Líbido: descubra o que é e como afeta a sua vida

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A líbido diz respeito ao desejo sexual e diferentes problemas podem ocorrer a este nível, comprometendo a vida sexual e a satisfação com a mesma. Assim, compreender a líbido e os fatores que nela interferem é fundamental e importante na abordagem aos problemas do foro sexual e na promoção de uma vida sexual saudável e satisfatória.

Deste modo pretendemos, neste artigo, explorar o que é a líbido, o que pode interferir no desejo sexual, e quais as formas de promoção de uma líbido saudável e de intervenção nos problemas que lhe estão associados.

O que é a líbido?

A líbido diz respeito ao apetite ou desejo sexual. Originalmente, a etimologia da palavra é mais abrangente, e pode ser traduzida como “anseio”, dizendo assim respeito aos mais diversos desejos e necessidades, não só do âmbito sexual. No entanto, com o tempo a palavra passou a designar sobretudo o desejo e necessidade em termos sexuais.

Assim, de uma forma simples podemos considerar a líbido como o desejo, vontade ou “drive” sexual, que conduz as pessoas a se envolverem em atos de cariz sexual, com vista a satisfazer esse desejo. A líbido é assim uma experiência subjetiva de intenção, impulso ou desejo sexual, constituída por pensamentos e fantasias.

As principais regiões cerebrais envolvidas na líbido são as regiões fronto-temporal-parietal e subcortical. Estas zonas cerebrais são responsáveis pelos mecanismos de emoção, satisfação, identificação com outra pessoa, associações de memória e de representação mental. Há fatores genéticos também associados à líbido e ao desejo sexual, como por exemplo a variação na produção de determinadas hormonas e neurotransmissores, como a dopamina.

Se assim é, compreendemos que dificilmente existe vida sexual ativa e satisfatória sem líbido, pois se a pessoa não tem desejo dificilmente procurará a atividade sexual ou a obtenção de prazer – o desejo antecede o prazer. Por conseguinte, sem vida sexual satisfatória também não existe qualidade de vida de forma plena, uma vez que a própria Organização Mundial da Saúde insere a vida sexual satisfatória como um dos parâmetros da qualidade de vida, entre outros como a capacidade para trabalhar e o convívio familiar e social.

Assim, a líbido pode ser considerada um indicador chave da saúde global e também da qualidade de vida.

O que provoca uma baixa líbido?

Como vimos, a ausência de líbido ou baixa líbido está na origem de muitos dos problemas ou disfunções sexuais. Como tal, importa perceber o que faz com que a líbido diminua ou mesmo que esteja praticamente ausente. Sendo a líbido ou o desejo sexual um fenómeno tão complexo, é natural também que as causas sejam múltiplas e diversas.

Nos homens a atividade sexual depende mais de fatores físicos, pelo que muitas vezes a baixa líbido tem origem em questões orgânicas. Já nas mulheres as motivações sexuais tendem a ser mais complexas, pelo que a baixa líbido pode estar associada a questões como a intimidade, a imagem corporal e autoestima, o bem-estar, o envolvimento emocional, entre outros. Assim, no sexo feminino parece existir uma prevalência dos fatores psicológicos na líbido, sobre os físicos.

Sabemos que o cérebro é possivelmente o órgão sexual mais importante, porque é da mente que derivam os pensamentos, sentimentos e interpretação de situações associadas ao sexo e à sexualidade. Como tal, fatores psicológicos como o stress, ansiedade e pensamentos negativos estão muitas vezes na origem dos défices ao nível da líbido. O stress, por exemplo, inibe a produção hormonal ao elevar os níveis de cortisol no sangue.

Causas psicológicas dos problemas na líbido

Muitas outras causas psicológicas podem ser identificadas como estando na origem de problemas na líbido:

  • Stress e ansiedade;
  • Conflitos interpessoais ou conflitos no casal;
  • Problemas ao nível da identidade sexual;
  • Restrições sociais;
  • Problemas conjugais, como a monotonia da relação;
  • Insatisfação e stress profissional;
  • Problemas familiares;
  • Situações traumáticas como abuso sexual, verbal ou físico;
  • Problemas financeiros;
  • Doenças ou morte de ente-queridos;
  • Preocupação com questões de saúde;
  • Problemas financeiros;
  • Conflitos de identidade e problemas de autoestima.

