Medicamentos para dormir: efeitos, perigos e alternativas

medicamentos para dormir

O sono é um estado absolutamente necessário para a nossa sobrevivência. É uma necessidade fisiológica que tem como funções biológicas a restauração do organismo e a conservação de energia, permitindo o nosso equilíbrio físico e emocional, sendo por isso primordial que seja compreendido e respeitado.

Deste modo, dada a indubitável importância que o sono tem para a nossa vida, quando surgem problemas e dificuldades em dormir, estas têm um grande impacto. É por isso natural que os tratamentos para os problemas do sono, nomeadamente os medicamentos para dormir, sejam um recurso frequentemente procurado.

Neste artigo pretendemos explicar melhor que medicamentos para dormir existem, quais os seus efeitos sobre o sono, quais os perigos e as alternativas existentes.

O que são perturbações do sono?

As perturbações do sono são problemas associados ao sono e que podem ser distinguidos mediante as suas características. Os problemas de sono são frequentes em diferentes fases da vida, o que faz com que exista uma necessidade muitas vezes em recorrer a medicamentos para dormir.

Podemos dividir os problemas de sono em 4 subgrupos: dissónias, parassónias, distúrbios do sono associados a doenças médico-psiquiátricas e prováveis perturbações do sono.

No que diz respeito às dissónias, caracterizam-se por transtornos primários relacionados com a iniciação ou manutenção do sono ou com a sonolência excessiva, e com os distúrbios de qualidade, quantidade ou regulação do ritmo de sono. Existem diferentes tipos de dissónias:

  • Distúrbios intrínsecos do sono: são distúrbios de etiologia orgânica, como insónias psicofisiológica e idiopática e síndrome de movimentos periódicos dos membros;
  • Distúrbios extrínsecos do sono: são desencadeados por fatores externos ao organismo e capazes de alterar o sono, como higiene do sono inadequada e insónia por alergia alimentar;
  • Distúrbios do sono relacionados com o ritmo circadiano: estão associados à hipersonolência diurna, como a síndrome da mudança rápida de fuso horário (jet lag) e o transtorno do sono devido a trabalho por turnos.

As parassónias, por outro lado, são mudanças comportamentais ou fisiológicas que acontecem em diferentes momentos do sono, podendo ser divididas em:

  • Distúrbios do despertar: envolvem alterações comportamentais associadas ao acordar, como por exemplo sonambulismo ou terror noturno;
  • Distúrbios da transição sono-vigília: envolvem alterações comportamentais durante o período de sono, como por exemplo sobressaltos e caibras noturnas;
  • Parassónias associadas com o sono REM: envolvem mudanças experienciadas durante a fase de sono REM, como pesadelos e paralisia do sono;
  • Outras parassónias: incluem as outras mudanças de sono, como por exemplo bruxismo ou parassónias sem outra especificação.

No que diz respeito aos distúrbios de sono associados a doenças médico-psiquiátricas, podem dividir-se em:

  • Distúrbios associados a doenças psiquiátricas: acontecem em pessoas com psicoses, transtornos de humor e transtornos de ansiedade, podendo verificar-se alterações na qualidade e continuidade do sono;
  • Distúrbios associados a doenças neurológicas, como as demências, doença de Parkinson, epilepsia relacionada com o sono, entre outras;
  • Distúrbios associados a doenças médicas como alterações no sistema cardiovascular, respiratório e digestivo, por exemplo isquemia cardíaca noturna, doença pulmonar obstrutiva crónica, refluxo gastroesofágico relacionado com o sono e doença do sono.

Por fim, as prováveis perturbações do sono são aquelas que englobam síndromes heterogéneas sem requisitos para definições específicas, como sono curto, sono longo, hiperidrose do sono e síndrome do engasgue no sono.

Em suma, existem diversos tipos de problemas do sono e todos eles podem interferir de forma significativa na saúde e qualidade de vida da pessoa. Como tal, os medicamentos para dormir são muitas vezes um recurso que se releva necessário.

Os problemas de sono são frequentes?

As perturbações e problemas que ocorrem ao nível do sono são muito frequentes, estimando-se que cerca de 30 a 35% da população mundial seja atingida por problemas do sono.

Em Portugal, as perturbações do sono atingem cerca de 30% da população, sendo que os mais afetados são os idosos e as mulheres, sendo por isso também neste grupo que se verifica um maior recurso a medicamentos para dormir. Assim, o aumento da idade e o sexo feminino são considerados fatores de risco para sofrer algum tipo de perturbação do sono.

Em Portugal cerca de 28,1% da população com mais de 18 anos sofre de sintomas de insónia, pelo menos três noites por semana. A insónia é de facto um dos problemas que mais gera o uso de medicamentos para dormir.

