trabalho: e agora?

não gosto do meu emprego

O trabalho ocupa uma grande parte do nosso tempo e da nossa vida. Quando é fonte de satisfação pode preencher-nos de sentido, no entanto, quando é insatisfatório, coloca-nos numa situação de mal-estar e mina a nossa felicidade. Passar 8h por dia infeliz é demasiado tempo de infelicidade. Por isso, quando não gostamos do nosso trabalho e este nos deixa infelizes, é necessário agir.

Quais as razões que podem fazer com que não goste do meu trabalho?

Os nossos gostos e interesses são altamente variáveis e pessoais. Todos somos diferentes e gostamos de coisas diferentes. O mesmo se aplica ao trabalho: não existem características universais num emprego que o tornam apelativo e agradável, tudo dependerá da pessoa que o desempenha. Existem no entanto alguns fatores que podem estar na origem da insatisfação:

  • Sobrecarga e excesso de trabalho;
  • Tarefas muito repetitivas e padronizadas;
  • Mau ambiente e relações negativas no trabalho;
  • Ausência de perspetivas de progressão de carreira;
  • Insatisfação com o salário;
  • Sensação de que não obtém nada ou obtém pouco em retorno do seu trabalho;
  • Sensação de pouca utilidade;
  • Falta de autonomia e controlo sobre o seu trabalho;
  • Discrepância entre os seus gostos e interesses e o trabalho que desempenha;
  • Trabalho num ambiente que o desagrada (por exemplo, trabalhar num ambiente fechado);
  • Horários pouco estruturados;
  • Falta de comunicação dentro da empresa / organização;
  • Sensação de que é coagido ou obrigado a desempenhar determinadas tarefas;
  • Falta de competências ou pouca preparação para o desempenho das funções, fazendo emergir um medo de falhar ou errar;
  • Excesso de responsabilidade.

Mais vale prevenir do que remediar: escolha bem o seu trabalho

Para evitar chegar ao ponto em que o seu trabalho o desagrada e não tem motivação para o fazer, a prevenção passará por eleger de forma ponderada o trabalho que vai realizar. Sabemos que nem sempre temos uma total liberdade de escolha, porque existem motivações económicas e necessidades que têm de ser preenchidas. Nem sempre podemos fazer aquilo que mais gostaríamos. No entanto, mesmo que não possa escolher o trabalho dos seus sonhos, pode escolher um que melhor se encaixe nas suas características. Para isso é importante que faça um bom planeamento vocacional ao escolher um curso ou escolher uma área profissional. Algumas dicas que deve seguir:

  • Pense no tipo e natureza das tarefas que mais o agradam fazer. Se não gosta de tarefas repetitivas, provavelmente sentir-se-á insatisfeito em trabalhar numa fábrica. Gosta de variedade, de coisas diferentes e do contacto com pessoas? Eleja profissões que envolvam atendimento ao público.
  • Pense no tipo de ambiente em que prefere trabalhar. Para si é impensável estar fechado 8h dentro de um escritório? Então provavelmente deve tentar evitar trabalhos que envolvam este tipo de contextos, e preferir outros onde tenha maior liberdade de movimentos ou trabalhe num contexto mais aberto e arejado, ou onde se possa movimentar.
  • Pense no horário que prefere fazer. Tem filhos e para si é impensável trabalhar ao fim-de-semana? Não consegue trabalhar de noite e reage mal ao trabalho por turnos? Precisa de conseguir planear bem o seu quotidiano usufruindo de um horário fixo? Ou, pelo contrário, prefere um horário que vai variando? Tenha em conta todas estas questões quando realiza a procura de trabalho.
  • Pense no rendimento mínimo que pretende auferir. Certamente tem despesas fixas a que necessita de dar resposta, por isso, deve ter em conta o rendimento que pode obter do trabalho para que depois não viva numa situação de insuficiência económica.
  • Pense nas suas capacidades e competências. Escolher um trabalho para o qual não se sente preparado para fazer ou, pelo contrário, que se encontra muito abaixo das suas qualificações, será motivo de frustração. Por isso, tente encontrar um emprego que se situe relativamente dentro daquilo que é capaz de fazer, ainda que possa ter algum grau de desafio.