Claro que não podemos deixar de referir causas mais imediatas, como a falta de atração, uma vez que sentirmo-nos atraídos pela pessoa com quem nos envolvemos é importante para a líbido.

Causas físicas dos problemas na líbido

A nível das causas físicas, podemos identificar diversos problemas que podem estar na origem da ausência ou défice de líbido:

  • Desequilíbrios hormonais;
  • Fadiga;
  • Problemas de sono;
  • Distúrbios da tiroide e hipófise;
  • Alguns tipos de tumores;
  • Cirrose e alcoolismo;
  • Abuso de substâncias como álcool ou drogas;
  • Tabagismo;
  • Uso de determinados fármacos;
  • Doenças genéticas hereditárias;
  • Determinadas infeções, como por exemplo a infeção urinária;
  • Doenças autoimunes;
  • Doenças cardíacas;
  • Anemia;
  • Doenças cardiovasculares;
  • Demências;
  • Lesões na medula;
  • Sedentarismo e obesidade (o baixo nível de testosterona favorece a acumulação de gordura, que por sua vez inibe a sua produção);
  • Esclerose múltipla;
  • Doenças sexualmente transmissíveis.

Nos homens as causas mais comuns parecem ser o sedentarismo e obesidade, os distúrbios hormonais como deficiência androgénica, hiperprolactinemia (quantidade de prolactina no organismo), a fadiga e stress derivadas de um volume de trabalho excessivo, o consumo de álcool ou outras substâncias, o uso de medicação, doenças como insuficiência hepática ou renal, os diabetes ou hipertensão arterial, depressão e ansiedade entre outras.

Os hábitos e o estilo de vida também têm um impacto significativo na líbido masculina, nomeadamente o consumo excessivo de pornografia, a masturbação excessiva, entre outros.

Já nas mulheres, verificam-se como causas mais comuns o aumento da idade, a gravidez, uso de contracetivos, a lactação, os distúrbios hormonais, o uso de medicação, o consumo de álcool, infeções vaginais ou urinárias, alterações na tiroide, inflamações no colo do útero e menopausa.

O papel das hormonas na líbido

As hormonas sexuais, nomeadamente, a testosterona, o estrogénio e a progesterona, têm um papel fundamental na líbido. No que diz respeito à testosterona, está diretamente ligada à excitação sexual. Apesar de ser vista como a “hormona masculina”, na realidade a testosterona também é produzida pelo orgasmo feminino, embora em menor quantidade que no homem, e contribui para a manutenção da líbido, quer no homem quer na mulher.

Uma vez que os homens têm muito mais testosterona que as mulheres, esta pode ser uma das razões pelas quais a movimentação sexual no homem parece ser mais intensa, assim como um comportamento mais agressivo, pela mais razão.

A produção da testosterona pode ser promovida pelo exercício físico regular e aumento da massa muscular. Já o consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo, inibe a produção da testosterona. Esta hormona é produzida durante o sono, daí que seja tão importante um sono consistente e regular para dar espaço e tempo ao corpo para a produção da hormona.

O consumo excessivo de refrigerantes ou de café pode restringir a circulação de sangue para a zona genital, o que afeta a produção da testosterona. Por fim, a vitamina D é importante para a produção desta hormona, pelo que a exposição solar é importante e saudável.

Já no que diz respeito ao estrogénio, é uma hormona responsável pelas mudanças hormonais femininas durante a puberdade, como por exemplo o crescimento dos seios, as formas corporais femininas e o desenvolvimento do sistema reprodutivo.

A progesterona, por sua vez, dá origem às hormonas sexuais masculinas e femininas, em homens e mulheres. Como tal, se no organismo não houver uma quantidade adequada de progesterona, a testosterona e o estrogénio não vão estar suficientemente disponíveis. Problemas de descompensação da progesterona podem levar à diminuição significativa da líbido.

Também é importante referirmos uma hormona, produzida pela hipófise, que é a prolactina, uma vez que o excesso desta hormona pode provocar diminuição da líbido e nos homens pode também provocar impotência.