Os medicamentos para dormir são a solução?

Como vimos, os problemas do sono são muito variados e não se restringem só à insónia. No entanto, a insónia tende a ser o problema de sono mais comum. Assim, é também relativamente à insónia que mais ouvimos falar de medicamentos para dormir, e quando ouvimos que alguém recorre a medicação para dormir automaticamente pensamos em insónia. Se para alguns problemas relacionados com condições orgânicas a medicação pode ser fundamental, nem sempre será o caso.

De facto, as guidelines e recomendações médicas indicam que deve ser evitado o uso indiscriminado de medicamentos para dormir e deve existir acompanhamento por parte de um profissional de saúde e encontradas medidas alternativas para tratamento da insónia, como a terapia comportamental e outras abordagens não-sedativas.

Devemos ter em consideração que em muitos casos a insónia é causada por uma doença subjacente, como por exemplo a depressão. Neste caso, o tratamento da doença de base muitas vezes resolve o problema da insónia.

É necessário também referir que muitas pessoas acabam por se automedicar, por exemplo utilizando a anti-histamínicos sedativos ou anti-histamínicos sedativos mais analgésicos leves com o objetivo de dormir. Obviamente que utilizar medicação não prescrita e avaliada devidamente por um médico, para além de uma medicação usada com um propósito diferente daquele para o qual é designada, pode ter efeitos perigosos.

Atualmente há cada vez mais medicamentos para dormir, ou hipnóticos, disponíveis. No entanto, tal não significa que esta deve ser uma solução de primeira linha. Como vimos, o sono é uma função extremamente importante, pelo que deve ser entendida como tal. Isto implica que, sempre que existe uma perturbação de sono, esta deve ser devidamente avaliada e explorada a melhor alternativa de tratamento, que algumas vezes pode incluir medicamentos para dormir, outras vezes não.

Convém ainda acrescentar que o diagnóstico dos problemas de sono muitas vezes não passa apenas por ouvir as queixas e os relatos dos pacientes. São utilizadas técnicas de avaliação como registos do sono em laboratório, por forma a analisar detalhada e clinicamente os problemas ao nível do sono.

Quando as insónias derivam de doenças psiquiátricas, como depressão ou ansiedade, a melhor alternativa é sempre a de tratar a condição psiquiátrica subjacente à insónia, com medicamentos que são apropriados a essa condição, antes de prescrever medicamentos para dormir.

Importa ainda ressalvar que ainda não existem estudos científicos suficientes que nos permitam compreender os efeitos a longo-prazo do uso de medicamentos para dormir ou hipnóticos.

Existem alternativas aos medicamentos para dormir?

Sim. Como vimos, os medicamentos para dormir não são a única solução para as perturbações do sono. De facto, a terapia cognitivo-comportamental tem demonstrado eficácia no tratamento da insónia. As abordagens cientificamente validadas para a insónia são as seguintes:

  • Terapia de controlo dos estímulos ou higiene do sono: neste tipo de tratamento a pessoa aprende a associar o deitar-se na cama apenas com o dormir e a sair da cama quando não consegue adormecer, para evitar relacionar a cama com outras atividades e o espaço do quarto com noites de insónia desagradáveis;
  • Terapia de restrição do sono: neste tipo de terapia a pessoa reduz o tempo na cama de forma progressiva (sem poder fazer sestas diurnas), até ficar acordado cerca de 80 a 90% do tempo, quando é permitido ir para a cama;
  • Pressão positiva contínua nas vias aéreas (para pessoas com apneia do sono): consiste no paciente aprender a usar uma máscara que emite uma pressão de ar positiva, suave e constante para a faringe, evitando assim a obstrução das vias aéreas;
  • Terapia por luz brilhante: quando as pessoas dormem uma quantidade de tempo adequada, mas num horário que não é o adequado, pode ser usada terapia de exposição à caixa de luz como forma de regular novamente o ritmo de sono-vigília.

Perigosos dos medicamentos para dormir

Os medicamentos para dormir podem ser um recurso necessário, no entanto, tal como indicamos, devem ser sempre tomados com cuidado e prescritos por um médico. Um dos problemas que pode ocorrer é, se a toma não for ajustada, a pessoa poder ficar tonta, confusa e eventualmente até mais agitada.

Por outro lado, também pode acontecer que o uso de um hipnótico de ação prolongada deixe a pessoa zonza no dia seguinte e com pouca energia.

Para além disso, pode ainda acontecer que o uso do hipnótico se torne um hábito e uma prática que se prolonga por semanas ou meses. Devido a isso, quando os medicamentos para dormir são suspensos a pessoa pode ter insónia derivada da descontinuação do medicamento. Ao ter essa insónia a pessoa pode, por sua vez, voltar a recorrer ao medicamente porque quer dormir, o que gera um ciclo vicioso.