Estratégias para aumentar a sua motivação

Se já se encontra num emprego de que não gosta, e vê a sua motivação reduzida ao mínimo, mas não pondera ainda abandonar esse emprego, existem pequenas coisas que pode fazer para incrementar a sua motivação e satisfação.

estratégias para aumentar a sua motivação

Avalie os aspetos que o desagradam no trabalho

Quando não gostamos do que fazemos temos tendência a generalizar e achar que tudo no nosso trabalho nos desagrada. No entanto, é muito provável que isso não seja totalmente verdade. Haverá aspetos específicos que estarão na origem dessa insatisfação e, para conseguir geri-los, é necessário que primeiro os identifique. Por isso, analise de forma o mais completa e pormenorizada possível o seu trabalho e elabore uma lista dos aspetos que estão na origem da sua insatisfação: tem a ver com as tarefas que faz? Com o ambiente de trabalho? Verifique se os aspetos negativos são coisas que podem ser alteradas e procure fazer o necessário para que essa alteração aconteça.

Expresse as suas emoções e desagrados em relação ao trabalho

Reprimir emoções aumenta sempre o nosso mal-estar. Se está insatisfeito com o que faz, é importante que expresse essas emoções e converse sobre a situação. Mas evite fazê-lo no trabalho. Desabafe com os seus amigos mais próximos ou família, converse com alguém que lhe possa oferecer uma perspetiva distinta ou que simplesmente o ouça. Converse com pessoas numa situação semelhante à sua ou que já passaram pelo mesmo problema, ou até pesquise informação que o ajude a compreender aquilo que está a vivenciar.

Não leve o trabalho para casa e a casa para o trabalho

Muitas vezes aumentamos o nosso stress e insatisfação com o trabalho, porque o levamos para casa ou trazemos os nossos problemas pessoais para o trabalho. Nem sempre a insatisfação reside unicamente no nosso ambiente laboral. Devemos procurar minimizar o nosso nível de stress e os problemas que minam o nosso bem-estar. Tente resolver os problemas que o preocupam no momento, e não os leve para o local de trabalho. Por outro lado, evite levar trabalho para casa e não deixe que as tarefas laborais interfiram no seu ambiente pessoal, familiar e no seu tempo de lazer. Faça uma boa gestão do tempo e organize-se da melhor forma possível.

Por outro lado, tente não deixar que um mau dia no trabalho estrague o seu dia por completo. Faça a separação: permita-se a sentir o stress na hora de trabalhar, mas relaxe quando chega a casa. Aproveite o seu tempo livre de igual forma e invista em atividades que lhe dão prazer.

Se se sente incapaz de o fazer e se está infeliz constantemente, deve também ponderar a possibilidade de não ser unicamente no trabalho que reside o problema, e procurar ajuda profissional.

Os hobbies são muito importantes

É apaixonado por artesanato mas não o pode desempenhar enquanto atividade profissional? Faça-o como hobby. O trabalho não é tudo e se, fora dele, temos coisas que nos preenchem e nos dão satisfação, aumentaremos a nossa capacidade de resiliência e o nosso bem-estar. Dedique algum tempo do seu dia a coisas de que realmente gosta, e não prescinda desse tempo. Nesse período, desligue-se dos assuntos relacionados com o trabalho e divirta-se!

Tente ver o copo meio cheio

A forma como pensamos e olhamos para a realidade tem muito mais impacto do que a realidade em si mesma. É difícil e requer prática, mas podemos treinar e modificar os nossos pensamentos. Quando se sente menos bem ou nota uma alteração no seu estado de espírito, pergunte a si próprio “o que estou a pensar? O que me está a passar pela cabeça neste momento?”. Depois, analise esse pensamento e verifique se é a forma mais saudável de pensar. Por exemplo, se está a pensar “vou ter outra vez de aturar clientes chatos e impertinentes”, olhe para esse pensamento de uma forma racional: serão todos os clientes impertinentes? Não haverá clientes simpáticos e agradáveis? Não adivinho o futuro, por isso, não sei que tipo de clientes aparecerão nesse dia, portanto faz sentido estar a prever o pior?