A líbido e a menopausa

A menopausa diz respeito ao fim da menstruação e tende a ocorrer por volta dos 45/50 anos de idade. Geralmente faz-se acompanhar por sintomas como por exemplo ondas de calor repentinas seguidas de sensações de calafrios. O que acontece é que o corpo deixa de produzir as hormonas progesterona e estrogénio, o que provoca por sua vez a ausência da menstruação, bem como os sintomas associados:

  • alterações de humor;
  • irritabilidade;
  • ansiedade;
  • dores de cabeça;
  • acne, pele seca;
  • sensibilidade ao calor;
  • vermelhidão;
  • diminuição da mobilidade articular;
  • aumento da sensibilidade na mama;
  • cansaço, dor nas costas;
  • prisão de ventre;
  • perda de densidade óssea;
  • maior tendência para infeções vaginais e urinárias;
  • retenção de líquidos;
  • aumento da pressão arterial.

Para aliviar os sintomas associados à menopausa existem tratamentos hormonais.

Na menopausa também pode ocorrer a diminuição da lubrificação vaginal, o que pode dificultar o contacto sexual. como tal, é também possível que exista diminuição da líbido, não só por causa disto, mas também pelo mal-estar provocado pelos restantes sintomas que podem surgir. O aumento de peso e acumulação de gordura no abdómen também pode conduzir a problemas com a imagem corporal que por sua vez interferem na líbido e desejo sexual da mulher.

Além disso, socialmente a mulher sente-se muitas vezes insegura ao passar por esta fase da vida, uma vez que há uma associação cultural entre o envelhecimento e menor aprazibilidade ou atração. Esta insegurança pode interferir na capacidade de a mulher viver a sexualidade com tranquilidade e, por sua vez, interferir na sua líbido.

Como identificar problemas na líbido?

Para identificar problemas na líbido é fundamental que, quer homens quer mulheres, priorizem a sua saúde sexual e a sua vida sexual de uma forma geral, reparando no seu padrão natural de desejo e interação sexual.

Não somos todos iguais e, por isso, não existe um critério universal para quantas vezes deveríamos ter sexo ou sentir desejo sexual. Por isso, em vez de nos guiarmos por algum tipo de padrão estabelecido, devemos perceber se estamos satisfeitos com a forma como o nosso desejo sexual se manifesta, e com a presença e a forma como a líbido se manifesta.

Um problema ao nível da líbido pode ser indicado, por exemplo, pelo facto de notarmos uma alteração face ao nosso padrão normal. Isto é, se antes tínhamos mais vontade e desejo sexual, se mais frequentemente sentíamos desejo, e de repente isso se alterou, pode ser indicativo de um problema. Em suma, o critério é sempre pessoal e subjetivo.

Se, por exemplo, uma determinada pessoa quer ficar excitada, quer ter envolvimento sexual, mas não consegue, este é um sinal indicativo de potenciais problemas ao nível da líbido. Em suma, podemos identificar problemas na líbido quando há uma mudança em relação ao desejo sexual habitual da pessoa. Essa mudança geralmente é fonte de sofrimento ou de problemas na vida da pessoa, nomeadamente a nível dos relacionamentos.

Desta forma, existem alguns sinais aos quais devemos estar alertar, visto poderem indicar problemas ao nível da líbido. A saber:

  • Diminuição significativa de interesse pelo sexo e a atividade sexual;
  • Desmotivação para procurar estímulos sexuais;
  • Não ter iniciativa em atividades de cariz sexual, ou fazê-lo contra a vontade;
  • Alteração na vida sexual do casal que provoca problemas no relacionamento;
  • Estímulos que antes ativavam a líbido agora parecem não ter efeito;
  • Maior frustração e insatisfação no âmbito sexual;
  • Baixa lubrificação no caso das mulheres no ato sexual;
  • Dificuldade em sentir desejo e obter prazer, quer seja com outra pessoa quer seja sozinho/a.

A baixa líbido é um problema bastante comum e é de facto o principal motivo pelo qual as consultas de urologia e de terapia sexual são procuradas.

Como aumentar a líbido?