No início do tratamento com medicamentos para dormir podem ocorrer efeitos secundários como supersedação, prejuízo ao nível da coordenação, problemas de memória, confusão, diminuição da atenção ou do tempo de reação, potencial de abuso, dependência ou habituação. A toma de medicamentos para dormir pode ainda ter como efeitos adversos a sonolência, letargia e ressaca.

A retirada abrupta dos fármacos pode levar a síndrome de abstinência com sintomas por vezes graves, tais como tremores, suores, agitação psicomotora, palpitações, desorientação, náuseas e vómitos, alucinações ou convulsões. Por esta razão os medicamentos para dormir nunca devem ser interrompidos de uma forma abrupta.

Cuidados ao tomar medicamentos para dormir

Devido aos problemas que podem existir no uso dos medicamentos para dormir, as principais recomendações são:

  • Uso do medicamento por pouco tempo, de 3 a 7 dias, por exemplo;
  • Uso ocasional do medicamento quando a insónia for transitória, causada por fatores de stress da vida da pessoa ou alterações no seu ritmo diário (por exemplo, mudança de emprego, jet lag).

Obviamente que as recomendações são ajustadas e avaliadas caso a caso, considerando que existem diferentes perturbações do sono e que cada pessoa é diferente e apresenta circunstâncias clínicas e pessoais distintas.

Alguns estudos demonstram que os medicamentos para dormir melhoram o sono, mas apenas por poucas semanas, sendo que outros estudos demonstram eficácia até um ano.

Desta forma, nenhum estudo conseguiu ainda esclarecer de forma inequívoca a duração adequada do tratamento, mas sabe-se que há riscos num tratamento prolongado com medicamentos para dormir. Muitas das pessoas que usaram medicamentos para dormir há vários anos continuam a apresentar queixas de sono insatisfatório e fadiga diurna meses após suspenderem a toma do hipnótico.

Quais os medicamentos para dormir?

Os medicamentos para dormir, para serem eficazes, devem ter um efeito rápido, duradouro e não interferirem nas fases do sono, permitindo assim um sono normal. Deve evitar-se medicamentos que possam causar alterações de memória, tolerância, dependência ou alterações emocionais significativas.

Como medicamentos para dormir recorre-se frequentemente aos ansiolíticos, aos sedativos e aos hipnóticos (que podem incluir benzodiazepinas mais sedativas) ou outros hipnóticos que apresentam menor risco de dependência e tolerância. Não obstante, estes medicamentos deverão ser considerados como última opção para ajudar a dormir e devem ser evitados sempre que possível.

Dentro dos medicamentos para dormir são por vezes usados os benzodiazepínicos, cujo propósito principal é a redução da ansiedade. Têm efeito sedativo e calmante, sendo por isso usados muitas vezes para indução do sono. Alguns benzodiazepínicos, também têm efeito de relaxamento muscular, pois inibem a resposta espinal motora, diminuindo a espasticidade do músculo esquelético.

Apesar de serem por vezes usados como medicamentos para dormir, na realidade poucos benzodiazepínicos são úteis para a insónia, uma vez que diminuem a latência para dormir, aumentado a fase 2 do sono, o que resulta num sono menos restaurador. Além disso, o seu uso pode levar a dependência e a insónias transitórias quando a pessoa suspende a toma do medicamento.

Reiteramos que o uso de medicamentos pode levar a dependência e a insónias transitórias quando a pessoa suspende a toma do medicamento. Referir também que, segundo alguns especialistas, a prescrição de medicamentos para dormir pode ser eficaz como tratamento de curta duração. No entanto, deve sempre ser tido em conta que esta é uma solução a curto prazo, uma vez que não resolve o problema de origem.

Podemos ainda fazer uma breve referência aos compostos naturais vendidos em farmácia, com o objetivo de ajudar no sono, mas que não precisam de receita médica. Temos por exemplo a melatonina, que ajuda a regular o ritmo circadiano. Tomar melatonina pode ser útil em caso de alguns problemas de sono e alterações no ritmo circadiano, por exemplo associadas ao jet lag ou trabalhos por turnos.

A melatonina promove a sincronização dos ciclos, exercendo um efeito sedativo e hipnótico que promove a indução e manutenção do sono. Também por vezes os anti-histamínicos podem ser usados em situações esporádicas de dificuldades em adormecer ou em manter um sono seguido.

Em suma, se tem problemas de sono não os desvalorize, não obstante, não tome medicamentos para dormir sem indicação de um profissional de saúde, a automedicação pode acarretar riscos para a sua saúde.

Consulte sempre o seu médico!

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.