Faça este exercício com os seus pensamentos e tente modificá-los de uma forma positiva. Foque-se o mais possível nos aspetos positivos e use-os como o fio condutor que lhe permitirá sentir maior satisfação naquilo que faz.

Encontre os aspetos positivos no seu trabalho

Nem tudo é completamente bom nem mau. Em vez de ver as coisas a preto e branco, olhe para as áreas cinzentas, para as nuances. Quando nos sentimos desagradados é natural que tenhamos tendência a ver apenas as coisas negativas. No entanto, existem certamente aspetos positivos.

Faça um exercício: coloque-se numa posição de fora, imaginando que é um investigador que vai analisar as características do trabalho. Investigue tudo aquilo que faz durante o dia, as suas tarefas e responsabilidades, e crie duas colunas: uma para aspetos menos positivos e outra para aspetos mais positivos. Por exemplo, tem o dia muito ocupado e isso cansa-o, no entanto ao realizar tarefas diversas o tempo passa mais rápido e é mais preenchido; por vezes lida com clientes difíceis, mas lida com pessoas diferentes e um dia nunca é igual ao outro; não gosta de ter que passar tanto tempo ao computador, mas sente satisfação na realização de algumas das tarefas; não gosta do seu patrão mas dá-se bem com os seus colegas de equipa.

Analise e veja os aspetos positivos e, depois, durante o seu dia, foque-se o mais possível nesses aspetos e retire satisfação e prazer deles. Além disso, foque-se no objetivo principal e no motivo pela qual iniciou esse trabalho.

Faça um planeamento e perspetive a sua carreira

É fundamental ter um plano para a sua vida profissional, bem como objetivos definidos a curto e longo prazo. Neste momento pode precisar deste emprego, mas não pretende dar continuidade a longo prazo. Então, defina um plano: quanto tempo tenho de permanecer neste trabalho? O que diz o meu contrato? O que posso fazer depois e que competências este trabalho me acrescenta?

Comece a planear o que pretende fazer a seguir, e implemente algumas estratégias para o conseguir. Se fora do emprego consegue usufruir de algum tempo livre, porque não começar a frequentar algum curso ou formação na área em que realmente quer trabalhar? Tem a possibilidade de passar para part-time enquanto investe na sua mudança de carreira?

Por outro lado, também pode existir a possibilidade de mudar de função ou departamento sem ter de abandonar a empresa onde trabalha. Se for esse o caso, procure informação sobre como o pode fazer e, depois, quando se sentir mais seguro, fale com o seu superior.

Em suma, planeie, pense no futuro, defina objetivos e comece a realizar pequenas ações para a sua concretização. Isso irá dar-lhe maior motivação no dia-a-dia, diminuindo a insatisfação.

Dê sempre o seu melhor

Por mais que não gostemos do nosso trabalho, quando fazemos alguma coisa bem obtemos automaticamente uma sensação de bem-estar e satisfação. Pense por exemplo numa tarefa que não gosta particularmente de fazer, como cozinhar. Ainda que não adore cozinhar, quando consegue fazer um prato saboroso que toda a gente elogia, sente-se bem, certo?

Adote a mesma lógica no trabalho. É normal que quando não gostamos de uma coisa tendemos a sentir-nos pouco motivados para a fazer bem. No entanto, não caia nesse erro e pense que um trabalho bem-feito irá trazer-lhe reconhecimento, bem como, ainda que por pouco tempo, satisfação. Além disso, pense que no dia em que abandone esse emprego, terá um feedback e uma recomendação positiva que lhe poderão abrir oportunidades.