Quando se verifica que de facto existe ausência ou diminuição acentuada na líbido, é importante procurar ajuda médica, para conseguir identificar claramente as causas e posteriormente ter um tratamento adequado. Por exemplo, a baixa líbido pode estar a acontecer decorrente da toma de algum tipo de medicamento, e nesse caso é importante o médico fazer o ajustamento dos fármacos.

Se, por outro lado, a diminuição da líbido estiver relacionada com problemas hormonais, pode ser indicada terapia de reposição hormonal. Alguns medicamentos fitoterápicos podem ser indicados para a estimulação da líbido. Com a procura de ajuda profissional os problemas associados à líbido serão avaliados por um especialista, geralmente especializado em saúde sexual ou sexologia, sendo realizadas diferentes avaliações, como hormonal, clínica, psicológica e fisiológica.

Algumas formas naturais de promover uma melhor líbido podem passar por algumas alterações na alimentação, promovendo o consumo de alimentos que favorecem a circulação sanguínea. Alguns destes alimentos, muitas vezes designados alimentos afrodisíacos, são:

  • Ostras – fonte de zinco, mineral importante na produção de testosterona;
  • Abacate – fonte de ácido oleico que auxilia na absorção de vitaminas e na manutenção dos níveis de colesterol, sendo que a produção de hormonas sexuais é derivada do colesterol;
  • Peixes oleosos (salmão, atum, sardinha, cavala) – fonte de ómega-3, que favorece a ação das hormonas sexuais, promovendo assim a líbito;
  • Alimentos de origem animal, como ovos e carnes – fonte de colina, uma vitamina essencial na função sexual;
  • Outros alimentos como morangos, mel, canela, açúcar mascavado, romã, melancia, nozes, amendoins, chocolate, açafrão, banana.

Se, por outro lado, a ausência ou baixa líbido decorre de problemas emocionais, pode ser importante procurar ajuda de um psicólogo para trabalhar estas questões subjacentes. Se os problemas estão essencialmente na relação entre o casal, a terapia de casal pode ser a alternativa mais adequada. Na terapia serão trabalhados aspetos como: pensamentos automáticos, mitos associados à sexualidade, estratégias para promoção da intimidade no casal, técnicas para melhorar a estimulação erógena, entre outras.

Alguns exercícios físicos também podem aumentar a líbido, uma vez que promovem a produção de testosterona. Para isso são mais indicados exercícios de mais elevada intensidade, como por exemplo musculação, treino funcional ou crossfit, feitos de forma intensa e com pequenos intervalos e períodos de descanso curtos. Também alguns desportos coletivos de alta intensidade, como futebol, basquetebol ou voleibol podem ajudar a produção de testosterona. Não basta apenas fazer o exercício físico, é também importante garantir um descanso adequado e a ingestão adequada de vitaminas e minerais.

Além disso, é importante evitar dietas muito restritivas e restringir o consumo de álcool. Manter o peso é importante, uma vez que o excesso de gordura corporal pode interferir na produção da testosterona, transformando-a em estrogénio.

Existem algumas dicas práticas e mais emocionais ou comportamentais que podem ajudar no a aumentar a líbido. A saber:

  • Diminuir os níveis de stress, gerindo melhor o seu tempo e praticando diariamente exercícios de relaxamento;
  • Adotar hábitos de vida saudáveis, nomeadamente uma dieta com pouca gordura e açúcar e a restrição de consumo de tabaco, álcool ou drogas;
  • Promover a comunicação entre o casal, conversando também sobre os aspetos da vida sexual, as preferências de cada um, as dificuldades, os desejos e vontades, etc;
  • Prática regular de exercício físico;
  • Conhecer bem o corpo e aprender a dar prazer a si mesmo/a (ver artigo masturbação feminina).

Diana Pereira

Amante de histórias, gosta de as ouvir e de as contar. Tornou-se Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, pela Universidade do Porto, mas trouxe sempre consigo a escrita no percurso. Preocupada com histórias com finais menos felizes, tirou pós-graduação em Intervenção em Crise, Emergência e Catástrofe. Tornou-se também Formadora certificada, e trabalha como Psicóloga Clínica, com o objetivo de ajudar a construir histórias felizes, promovendo a saúde mental. Alimenta-se de projetos, objetivos e metas. No fundo, sonhos com um plano.