Faça pausas e relaxe durante o trabalho

Enfrentar um dia de stress e insatisfação é muito difícil. Por isso, para diminuir os níveis de stress, é fundamental que planeie e faça pausas e aproveite ao máximo essas pausas. Não perca tempo, nesses períodos, a queixar-se sobre o seu trabalho ou a rever as coisas negativas. Afaste-se do ambiente que origina o stress – não almoce em frente ao computador! Traz o seu almoço para o trabalho? Se puder, leve o almoço para um parque, para estar num ambiente diferente.

Aproveite as pausas para relaxar, respirar fundo, dar uma volta, tomar um café, conversar com um amigo ao telefone. Faça alguma coisa que lhe permita uns pequenos momentos de prazer e que liberte a tensão e o stress.

Tente variar o mais possível as tarefas

Normalmente sentimos maior insatisfação com tarefas repetitivas, sobretudo se forem tarefas que não gostamos de fazer. Por isso, se for possível, tente criar maior variedade no seu trabalho e vá alternando tarefas. Por exemplo, se não gosta de redigir relatórios, em vez de passar todo o dia a fazer relatórios, vá alternando a sua realização com outra tarefa (por exemplo, fazer telefonemas, organizar documentos). Faça um planeamento para que isso não prejudique a sua produtividade. Por exemplo, a cada dois relatórios que realizar, intercale com outra tarefa, e assim sucessivamente.

Se tem a possibilidade de relegar tarefas ou pedir ajuda a colegas, aproveite-a. Planeie bem o seu dia e deixe as tarefas que gosta menos para períodos em que está menos cansado e mais motivado (por exemplo, de manhã).

Encontre utilidade no trabalho

A motivação é o motivo que temos para agir. A nossa vontade de fazer as coisas depende de qual o objetivo com que as fazemos. Por isso, deve pensar na utilidade e motivo do seu trabalho para se sentir mais motivado. Pense no propósito do que faz e na importância do seu trabalho. Não importa se é médico ou emprego de mesa. Todos os trabalhos têm uma utilidade e contribuem para a vida de outras pessoas e para o funcionamento da sociedade.

Seja pró-ativo e comunique

Costuma-se dizer que se não dizemos o que nos desagrada não podemos esperar que nada mude. Não assuma que os aspetos menos positivos do seu trabalho são inalteráveis. Comunique de uma forma assertiva e positiva com os seus superiores, dê feedback sobre o trabalho e mostre-se disponível para a mudança. Se há alguma coisa de que não goste, tente propor soluções diferentes, formas diferentes de fazer o trabalho. Questione sobre alguns aspetos e a possibilidade de alteração. Se tomar a iniciativa pode criar um ambiente mais aberto e comunicativo. Não podemos assumir que as pessoas não estão dispostas a mudar, nem que os outros são capazes de adivinhar aquilo que sentimos.

Pondere a mudança de emprego

Por fim, se todas as estratégias anteriormente descritas não são suficientes, e se existe a possibilidade de mudar de emprego, faça-o. Como referido anteriormente, 8h de infelicidade por dia são demasiadas horas na nossa vida. Pense em si e no seu bem-estar e pondere a possibilidade de mudança.

Por vezes temos medo da mudança, do novo e do desconhecido. Mas se não arriscarmos podemos perder oportunidades verdadeiramente transformadoras. Assuma o risco e mude. Mais uma vez, para essa mudança é fundamental que pese os seus objetivos a curto e longo prazo, as suas competências e capacidades, as suas preferências. Pense nos motivos da sua insatisfação no atual emprego. Se não é a área em si que o desagrada, mas sim o ambiente de trabalho, não precisa de mudar totalmente de carreira, mas sim de procurar um emprego com outro tipo de ambiente.

Invista na sua formação, converse com outras pessoas na mesma situação ou em situações similares, ative a sua rede de contactos e não deixe de procura ativa emprego. E lembre-se: a vida é muito curta para só ser feliz aos fins-de-semana!

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.

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